
Darwin Núnez parece ter o destino traçado em Liverpool e deverá deixar os Reds no final da época, sem nunca se ter afirmado. A BOLA conta-lhe tudo sobre o que levou o uruguaio a Anfield e os problemas que sentiu em adaptar-se ao novo clube e à Premier League.
O ponta de lança transferiu-se do Benfica para o Liverpool no verão de 2022, a troco de 85 milhões de euros. Os Reds tinham vendido Sadio Mané. Takumi Minamino não tinha convencido por completo, tal como Origi, que apesar de fundamental na conquista da Liga dos Campeões de 2018/19, se mudara para Milão a custo zero.
A transferência surpreendeu muita gente. O jovem avançado não parecia ainda preparado para a Premier League, apesar dos dois anos no Benfica e da passagem durante uma época pela segunda divisão espanhola, ao serviço do Almería, após a formação e estreia como profissional no Peñarol. Em Anfield, vivia-se ainda o rescaldo de duas conquistas: a já referida Champions e a Premier League conquistada na temporada seguinte. Havia algum dinheiro para gastar, mesmo que parecesse apenas um capricho. E assim Mike Gordon, da Fenway Sports Group, proprietário do Liverpool, avançou para a contratação mais cara da história do clube.
Darwin não foi pedido por Klopp
Darwin não foi um pedido de Jurgen Klopp. Embora a equipa técnica tivesse, em conjunto com os restantes departamentos, estudado o mercado em busca de um 9, não tinha sobressaído nenhum nome que motivasse o alemão a avançar. E assim estava preparado para esperar mais um pouco pelo alvo certo, uma vez que havia ainda Firmino, Jota, Salah e Luis Díaz.
O nome surgiu por intermédio de Gordon e do diretor desportivo Julian Ward, fascinados muito provavelmente pelos dados estatísticos e analíticos (big data) de Darwin, que só perdia para Erling Haaland e Rasmus Hojlund, então a caminho da Atalanta.
Havia reticências do lado de Kloppo, mesmo com os dois golos marcados ao Liverpool pelo Benfica nos quartos de final da Liga dos Campeões em 2021/22, porém Mike Gordon decidiu mesmo avançar. Afinal, eram 85 milhões de euros. Um valor que surpreendeu todos, inclusive internamente.
Suporte emocional para Darwin
A partir do momento em que o negócio ficou fechado, não restou alternativa ao técnico se não tentar extrair o melhor possível da situação. O uruguaio, tímido, com dificuldades no inglês e muito emocional, perseguido por fantasmas e superstições, teve de ser alvo de atenção especial. A equipa foi igualmente obrigada ainda a adaptar-se às suas características e perfil.
Darwin foi criando ligações com quem se conseguia entender verbalmente. Havia Adrián, Thiago Alcântara, Pep Ljinders, o adjunto de Klopp que passara por Portugal e falava português, e Vítor Matos. Eram o seu suporte. Porque falhar um golo, para o uruguaio, tem um peso tremendo, e precisava desse apoio. No treino, foram trabalhadas as suas deficiências, sobretudo na finalização. No 11, porque 85 milhões não se sentam no banco, Klopp começou a usá-lo como extremo esquerdo para o conseguir encaixar. Em janeiro, face ao menor rendimento do ex-Benfica, os Reds tiveram de ir contratar o neerlandês Cody Gakpo ao PSV Eindhoven.
Entretanto, o ponta de lança sul-americano não foi fazendo nada para aprender inglês e, em campo, alternou o banco com a titularidade. Os golos marcados com falhanços incríveis. Ao longo do seu percurso em Anfield, foram também saindo as referências que eram o suporte emocional. Todas as referidas acima. O treinador mudou. Teve de criar novas ligações ou reforçar algumas, com MacAllister, Alisson…
Falhar um golo é para Darwin o fim do mundo
Darwin nunca estabilizou. Levou da Luz deficiências no primeiro toque e problemas na tomada de decisão e na definição, na proteção e controlo da bola sob pressão, bem como na contribuição defensiva e na adaptação a papeis mais táticos. Na Premier, teve ainda menos tempo para pensar antes de fazer as suas ações. Os rivais eram muito melhores dos que encontrou na Liga portuguesa. A sua vida complicou-se e muito. A falta de golos precipitou a espiral negativa.
Cada golo de Darwin até agora custou ao Liverpool qualquer coisa como 2,1 milhões de euros se contabilizarmos apenas o valor da transferência, e excluirmos o salário. Com o vencimento passa a qualquer coisa como 2,8 milhões. Demora 182 minutos a marcar um golo, depois de precisar apenas de 116 com a camisola do Benfica ao peito e de 81 no segundo escalão espanhol.
Darwin não será lembrado como uma das melhores contratações da história do Liverpool, apesar de ter sido a mais cara. Mais um exemplo de que o contexto é essencial para os jogadores serem bem-sucedidos. Não basta saber rematar à baliza.