
Rui Jorge viu esta quarta-feira oficialmente confirmada a sua passagem pelo comando da seleção portuguesa de futebol de sub-21 ao fim de 14 anos e meio, durante os quais projetou 65 internacionais 'AA', por entre duas finais perdidas em cinco Europeus.
Quase um mês depois da derrota frente aos Países Baixos (1-0), em Zilina, na Eslováquia, que implicou o segundo afastamento seguido nos quartos de final de uma prova nunca arrebatada pelos lusos, o treinador, de 52 anos, deixou em fim de contrato o conjunto de esperanças, ao qual tinha chegado em novembro de 2010 para substituir Oceano Cruz, dando lugar a Luís Freire, antigo técnico de Rio Ave e Vitória de Guimarães na Liga.
Rui Jorge cessa funções quase cinco meses depois da eleição de Pedro Proença como presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), num trajeto iniciado na reta final dos mandatos de Gilberto Madail e cumprido quase na totalidade com Fernando Gomes.
Pugnando por futebol de ataque e habituado a variar entre dois sistemas táticos, o 4-3-3 e o 4-4-2 losango, o recordista de jogos (127) e vitórias (90) à frente dos sub-21 - juntou ainda 19 empates e 18 derrotas, com 325 tentos marcados e 105 sofridos - potenciou o talento de várias gerações e estabilizou os resultados no escalão abaixo da seleção 'AA'.
Antes de Rui Jorge iniciar funções na FPF, as esperanças tinham falhado as fases finais dos Europeus de 2009, com Rui Caçador, e de 2011, com Oceano, panorama que ainda seria agudizado em 2013, mas só voltou a suceder em 2019, com um desaire no playoff.
Pelo caminho, Portugal regressou às fases finais oito anos depois e repetiu em 2015, na República Checa, o estatuto de finalista derrotado de 1994, perdendo no desempate por penáltis com a Suécia (4-3, após 0-0 nos 120 minutos), curiosamente adversária no jogo inaugural de Rui Jorge (3-1), em fevereiro de 2011, num particular decorrido no Cartaxo.
A equipa nacional quebrou na edição seguinte, em 2017, na Polónia, ao ser afastada na primeira fase, findando um recorde de cinco anos e oito meses sem perder em 31 jogos oficiais, mas ressurgiu em 2021 e voltou a ficar perto do troféu, negado com um tento de Lukas Nmecha para a Alemanha (0-1), num torneio disputado entre Eslovénia e Hungria.
Seguiram-se as eliminações nos 'quartos' perante a Inglaterra (1-0), vencedora em 2023, sob coorganização de Geórgia e Roménia, e os Países Baixos, em 2025, na Eslováquia.
Caso único de longevidade no escalão a nível continental, Rui Jorge sai sem títulos, mas com vários jogadores maturados no último degrau antes da seleção principal ao longo da última década e meia, assinalada pela aposta continuada dos clubes na formação, aliada à criação de equipas B e de sub-23, e pela exportação mais precoce dos talentos jovens.
O técnico, que também conduziu a seleção olímpica aos 'quartos' dos Jogos do Rio2016, manteve convicções firmes, mesmo que nem sempre fossem consensuais para a opinião pública, e foi agraciado na gala da FPF em 2024, quando recebeu um galardão de Bruno Fernandes e Bernardo Silva, figuras atuais dos 'AA', após se terem afirmado nos sub-21.
"Não consigo colocar um melhor e um pior momento. Vivi momentos muito bons e outros de grande dor e sofrimento, mas foram muito mais aqueles em que desfrutei. É uma data completamente anormal no futebol, mesmo a nível de seleções, mas gosto de cá estar e continuarei a fazer tudo para que as pessoas também gostem de me ver aqui e para que, mais tarde, me sinta satisfeito por ver em outros patamares os atletas que vão passando por este espaço", frisou em novembro de 2023, por ocasião do 13.º aniversário no cargo.
Rui Jorge despede-se com 71% de vitórias e quase 86% de encontros sem perder pelos sub-21, numa carreira técnica iniciada pelo Belenenses, no qual orientou os juniores, de 2006 a 2010, e os seniores, nas últimas duas jornadas da edição 2008/09 da I Liga, sem impedir a descida - os 'azuis' seriam readmitidos administrativamente na época seguinte.
O emblema lisboeta marcou a transição de futebolista para treinador do gaiense, um dos melhores laterais esquerdos da sua geração, que fez um golo em 45 jogos pela seleção principal, de 1994 a 2004, participando nos Europeus de 2000 e 2004 e no Mundial2002.
Acompanhando a então designada geração de ouro do futebol português, Rui Jorge foi vice-campeão da Europa há 21 anos, quando os lusos perderam como anfitriões frente à Grécia (1-0), já depois de ter ajudado no quarto lugar no torneio olímpico de Atlanta1996.
O ex-defesa fez sempre carreira em Portugal, onde conquistou cinco campeonatos, duas Taças e três Supertaças com o FC Porto (1991-1998), volvido um empréstimo ao Rio Ave (1991/92), no qual fez a estreia como sénior e reencontrou Augusto Inácio, que já o tinha orientado nas camadas jovens 'azuis e brancas' e com quem seria campeão no Sporting.
Envolvido numa permuta de futebolistas entre os dragões e os leões no verão de 1998, rumou a Alvalade para resgatar o tempo de jogo perdido nas duas épocas anteriores nas Antas, mesmo tendo celebrado as quatro primeiras conquistas do inédito 'penta' portista.
Dois títulos da Liga - o primeiro quebrou um interregno de 18 anos, em 1999/00 -, uma Taça e duas Supertaças sobressaíram na passagem pelo Sporting, do qual se despediu em 2005, após perder a Taça UEFA em casa frente aos russos do CSKA Moscovo (3-1).
Rui Jorge ainda cumpriu meia época no Belenenses (2006) e terminou a carreira aos 33 anos, com quase 490 duelos e 12 golos, sem perder a ligação ao desporto recebida dos seus antepassados e repartida com os irmãos, entre os quais Ricardo Oliveira, campeão nacional de ténis de mesa em singulares e por equipas e antigo selecionador masculino.