
O Estádio do Bessa despertou esta terça-feira com buscas realizadas pela Polícia Judiciária.
De acordo com o apurado pelo zerozero junto dos axadrezados, fortes suspeitas de «corrupção e gestão danosa» recaem sobre a administração da SAD.
Os suspeitos são quadros dirigentes do Boavista, contabilistas certificados, um escritório de advogado e uma sociedade de revisores oficiais de contas. Foram, desde já, constituídos seis arguidos, entre singulares e pessoas coletivas.
«O modus operandi em causa implicou a utilização de contas bancárias de passagem tituladas por terceiros singulares, transferências internacionais e depósitos em numerário de origem e destino não clarificados, movimentos esses justificados apenas parcialmente e por contratos de empréstimos cruzados que levantavam suspeitas quanto à ocultação de rendimentos, desvio de fundos com vista a prejudicar credores e ulterior branqueamento», explica a PJ através de comunicado.
Os investigadores procuram também informações sobre as finanças do clube até ao ano de 2024, ano em que o Boavista era ainda presidido por Vítor Murta. O antigo presidente da SAD e do clube - acumulou os cargos entre 2020 e 2024 - é o principal alvo desta ação judicial.
Se as suspeitas se confirmarem, os acusados responderão por crimes contra a administração pública e o património, bem como «fraude fiscal, frustração de créditos e branqueamento de capitais». O lucros ilícitos estão estimados em «cerca de dez milhões de euros».
Em imagens obtidas pela CMTV, constata-se que um grupo de uma dezena de inspetores da PJ foi obrigado a arrombar uma das portas de acesso ao Bessa, devido à falta de colaboração de pessoas ligadas ao Boavista que estavam no interior.
Segundo foi possível saber, o presidente Rui Garrido Pereira está a cooperar com as forças da autoridade, até por ser um dos mais interessados nesta investigação.
O atual presidente do clube foi eleito em janeiro de 2025 e a sua gestão estará fora do âmbito desta operação.
Queda aos distritais e insolvência
As últimas semanas têm sido dramáticas para os adeptos do Boavista. Depois de uma época paupérrima e da despromoção desportiva, a SAD foi incapaz de cumprir os critérios estabelecidos para competir na II Liga, na Liga 3 ou no Campeonato de Portugal.
Ao mesmo tempo que assistia impotente a esta queda aos distritais, o povo axadrezado assistia também à declaração de insolvência por parte da direção do clube e da sociedade responsável pela gestão do futebol profissional, depois de o Processo Especial de Revitalização (PER) lhes ter sido recusado.
13 títulos oficiais
Perante tudo isto, o elenco liderado por Garrido Pereira agendou para 28 de julho uma Assembleia Geral Extraordinária.
José Pedro Pais, economista responsável pelo processo de reestruturação de dívida (RERE) em 2024, além de figura respeitadíssima no mundo do Boavista, detalhou ao nosso portal em 27 de junho a dimensão da crise.
«A SAD tem um passivo de aproximadamente 166 milhões de euros, sendo que parte destas dívidas são dívidas originais do clube, assumidas solidariamente», aduziu José Pedro Pais.
«O clube tem um passivo de cerca 85 milhões de euros, sendo que a sua larga maioria são juros e são respeitantes à época da construção do estádio.»
Na temporada 25/26, o Boavista competirá nos escalões da AF Porto. Resta saber em que escalão e se ainda sob a égide da atual SAD.
As buscas não se limitam ao Estádio do Bessa. As casas de Vítor Murta e de outros dirigentes estão também abrangidas pelo mandado judicial. No total são «dez mandados de busca domiciliária e não domiciliária» no Grande Porto e em Viseu.
[ARTIGO ATUALIZADO]