Ironicamente, a decisão foi conhecida às 19h45, a hora a que, durante tantos anos, o Lyon iniciou os seus encontros da Liga dos Campeões. Durante aquela era dourada, o OL era símbolo de sustentabilidade, com sete triunfos seguidos na Ligue 1 (2002-2008) e participação consistente entre os melhores, incluindo vitórias contra Real Madrid, Inter, Bayern ou Liverpool.

Diz quem privou com John Textor antes do veredicto sair que o empresário estava calmo. O "L'Équipe" até noticia que o norte-americano estava a tentar comprar voos de Paris para Filadélfia, onde o seu Botafogo defrontará o Palmeiras nos oitavos de final do Mundial de Clubes.

"Fizemos uma série de investimentos e operações nas últimas semanas, está tudo bem financeiramente", disse Textor antes da reunião com o órgão financeiro da liga francesa. Na semana passada, em entrevista ao "L'Équipe", o dono do OL já dissera que "não havia qualquer hipótese" de o clube descer de divisão.

Daí que o anúncio das 19h45, hora de Liga dos Campeões clássica, da Liga dos Campeões do tempo de Juninho Pernambucano e companhia, tenha gerado tantas ondas de choque. A DNCG, órgão de controlo financeiro da Ligue 1, confirmou a decisão provisória de novembro: devido aos problemas financeiros em que está mergulhado, o Lyon, histórico gaulês, foi castigado com a descida à Ligue 2, o segundo escalão.

Textor é dono do Lyon desde 2022
Textor é dono do Lyon desde 2022 Eurasia Sport Images

Durante duas horas de reunião, Textor não conseguiu convencer os reguladores quanto à eficácia das suas manobras financeiras. O grande problema identificado pela DNCG foi uma dívida de €175 milhões do clube detido pela Eagle Football Group, o conglomerado de Textor que, em outubro, anunciou dívidas de cerca de €494 milhões.

Consciente das dúvidas do regulador, o Lyon passou os últimos meses a tentar regularizar a sua situação. Vendeu Rayan Cherki para o Manchester City por €36,5 milhões e Saïd Benrahma para o NEOM saudita por €12 milhões, enquanto no inverno passado transferiu Maxence Caqueret para o Como por €15 milhões. Vários dos jogadores com salários mais elevados, como Alexandre Lacazette ou o internacional português Anthony Lopes, também foram abandonando o OL.

A juntar a isto, houve uma injeção de capital dos acionistas de cerca de €83 milhões e, ainda, a venda já acordada do Crystal Palace, a qual aguarda a luz verde da Premier League. Textor, que chegou a estar interessado na compra de ações do Benfica, vendeu os londrinos a Woody Johnson, dono dos New York Jets da NFL, e por isso recebeu €200 milhões.

O Lyon entende ter "recursos financeiros mais do que suficientes para 2025/26", mas a DNCG duvida. A não classificação da equipa de Paulo Fonseca para a Liga dos Campeões, a juntar à perceção de que algumas operações com outros clubes do Eagle Football Group, nomeadamente o Botafogo, não eram totalmente claras, também não ajudaram à causa do OL.

Paulo Fonseca orienta o Lyon
Paulo Fonseca orienta o Lyon James Baylis - AMA

O Lyon classificou a decisão como "incompreensível". "Vamos recorrer para demonstrar a nossa capacidade de ter os recursos necessários, em termos de liquidez, para garantir a manutenção na Ligue 1", lê-se em comunicado. O emblema tem sete dias para recorrer.

Esta queda surge 12 meses depois da descida de outro histórico, o Bordéus, à terceira divisão. No caso do Bordéus, ficou a perceção de que as entidades reguladoras agiram demasiado tarde face aos conhecidos problemas financeiros do clube, sendo esta atuação mais preventiva com o Lyon uma forma de corrigir essas críticas.

Após a decisão ser conhecida, ergueram-se faixas em Lyon contra Textor. Jean-Michel Aulas, presidente durante 36 anos e líder da era dourada dos gones, classificou o momento como "triste" e "incompreensível".

Se o recurso não alterar a decisão, o Lyon jogará a segunda liga pela primeira vez desde 1989. O clube seria substituído na Ligue 1 pelo Reims, que foi batido no play-off pelo Metz.