
O Presidente norte-americano, Donald Trump, e o magnata Elon Musk, que fez temporariamente parte do seu Governo para reduzir a despesa pública, parecem hoje cada vez mais longe de uma reconciliação, após terem-se desentendido publicamente na quinta-feira.
A rutura entre o Presidente da principal potência mundial e o homem mais rico do planeta, que cativou o mundo como um 'reality show voyeurista', pode ter pesadas consequências políticas e económicas.
Trump disse hoje que nem quer falar com Musk, depois de este ter na quinta-feira à noite escrito na sua rede social, a X, que o nome do atual Presidente dos Estados Unidos se encontra nos arquivos do criminoso sexual Jeffrey Epstein, razão pela qual estes não foram tornados públicos, e incentivado os seus seguidores a guardarem a sua mensagem, garantindo que "a verdade será conhecida".
"O Presidente não tem intenção de falar com Musk hoje", declarou um responsável da Casa Branca que solicitou o anonimato. Outra fonte indicou que foi o patrão da Tesla e da SpaceX que pediu uma chamada telefónica que Trump decidiu não atender.
"Estamos a seguir em frente", disse o diretor do orçamento da Casa Branca, Russ Vought, ao canal televisivo ultraconservador Blaze TV.
Uma repórter da estação televisiva CNN, que também falou com o governante de 78 anos, afirmou que ele lhe disse: "Nem sequer estou a pensar no Elon neste momento. Ele tem um problema. O pobre homem tem um problema".
Donald Trump fez saber, através de um alto responsável não-identificado, que poderá vender um Tesla vermelho que comprou em frente às câmaras em março, para mostrar o seu apoio à marca automóvel de Elon Musk.
Em silêncio perante os ataques incessantes de Elon Musk à sua "grande e bela lei" fiscal, que o magnata classificou como "uma abominação", - um diploma que prevê um enorme desagravamento fiscal, grandes despesas com a Defesa e cortes nas prestações sociais -, Trump pronunciou-se na quinta-feira.
Na sua rede social, Truth Social, escreveu que, na semana passada, tinha posto termo à missão governamental do empresário, que acusou de ter "enlouquecido", antes de ameaçar "cancelar os subsídios e os contratos governamentais" com o patrão da Tesla e da SpaceX.
Musk retaliou acusando de "ingratidão" o homem cuja campanha "muito generosamente" financiou e partilhando uma mensagem na X apelando para a sua destituição.
Se não fosse ele, Trump teria perdido as eleições, escreveu Musk, chegando a ameaçar "desativar a nave Dragon", o que seria um rude golpe para as operações da NASA (Agência Espacial Norte-Americana).
Depois, mudou de ideias e escreveu: "Bem, não vamos desativar a Dragon".
Entretanto, a cotação das ações da Tesla caiu em Wall Street, o que fez diminuir a fortuna ainda assim enorme do seu proprietário.
Dan Ives, analista da Wedbush, indicou que o futuro do construtor automóvel depende muito das decisões que o Governo tomará, e acredita que esta "briga de escola" vai acabar em "tréguas", sem verdadeiros vencedores nem vencidos.
Elon Musk "não se pode dar ao luxo de ter um inimigo" na Casa Branca, sublinhou o analista.
Através da SpaceX, o empresário também possui grandes contratos com o Governo federal, o que o torna vulnerável mas também lhe confere um verdadeiro poder, porque Washington lhe confiou competências sensíveis.
Trump beneficia de uma base política que não tem comparação com a do seu impopular ex-aliado, além de ter recentemente demonstrado que não hesita em acionar o Departamento de Justiça contra os seus adversários.
Para o Partido Republicano, que apoia firmemente o Presidente, a potencial perda do maior doador da história política norte-americana é uma perspetiva incómoda, a pouco mais de um ano das eleições intercalares.
O líder republicano da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, fez uma crítica a Musk na CNBC, afirmando: "Eu não digo a Elon como construir foguetões, gostava que ele não me dissesse como fazer leis". Mas acrescentou: "Espero que tudo se resolva".
Já o extremista de direita Steve Bannon, um dos principais aliados de Trump, pediu-lhe que investigasse o estatuto migratório de Elon Musk -- cidadão sul-africano naturalizado canadiano e norte-americano - defendendo a sua "deportação imediata".
"Deverão iniciar uma investigação formal sobre o seu estatuto migratório, porque acredito firmemente que ele é um migrante irregular e que deve ser deportado do país imediatamente", afirmou Bannon em declarações à comunicação social norte-americana, em plena guerra aberta entre Musk e Trump.
Bannon, que foi conselheiro de Trump durante o seu primeiro mandato (2017-2021), instou-o ainda a confiscar a empresa SpaceX, da qual Musk é diretor executivo.
"Quando Musk ameaça retirar um dos grandes programas [espaciais] da SpaceX, o que Trump deveria fazer imediatamente é assinar uma ordem executiva exigindo que a Lei de Produção de Defesa seja aplicada à SpaceX e que a SpaceX seja confiscada", acrescentou Bannon no seu 'podcast', War Room.
Depois de Steve Bannon se juntar ao diferendo ao lado de Trump, Musk não se ficou e classificou, na X, o populista como um "comunista atrasado".