O '4 Cantos do Mundo' é um podcast do jornalista Diogo Matos ao qual o zerozero se uniu. O conceito é relativamente simples: entrevistas a jogadores/ex-jogadores portugueses que tenham passado por pelo menos quatro países no estrangeiro. Mais do que o lado desportivo, queremos conhecer também a vertente social/cultural destas experiências. Assim, para além de poder contar com uma entrevista nova nos canais do podcast nos dias 10 e 26 de cada mês, pode também ler excertos das conversas no nosso portal.

Atualmente com 33 anos, João Amaral foi o mais recente convidado do '4 Cantos do Mundo'. O médio-ofensivo terminou esta temporada na Roménia, isto depois de a ter iniciado na Arábia Saudita. Em relação a este país do Médio Oriente, as recordações não são as melhores.

«Queria saber como era jogar na Arábia e surgiu a oportunidade de ir para a 2ª divisão; olhei para isso como uma forma de abrir mercado lá. As pessoas lá são extremamente simpáticas e adorei viver lá. No entanto, olhando para o futebol, não foi a experiência que eu estava à espera. Fui para o Al-Batin com o mister Rui Almeida e enquanto ele lá esteve as coisas eram um pouco mais profissionais. Quando ele saiu, as coisas deixaram de ter rumo. Os jogadores ia para as palestras de fones nos ouvidos e com os telemóveis pousados em cima da mesa. São coisas que um treinador na Arábia Saudita tem de deixar passar», começou por explicar, indo mais longe:

João Amaral
Total
Médio
33 anos
452
Jogos
28834
Minutos
91
Golos
38
Assistências
40 0 0 2x

«Os árabes praticamente não dormem durante a noite, até por causa das rezas que têm de fazer por volta das 5h da manhã. Assim sendo, os treinadores têm de optar por controlar o pequeno-almoço ou esquecer um pouco essa parte e deixam os jogadores dormirem mais para estarem melhor para o jogo. O pequeno-almoço era facultativo, então acontecia várias vezes estarmos apenas eu, o Afonso Taira e o Thibault Peyre, um central francês. Mesmo sem pequeno-almoço e com a palestra a começar às 12h30, não houve um jogo em que alguém não adormecesse e chegasse atrasado à palestra. Tinham de ir aos quarto buscar os jogadores.»

Também dentro de campo as coisas não fluíam como João Amaral estava habituado.

«O nível era muito baixo. Para além disso, eles pensam que todos os defesas estrangeiros que contratam são Maldinis e que todos os atacantes são Messis ou Ronaldos. A equipa pode não jogar nada, mas...Lembro-me que houve uma fase em que tínhamos dez golos, sendo que eu tinha marcado um e feito quatro assistências. Ainda assim, uma vez vieram ter comigo e disseram-me que eu tinha de dar mais. Com o mister Rui Almeida ainda tínhamos algum fio de jogo, mas depois... Eu não podia bater o pontapé de baliza, jogar para mim na defesa, passar para mim no meio-campo, cruzar e ir eu finalizar à área. Nos amigáveis, eu, que jogava a médio-ofensivo, andava a ir buscar a bola aos centrais para sairmos a jogar. Caso contrário saímos sempre com pontapé longo», vincou.

A experiência de João Amaral na Arábia acabou por durar poucos meses, isto muito devido a salários em atraso: «Cheguei no fim de julho e só recebi o primeiro mês, no caso agosto, em outubro. Depois disso, e até vir passar o natal a casa, não recebi mais nada. Ou seja, estava há quatro meses sem receber. Ninguém queria saber e dava claramente a ideia, através do feedback que não nos davam, que não íamos receber tão cedo. Decidi avançar com uma queixa na FIFA e estou à espera da decisão, mas seria impensável perder o caso.»

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