
As grandes redes sociais estão a permitir - e até a lucrar com - a disseminação de desinformação sobre catástrofes naturais, "o que coloca vidas em perigo", revela o relatório de uma organização não governamental dos EUA.
O estudo, realizado peloCenter for Countering Digital Hate (CCDH), sediado em Washington, analisou 300 publicações virais com conteúdos falsos ou enganadores difundidos em quatro redes sociais durante desastres recentes, como as inundações no Texas e os incêndios na Califórnia. A conclusão foi clara: os algoritmos destas plataformas promovem conteúdos errados e suprimem informações essenciais para as populações.
“A influência de figuras conhecidas por propagar teorias da conspiração durante fenómenos meteorológicos extremos dificulta a atuação dos serviços de emergência”, afirma a ONG.
Esta interferência atrasa a divulgação de mensagens de alerta das autoridades, o que “coloca vidas em risco”.
Segundo o CCDH, no Facebook e no Instagram (ambos do grupo Meta), apenas 2% das publicações consideradas enganadoras estavam acompanhadas de verificações de factos ou de notas explicativas por parte dos utilizadores. No X (antigo Twitter), essas notas - que servem para acrescentar contexto ou corrigir informações - surgiam em apenas 1% das publicações analisadas. No YouTube, não foi encontrado qualquer tipo de contexto nos vídeos estudados.
O estudo destaca ainda que, em janeiro, as publicações de Alex Jones - uma das figuras mais conhecidas da desinformação - sobre os incêndios em Los Angeles tiveram mais visualizações na plataforma X do que o conjunto das mensagens emitidas pelos principais serviços de socorro e pelos meios de comunicação tradicionais, como o Los Angeles Times.
“A propagação rápida de teorias da conspiração relacionadas com o clima não é um acidente. É o centro de um modelo económico que vive da indignação e da divisão", afirmou à AFP o diretor do CCDH, Imran Ahmed.
Nos últimos tempos, plataformas como a Meta e a X reduziram os seus mecanismos de moderação e verificação de conteúdos, frequentemente acusados por setores conservadores de serem tendenciosos a favor da esquerda. Mas, segundo o CCDH, as consequências estão a fazer-se sentir no mundo real.
Após as inundações mortais que atingiram o Texas no início de julho, Augustus Doricko, responsável por uma empresa que desenvolve tecnologia para provocar chuva, confirmou à AFP ter recebido “numerosas ameaças”.