Beatriz Câmara, pediatra de profissão, começou por referir, ao DIÁRIO-Saúde, que a perturbação do espectro do autismo “é uma doença do neurodesenvolvimento de base neurobiológica, que se caracteriza essencialmente por dois sintomas principais”.

Segundo a profissional de saúde, os mesmos incidem numa alteração na interação e na comunicação social e, ainda, na presença de comportamentos, pensamentos e interesses que são restritos, repetitivos e inflexíveis.

São crianças que procuram pouco as outras crianças, os cuidadores, que têm alguma limitação na interacção social. As dificuldades apresentadas vão depender do grau de gravidade do autismo. Temos três níveis, onde o 1 são os autismos mais ligeiros e o 3 os de maior gravidade. Beatriz Câmara, pediatra

As dificuldades encontradas também vão depender da existência de comorbilidades associadas, de acordo com a pediatra com especial interesse no neurodesenvolvimento, que apontou a perturbação do desenvolvimento intelectual e a perturbação da linguagem, como alguns exemplos.

Beatriz Câmara afirmou que houve um aumento da prevalência da perturbação do espectro de autismo, adiantando que regista “uma afecção de 1 em 400 crianças, tendo sido registado, nos Estados Unidos, 1 em 63.

Acreditamos que existe uma maior sensibilização, não só para os profissionais de saúde, mas também para a comunidade escolar e, mesmo, para os pais, por um maior conhecimento dos sinais de alarme nas crianças. Também para este aumento da prevalência contribui um maior estabelecimento dos critérios de diagnóstico, que nos permite identificar mais facilmente, bem como as escalas de rastreio.

Outro factor que segundo alguns estudos pode ter algum papel no aumento desta prevalência, passa pelo "aumento da idade dos progenitores, em que existe um adiar da maternidade e paternidade para idades mais avançadas, comparativamente com os antepassados", referiu a médica.

Questionada sobre se o autismo pode ser hereditário, Beatriz Câmara não só confirmou, como explicou que muitos pais descobrem que estão dentro do espectro, após o diagnóstico dos filhos.

“Os estudos têm comprovado que o autismo tem uma hereditariedade de até 85% e, por isso, nas consultas tentamos perceber a linha genealógica até três gerações familiares, para perceber se existem outros familiares afectados com perturbação do espectro, mas também por outras patologias do neurodesenvolvimento ou do foro da saúde mental”, sublinhou.

Os irmãos de uma criança afectada com autismo, têm um risco maior de desenvolver a perturbação, explicou ainda a profissional de saúde, tendo adiantado que os estudos variam entre 4 a 14%, mas que é aceite uma taxa de 10% comparativamente a outra criança que não tenha irmãos com autismo.

“O risco é ainda maior quando a criança afectada é do sexo feminino. Portanto, sim existe uma elevada hereditariedade”, completou a médica.

Saiba que outros factores podem originar o autismo, a que sinais deve estar atento, qual é a importância de diagnosticar cedo e, a quem deve recorrer para o fazer.

A pediatra abordou ainda que mitos são muitas vezes associados a esta perturbação, na entrevista disponível no canal do DIÁRIO, no YouTube.