Longe vão os tempos em que Moreira de Cónegos e Vila das Aves protagonizavam um dérbi intenso e carregado de rivalidade, mesmo pertencendo a concelhos diferentes. O encontro entre Moreirense e AVS refletiu uma realidade distinta, com menos intensidade e emoção dentro de campo, mas não deixou de carregar a importância que a proximidade geográfica confere a qualquer duelo deste género.

Num jogo marcado por momentos de equilíbrio e alguns erros cruciais de ambas as equipas, os comandados de César Peixoto voltaram a não vencer, pelo quarto jogo consecutivo, expondo algumas fragilidades que ainda precisam de ser corrigidas para alcançar a consistência desejada.

Ao longo da época, César Peixoto já foi autor de grandes obras, incluindo vitórias frente ao Sporting (a última) e FC Porto, e um empate com o Benfica. Com utilização habitual do 4-2-3-1, o Moreira apresenta um sistema equilibrado, que procura adaptar-se tanto às características do adversário quanto às necessidades do jogo.

Defensivamente, a equipa destaca-se pela compactação, com linhas próximas e bem organizadas. Alanzinho tem sido peça-chave na construção de jogo, sabendo também aproveitar o espaço entrelinhas, enquanto os corredores laterais são explorados por jogadores como Dinis Pinto e Gabrielzinho, que ampliam a largura e criam desequilíbrios.

Contudo, a formação cónega nem sempre demonstra agressividade ou criatividade suficientes, e quando assim o é, as substituições são cruciais. Um caso exemplar é o de Luís Asué, avançado da Guiné-Equatorial, que tem contribuído com a sua energia e presença física para mexer com o jogo e vai adicionando golos pontuais à equipa.

Frente ao AVS, a identidade tática do Moreirense manteve-se fiel às ideias de César Peixoto, mas o jogou mostrou algumas fragilidades do clube minhoto. Após um golo madrugador dos cónegos, a posse de bola foi cedida ao conjunto de Vila das Aves, que aproveitou para crescer no encontro.

Embora tenham ocorrido algumas falhas na ligação entre os médios e alguns passes falhados, o Moreirense durante a primeira parte, ia conseguindo fugir à pressão avense, mantendo o controlo do esférico e explorando os espaços disponíveis. Contudo, o cenário alterou-se drasticamente no início da segunda parte. Nos primeiros 15 minutos, o AVS entrou mais agressivo e esteve até perto de marcar, mas ou a finalização falhava, ou Kewin Silva mostrava-se presente debaixo dos postes.

Perante a perda de terreno, César Peixoto, como em outros jogos, recorreu ao banco para revitalizar a equipa. As entradas de Madson Monteiro e Sidnei Tavares trouxeram frescura e energia, e o Moreirense recuperou o controlo do jogo de tal maneira, que marcaram pouco depois um golo, que acabou anulado.

Do lado avense, foram realizadas quatro alterações no onze inicial face o jogo anterior, frente ao Estrela da Amadora. Algumas melhorias foram evidentes, como a maior ligação entre os dois homens do meio-campo, neste caso, Gustavo Assunção e Jaume Grau, a conseguirem construir mais, mas um erro fatal acabou por comprometer. Equipa praticamente toda no meio-campo adversário e após uma perda de bola, o Moreirense lançou-se no contra-ataque, originando o lance da grande penalidade que abriu o marcador.

A pressão que já se tinha visto nas primeiras partidas ao comando de Daniel Ramos, voltou a aparecer e a criar desconforto ao oponente, especialmente no início da segunda parte. Não fosse a ineficácia nas oportunidades que criaram e talvez pudessem ter saído de Moreira de Cónegos com um resultado diferente. No fundo, houve melhorias em relação ao último encontro, mostraram mais iniciativa de jogo, porém continuam a surgir erros individuais, que acabam por custar caro nos momentos decisivos, somando o quinto empate consecutivo.

O Moreirense de César Peixoto tem mostrado argumentos para realizar uma época tranquila, ocupando o oitavo lugar na liga e estando ainda presente na Taça de Portugal. No entanto, os quatro jogos consecutivos sem vencer começam a expor fragilidades que precisam de ser corrigidas. A irregularidade, marcada por alguns erros individuais e alguma falta de criatividade em momentos decisivos, contrasta com as exibições memoráveis frente aos “grandes”.

Curiosamente, a equipa parece ganhar nova vida sempre que César Peixoto recorre ao banco, com os suplentes a trazerem energia e frescura ao futebol dos cónegos. Apesar de a Europa não ser o objetivo principal, a competitividade já demonstrada pela equipa de César Peixoto dá razões para acreditar que podem manter-se perto dos lugares cimeiros. Resta agora ao treinador corrigir as fragilidades e devolver à equipa a confiança necessária para um final de época tranquilo.



BnR NA CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

AVS SAD

BnR: O mister fez quatro alterações em comparação ao último jogo, uma delas forçada até, pergunto se face ao último jogo frente ao Estrela, conseguiu corrigir os erros mencionados nessa mesma partida.

Daniel Ramos:
A maior parte deles, sim, mas não deixámos de os cometer, basta ver o lance do primeiro golo. Mais um erro grave e isto no futebol paga-se caro. Estes erros precisam de ser reduzidos, e vamos trabalhar nisso durante a pausa.
Ainda não consegui estar em vantagem, mas apesar de tudo, valorizo a capacidade da equipa de recuperar desvantagens, mas gostaria de estar em vantagem para fazermos outro tipo de gestão e colocarmos nós o adversário a correr atrás do prejuízo e abrir outro tipo de espaços, tirando proveito deles.
Fiquei muito agradado com a performance coletiva durante 70/75 minutos, o jogo no final ficou mais partido e isso não é do nosso agrado. No geral, estou satisfeito com a exibição, mas insatisfeito com o resultado, pois fizemos o suficiente para alcançar mais.

Moreirense


BnR:
O Moreirense na primeira parte aguentou bem a pressão adversária, mas nos primeiros quinze minutos da segunda parte, o Moreirense parecia estar incomodado com a pressão do AVS, aliás, eles estiveram presentes algumas vezes no vosso lado do meio-campo, inclusive criando algumas oportunidades. Pergunto o que aconteceu nessa fase do jogo.


César Peixoto: Acho que entrámos um pouco apáticos na segunda parte. Faltou-nos agressividade nos duelos, com e sem bola, faltou-nos capacidade e personalidade nesses quinze minutos para assumirmos o jogo e levá-lo para aquilo que queríamos. No fundo, entrámos um pouco apáticos e fomos pouco proativos. Acho que quem veio do banco deu à equipa confiança e um boost de energia, até porque retomámos de novo o jogo. Depois dos primeiros quinze minutos, o jogo ficou mais equilibrado e acabámos por criar mais situações de perigo.