PARIS – Sob o céu de Paris, acendeu-se a lenda de Léon Marchand.
O nadador francês que conquistou quatro medalhas de ouro e uma de bronze transformou-se no novo herói do povo. Durante os Jogos Olímpicos, a presença dele – ou da simples imagem – tornava qualquer lugar uma fonte de histeria coletiva.
E coube a Marchand ir buscar a chama olímpica ao jardim de Tuilleries, onde se manteve acesa durante os 17 dias das olimpíadas, transportando-a até ao Stade de France, onde a festa seguiria.
Com algumas clareiras de cadeiras vazias nas bancadas do recinto, a cerimónia de encerramento começou por ser tudo o que tinha faltado à de abertura: simples no conceito, clássica e elegante no formato e… um espetáculo para ser vivido com gosto. Por atletas e público.
O palco não é dos atletas?
Os cinco continentes desenharam o palco, onde depois de desfilarem os porta-estandartes, era suposto apenas os anéis olímpicos unirem os povos. Com os atletas a viverem tudo num patamar abaixo. Como que num concerto.
Mas isto ainda eram os Jogos Olímpicos. Onde o palco é para os atletas. Por isso, assim que foram libertados das amarras que os mantinham afastados na zona onde nos dias anteriores era a pista de atletismo, centenas de desportistas de todas as nações tomaram conta do mundo.
E nenhum «mesdames e messieurs atletas, por favor queiram sair do palco» os convenceu. Mais parecia uma prequela da ‘Missão Impossível’.
Por muito que o pedido fosse repetido, em francês e inglês, era vê-los aproveitar o seu momento. O seu palco. Onde, entretanto, os concertos começaram, com o público a dar pouco mais do que espaço para os músicos se moverem.
Se eles tinham «mesmo de sair do palco para o espetáculo continuar», a cerimónia não seguiria. Mas seguiu. Deu foi um trabalho inesperado aos seguranças que foram obrigados a subir também eles ao palco para, ao fim de largos minutos, conseguirem que todos os atletas descessem, finalmente, e ocupassem o lugar secundário que lhes estava reservado.
E de repente, numa cerimónia que estava a ser mais um afago ao ego gaulês, com os ecrãs a exibirem os momentos que tiveram atletas da casa em destaque e, de vez em quando, darem espaço às outras figuras desta edição, aquele foi um beliscão doloroso.
Diríamos que o Stade de France não via uma invasão tão indesejada desde que um tal de Ederzito chutou mesmo dali e pintou Paris de verde e vermelho.
É verdade que depois a vida seguiu. Em 2016 e na cerimónia de encerramento. Mas a ferida no ego ficou lá marcada.
Hollywood chegou aos Jogos. Ou vice-versa
Passada a euforia do momento que não estava no guião – e que por isso teve mais piada -, muitos atletas começaram a abandonar o estádio. As clareiras foram aumentando, ao ritmo que os discursos de encerramento se arrastavam… até novo pico de emoções fortes.
A despedida dos Jogos Olímpicos de Paris começou com Tom Cruise a atirar-se do teto do estádio preso a um cabo, e aterrar ali na costa leste dos EUA do palco.
E foi ver muitos dos atletas a renovarem forças para receber o ator de Hollywood e tentar uma foto ou um vídeo enquanto ele se dirigia ao palco, onde estava Simone Biles – com uma bota ortopédica na perna esquerda – para lhe entregar a bandeira olímpica. De estrela para estrela. De mundos diferentes, apesar de partilharem o país.
Tom Cruise arrancou depois de moto, enfiou-se num avião sem os sobressaltos cinematográficos e a (e)missão passou para Los Angeles.
Mudou logo o tom! A festa passou a ser vivida à grande e à americana, com Red Hot Chili Peppers, Billie Eilish e, claro, Snoop Dog. O inesperado elo Paris-LA que se tornou um ícone olímpico pouco expectável de Paris 2024.
Et voilà! Despediu-se França.
É tempo, então, para os EUA receberem e assumirem: agora é «My way». Com todo o fogo de artifício que se espera para em 2028.