A organização ambientalista WWF Portugal manifestou-se hoje preocupada com o que considera serem tentativas do Governo português de enfraquecer as metas climáticas da União Europeia (UE), e apelou ao executivo para alinhar a atuação com a ciência.

Num comunicado, e baseando-se em declarações recentes dos ministros do Ambiente e da Agricultura, a WWF fala de "uma mudança de posição alarmante" do Governo, que "coloca em causa a responsabilidade do país face aos desafios ambientais globais".

Numa entrevista ao jornal "Político" a ministra do Ambiente Maria da Graça Carvalho, e numa intervenção no Conselho de Ministros da Agricultura da UE de José Manual Fernandes os dois "evidenciaram uma ação concertada para enfraquecer compromissos cruciais no combate à crise climática e ecológica", acusa a WWF.

A ministra defendeu que o apoio de Portugal à meta europeia de pelo menos 90% de redução de emissões líquidas até 2040 depende de um conjunto de exceções, o que "representa um recuo face à urgência reconhecida pela ciência", escreve a organização.

Para a WWF, Portugal deve focar-se na descarbonização da sua economia "e não procurar atalhos sem regulamentação e que desresponsabilizam o país", numa referência a uma sugestão da ministra de contabilizar investimentos portugueses em energias renováveis em países como Cabo Verde ou São Tomé como contribuição para os objetivos climáticos nacionais.

"A proposta, também avançada por Maria da Graça Carvalho, de que as emissões resultantes dos incêndios florestais não sejam atribuídas a Portugal, ignora que a vulnerabilidade do território ao fogo e as medidas de prevenção resultam, em larga medida, de políticas nacionais. A WWF sublinha que a prevenção estrutural exige restauro ecológico, diversidade de usos do solo e paisagens mais resilientes. Ao invés de procurar subterfúgios, o Governo deve investir na transformação sustentável do território", diz também a associação internacional.

A WWF pede cautela nas propostas para o setor agrícola, alertando para apoios a práticas agrícolas intensivas e para a tentativa de adiar e enfraquecer a aplicação do regulamento europeu contra a desflorestação importada. "O setor agrícola deve ser apoiado na sua transição ecológica e não isentado de responsabilidade, sob pena de perpetuar modelos insustentáveis", diz.

Na entrevista, além de contabilizar projetos no estrangeiro e isenção da poluição causada pelos incêndios, a ministra afirma que Portugal pretende que o objetivo 2040 (90% redução emissões) seja "não linear", com redução mais lenta no início. Tal, no entender da WWF, "enfraquece a eficácia da ação climática e distribui de forma injusta os esforços ao longo do tempo"

Afirmando que Portugal tem todas as condições para ser líder na ação climática, essa vantagem, adverte, não se concretiza "com propostas que desresponsabilizam o país ou enfraquecem os mecanismos europeus".

"O Governo está a colocar em risco a credibilidade de Portugal no compromisso climático europeu, ao apostar em soluções que enfraquecem a ambição e abrem portas a exceções que comprometem a integridade das metas", diz citada no comunicado, Bianca Mattos, coordenadora de políticas da WWF Portugal.