
Mais de 21 milhões de venezuelanos vão às urnas no domingo em eleições legislativas e regionais, dez meses depois da reeleição do Presidente Nicolás Maduro, marcada por acusações de fraude eleitoral.
Os 21 milhões de eleitores inscritos -- de um total de mais de 31 milhões de habitantes - vão escolher 285 membros da Assembleia Nacional e 24 governadores, autarcas e conselheiros municipais.
O Governo venezuelano determinou a eleição de um governador e oito deputados para Essequibo, uma região rica em petróleo que Caracas reivindica da vizinha Guiana. Não existem mesas de voto no território de 160.000 quilómetros quadrados controlado por Georgetown.
Mais de 400 mil polícias serão mobilizados para a votação, que decorrerá das 06:00 às 18:00 (das 11:00 às 23:00 em Lisboa), com resultados esperados para o final da noite.
O ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino López, garantiu que as forças armadas vai garantir um ambiente de "total normalidade e paz" durante o escrutínio.
As sondagens mostraram que o partido de Maduro [Partido Socialista Unido da Venezuela, PSUV] vai conquistar a maioria absoluta na Assembleia Nacional. De acordo com vários analistas, a oposição só deverá conseguir vencer dois dos 24 estados: Zulia e Nueva Sparta.
A campanha eleitoral foi discreta, tanto por parte da oposição como do Governo. A líder da oposição, María Corina Machado - impedida pela justiça de concorrer como candidata nas presidenciais de 2024 -, apelou para a abstenção.
"Uma enorme farsa que o regime quer encenar para enterrar a derrota [nas eleições presidenciais] de 28 de julho. Nós (...) ratificaremos esta derrota com ausência total, (...) deixando todas as assembleias de voto vazias", disse recentemente a líder opositora.
A oposição, dividida sobre participar ou não na eleição, continua a reivindicar a vitória nas presidenciais de 2024, que considerou marcada por fraudes.
A oposição afirmou que o candidato presidencial Edmundo González Urrutia [da Plataforma Unitária Democrática/PUD] venceu o sufrágio com mais de 67% dos votos, mas Urrutia acabou por ter de se exilar em Espanha.
Muitos países não reconheceram a reeleição de Maduro e exigiram a apresentação as atas das mesas de votos, mas o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano disse ter sido alvo de um ataque informático e nunca forneceu os dados eleitorais.
O CNE reconheceu Maduro como o vencedor das presidenciais, posteriormente confirmado pelo Supremo Tribunal de Justiça venezuelano.
A agitação pós-eleitoral resultou em 28 mortes, centenas de feridos e 2.400 detenções, sendo que cerca de 1.900 pessoas foram libertadas desde então.
O cadidato a deputado Henrique Capriles, que já concorreu à Presidência por duas vezes, trouxe consigo uma parte dos opositores venezuelanos, que estão convencidos de que a participação nestas eleições é essencial.
"Votar é uma ferramenta de mudança, de luta, de resistência", declarou recentemente Juan Requesens, candidato ao governo do estado de Miranda, onde se situa parte de Caracas.
As sondagens de opinião estão a indicar que aproximadamente 35% da população está determinada ou a considerar votar.
Há mais de uma década que a Venezuela enfrenta uma grave crise económica e, depois de três anos de algum crescimento, o país regressou à hiperinflação, à escassez de divisas estrangeiras e à queda de produção petrolífera, que garante grande parte das verbas do Governo.