
Nos últimos 30 anos, Portugal entrou para o mapa do turismo mundial, carimbando um lugar no ranking dos países mais visitados do mundo. O setor tem, hoje, um peso significativo na economia nacional, representando 12,7% do Produto Interno Bruto (PIB).
Em 1995, ano em que nascia o portal SAPO, Portugal “recebeu 9,7 milhões de turistas internacionais, representando cerca de 1,7% do total global, num cenário em que o turismo mundial registava 567 milhões de chegadas internacionais”, indica Carlos Abade, presidente do Turismo de Portugal.
De 1995, saltámos para 2023, quando, em Portugal, “o número de chegadas de turistas internacionais atingiu 26,5 milhões, mais do que o dobro de 1995, enquanto o turismo global registou 1,286 mil milhões de chegadas”.
Já no ano passado, o turismo português voltou a bater recordes: mais de 30 milhões de turistas estrangeiros e 80 milhões de dormidas, com receitas superiores a 27 mil milhões de euros. O país registou um aumento de 5,2% em hóspedes e 6,3% em turistas estrangeiros em relação a 2023.
Os dígitos não mentem: o turismo em Portugal cresceu acima da média mundial nos últimos 30 anos. “Passou por uma transformação notável, consolidando-se como um dos principais motores da economia nacional”, afirma Carlos Abade.
Foi também há 30 anos que Gonçalo Rebelo Almeida, administrador do grupo hoteleiro Vila Galé, começou a trabalhar na área do turismo e, portanto, assistiu na primeira fila o crescimento do setor. Uma “evolução francamente positiva”, não só pelo aumento do número de turistas, mas também pelo “alargamento da origem dos turistas” e pela diversificação das regiões.
A evolução do turismo português “é uma história de sucesso”
“Há 30 anos tínhamos uma realidade que era essencialmente Algarve e Madeira como grandes destinos turísticos e passamos a ter uma realidade em que a zona da Grande Lisboa, do Grande Porto, os Açores, e a própria região do Alentejo e a região Centro se assumiram como destinos turísticos relevantes, num movimento turístico que não está limitado às zonas do litoral”, traça Gonçalo Rebelo Almeida.
Na mesma linha de raciocínio, Carlos Abade considera que, a partir dos anos 2000, “houve uma maior aposta na promoção internacional e na diversificação da oferta, tornando Portugal mais competitivo no mercado global”. Mas foi a partir da década de 2010 que o turismo luso começou a crescer de forma exponencial.

Portugal passou a ser reconhecido “como um dos melhores destinos do mundo, impulsionado pela relevância do turismo urbano em cidades como Lisboa e Porto, pelo desenvolvimento do turismo de natureza e pela valorização da gastronomia e do enoturismo”.
“Foi também nesta década que, num movimento arrojado, as campanhas de publicidade do destino Portugal se passaram a fazer de forma exclusivamente digital, permitindo uma estratégia inédita de segmentar a promoção do país”, indica o responsável pela entidade do turismo nacional.
Para António Abrantes, cientista social, político e cronista, a evolução do turismo português “é uma história de sucesso”. “Alcandorar-se ao 12.º lugar de competitividade mundial é um mérito assinalável e traduz a expressão da qualidade geral dos fatores de produção, das instituições e do contexto que compõem a atividade”, sublinha o responsável pela publicação do recente livro Turismo em 50 anos de democracia, uma obra que não só olha para o passado e analisa o presente, como também deixa pistas para o futuro, através do contributo de 50 personalidades ligadas ao setor.
Do turismo de sol e mar a um destino “multifacetado”
De acordo com o livro, o turismo “nasceu” de forma inesperada em Portugal como atividade económica em 1964, quando mais de um milhão de visitantes estrangeiros entraram no país – um número que excedeu qualquer expetativa, mas que em nada se compara aos 30 milhões de turistas contabilizados em 2024.
Uma década antes da Revolução dos Cravos, Portugal era um país fechado e pouco preparado para receber visitantes. Um “país em cuecas”, como descreveu, então, Augusto de Castro, diretor do Diário de Notícias. Apesar de a Madeira já ser um destino procurado há muito por ingleses, foi no Algarve que Portugal começou a afirmar-se no mercado de “sol e mar”.
Esta imagem, porém, faz parte do passado. “Hoje já podemos concluir que Portugal é visto como um destino completo, que combina tradição e inovação e que atrai visitantes com muitas outras motivações para além do sol e mar”, refere Carlos Abade, destacando o trabalho feito na diversificação da oferta turística do país e “o reconhecimento internacional de regiões e cidades pelo seu património natural, cultural e gastronómico”.

“Atualmente, assistimos a um crescimento e consolidação de segmentos como o enoturismo, turismo gastronómico, turismo literário, turismo religioso, turismo de natureza ou de bem-estar, apelando também a públicos com apetências tão diversas como o surf, o golf, o cycling & walking ou o birdwatching. Paralelamente, as apostas em eventos internacionais, de diferentes âmbitos, ajudaram a consolidar a imagem de um destino multifacetado”, enumera o responsável.
Ao mesmo tempo, houve também uma evolução positiva na criação de infraestruturas, desde aeroportos, estradas, reabilitação urbana até o crescimento do setor hoteleiro. Para Gonçalo Rebelo Almeida, “o turismo foi um dos principais dinamizadores da recuperação de edifícios, espaços verdes, do desenvolvimento da oferta cultural, da restauração e permitiu desenvolver outros setores porque esta atividade beneficia não só aquilo que são as empresas que trabalham diretamente com o turismo, mas um conjunto alargado de outros setores”.
No que toca aos hotéis, Gonçalo Rebelo Almeida lembra que foi também ao longo dos últimos 30 anos que “se construíram os principais grupos hoteleiros em Portugal”, desde o Vila Galé, o Pestana ou o SANA. Não só a nível nacional, mas também internacional, nestes 30 anos, surgiram “grandes empresas turísticas”, sendo que muitas conseguiram internacionalizar-se. Por outro, na hotelaria, foram surgindo novos conceitos e desafios, tal como em todo o setor do turismo.
Sustentabilidade, o maior desafio, mas não o único
Da mudança para o digital, em que praticamente todos os processos ligados às viagens começaram a ser feitos online, até chegarmos à pandemia da COVID-19, que pôs o turismo mundial em pausa, a verdade é que os últimos 30 anos também colocaram desafios ao setor. Desafios estes que o país foi ultrapassando, tendo sido um dos que melhor recuperou da pandemia.
É crucial assegurar que o crescimento do setor respeita os recursos naturais e culturais, promove práticas responsáveis e minimiza impactos negativos
“Os dados mais recentes demonstram que não só retomámos os níveis pré-pandemia, como os superámos em vários indicadores estratégicos”, indica Carlos Abade. “Fomos dos países que conseguiu recuperar melhor, mais rapidamente e com um foco grande na sustentabilidade, na digitalização e na captação de um turismo de maior valor acrescentado”.
As três vozes ouvidas pelo SAPO não têm dúvidas que o maior desafio do turismo, atualmente, prende-se com a sustentabilidade, “em todas as suas dimensões: ambiental, económica e social”, admite Carlos Abade.
“É crucial assegurar que o crescimento do setor respeita os recursos naturais e culturais, promove práticas responsáveis e minimiza impactos negativos, garantindo um equilíbrio entre visitantes, comunidades locais e património”, afirma.

Segundo Gonçalo Rebelo Almeida, a sustentabilidade é um “desafio mundial” que se vai manter nos próximos anos. No setor da hotelaria, faz parte do dia-a-dia a implementação de “operações com menos impacto no planeta e mais sustentáveis” e a busca por uma operação “mais neutra”, através do combate dos desperdícios energéticos e alimentares.
A qualificação profissional e a retenção de talentos na área do turismo são outros desafios que o mercado nacional enfrenta. “Joga-se neste plano a atração e retenção dos profissionais do turismo, em volume e qualificações necessárias ao seu desenvolvimento. Associado a este desafio está a melhoria constante necessária à qualificação do serviço turístico prestado que, uma vez descuidada a atenção em elementos que o determinam, o podem deteriorar e desvalorizar”, resume António Abrantes.
O turismo é um setor com uma “componente humana muito relevante"
O turismo é um setor com uma “componente humana muito relevante, toda a parte dos colaboradores, da gestão e da formação das equipas é um desafio permanente, bem como a atração e qualificação dos talentos”, considera Gonçalo Rebelo Almeida, lembrando, ainda, o impacto que a Inteligência Artificial poderá ter, principalmente, nas áreas das vendas e comunicação.
No que toca à formação e qualificação de profissionais para o setor, o Turismo de Portugal destaca a sua Rede de Escolas, que “está a fazer um trabalho muito significativo para garantir condições atrativas, apostar na valorização das profissões ligadas ao turismo e proporcionar oportunidades de crescimento e qualificação”, indica Carlos Abade.
A ameaça da massificação
A massificação de certos destinos transformou-se num problema enfrentado por cidades como Veneza, Amesterdão ou Barcelona, além de outros lugares do globo que têm tomado medidas políticas para combater o excesso de visitantes.
E, em Portugal, já estamos a lidar com este problema? “Portugal não tem turismo a mais. É uma falácia. No plano macroeconómico, temos economia a menos. No plano da competitividade, temos diminuta diversificação de atividades de bens transacionáveis. Por o turismo ser forte nestes dois planos, carrega com uma culpa que não tem”, responde António Abrantes.
“Portugal não é um destino turístico massificado. O indicador da intensidade turística, que avalia a relação entre turistas e população residente e os impactos que daí resultam, apresenta no caso português níveis compatíveis com o turismo sustentável e compara bem com os seus destinos concorrentes”, completa o cientista social.
Contudo, reconhece, “questão diversa é a da pressão e impacto da procura turística que se faz sentir em certas áreas urbanas e em infraestruturas e equipamentos turísticos”.

Esta pressão turística já é sentida, principalmente, nas cidades de Lisboa e do Porto, mas pode ser combatida com uma maior comunicação de outras regiões que “ainda têm muito espaço para crescer”, acredita Gonçalo Rebelo Almeida, dando como exemplo, o Alentejo, a região Centro e algumas zonas da região Norte. “Não posso afirmar que no global haja turistas a mais em Portugal, tem é de se olhar para zonas concretas e tentar gerir melhor os fluxos”, aponta o administrador.
Para o presidente do Turismo de Portugal, “a aposta num crescimento sustentável e equilibrado, promovendo a diversificação da oferta e a descentralização dos fluxos turísticos ao longo do ano e do território, são aspetos vitais para o futuro do turismo”.
Já que falamos sobre o futuro, é impossível não refletir sobre como será a evolução do setor. Aqui, mais uma vez, há uma concordância de que o turismo em Portugal continuará a crescer, mas que deve existir também uma aposta forte numa estratégia de crescimento.
“Tal como estará presente na nova estratégia para o turismo, o Turismo de Portugal está focado num desenvolvimento equilibrado, que valorize todo o território e promova um setor mais inovador, sustentável e competitivo. Esperamos um turismo mais diversificado e regenerador, impactando positivamente as regiões e as comunidades”, assegura Carlos Abade.
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