O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, acusou hoje a Rússia de entregar os corpos de 20 soldados russos a Kiev, em vez dos restos mortais de soldados ucranianos, conforme o acordo recente para a troca de soldados mortos.

Entre esses 20 corpos "há, por exemplo, um mercenário israelita que lutava ao lado deles. Um cidadão israelita, com documentos israelitas", disse o Presidente ucraniano durante uma conferência de imprensa.

Zelensky acusou tratar-se não de um equivoco, mas sim de uma ação deliberada, sustentando que "às vezes, esses corpos até têm passaportes russos [com eles]", e acusando Moscovo de "mentir" ao afirmar que entrega apenas corpos de ucranianos.

Durante as negociações entre a Ucrânia e a Rússia em Istambul, em 02 de junho, Moscovo e Kiev concordaram com uma troca de restos mortais de soldados de ambos os lados.

Na segunda-feira, o Centro Ucraniano de Coordenação para Prisioneiros de Guerra declarou que a Ucrânia havia recebido 6.057 corpos nesse contexto, embora tenha expressado cautela quanto à veracidade da sua nacionalidade e de tratar-se afetivamente de militares, aguardando a sua identificação.

Na sexta-feira, o Presidente ucraniano levantou a possibilidade de a Rússia estar a enviar deliberadamente os corpos de soldados russos para dar a impressão de que matou mais ucranianos e minimizar as suas próprias perdas, mas também porque há muitos mais mortos nesta guerra do que Moscovo quer deixar perceber.

"Eles [os russos] têm medo de reconhecer esse facto, o grande número de mortes. Porque quando chegar a hora em que [Vladimir} Putin quiser mobilizar, a sociedade russa terá medo", continuou.

Moscovo quer "destruir a realidade em que vivemos, onde muito mais pessoas estão a morrer", afirmou.

Há mais de três anos, a Ucrânia enfrenta uma invasão russa que deixou dezenas de milhares de mortos em ambos os lados, tanto civis quanto militares, mas as autoridades de ambos os países não publicaram um registo oficial recente de soldados feridos ou mortos nas linhas de frente.

O repatriamento de corpos, especialmente de soldados, e a troca de prisioneiros de guerra são as poucas áreas em que Kiev e Moscovo cooperam.

Na sexta-feira, Zelensky também afirmou que 695.000 soldados russos estavam atualmente em território ucraniano, aproximadamente 20% do qual está ocupado pelo exército do Kremlin.