
— Como começou a ligação ao Benfica?
— Sou alentejano, natural de Reguengos de Monsaraz, joguei no Atlético de Reguengos que depois fiz a transição para a formação do Benfica, a partir do escalão de sub-15, onde fui residente. Fiquei três épocas no clube e foi aí que tive a oportunidade e o privilégio enorme de desenvolver atividade com muitos craques, como o Bernardo Silva, João Cancelo, Hélder Costa, o próprio Ederson, o Bruno Varela, o João Teixeira. É um grande orgulho ter podido ter presenciado o desenvolvimento deles e também me ajuda muito a desenvolver aqui o que é a minha atividade profissional hoje em dia, perceber como é que eles eram, as dificuldades que tiveram de superar, ajuda-me muito a entender este processo de desenvolvimento a longo prazo e de formação de jogadores para o mais alto patamar profissional.
— Em que consiste a sua função no Benfica?
— Em várias tarefas, desde logo aquilo que é a coordenação técnica e o trabalho com os treinadores para que, de forma indireta, possa auxiliá-los na aplicação da metodologia do Benfica nos nossos jogadores. Há um constante trabalho de reformulação e de atualização da metodologia do clube, ao nível dos modelos de jogo, modelos de treino, modelos de jogador, planos de desenvolvimento individual e tenho também função de, em alinhamento com o departamento de prospeção, estar envolvido também nesse processo de seleção dos jogadores.
— Qual o maior foco do Benfica para atletas dos benjamins (sub-11) e dos infantis (sub-13)?
— É o desenvolvimento técnico e o desenvolvimento da qualidade do movimento dos jogadores. Nunca descurando a formação de homens de forma qualificado, claro, e para isso temos um modelo multidisciplinar. Ao invés de nós participarmos nos campeonatos distritais, encontrámos um modelo que para nós é mais eficiente, porque no mesmo período conseguimos desenvolver o jogador em várias dimensões. E isso está substanciado em dois grandes argumentos.
— Quais são?
— Por um lado, sentimos que em determinado momento os campeonatos distritais no início poderiam não ser tão competitivos para aquilo que era a formação dos nossos jogadores. E ao invés disso, nós temos a capacidade de escolher contra quem queremos jogar. Basicamente, nós jogamos contra as mesmas equipas com que jogávamos no campeonato distrital. Jogamos é contra o escalão, ou dois escalões acima. O que para nós é importante porque também mantemos as relações com os clubes, que queremos sempre preservar. Os jogadores jogam contra equipas diferentes, mas jogam com um nível de dificuldade que no nosso entender é ajustado àquilo que é o desenvolvimento deles. Por outro lado, também do ponto de vista mais daquilo que é a eficiência do modelo e olhando a questões logísticas, se nós imaginarmos uma família que vem de Setúbal, já demora por si só uns 45 minutos a chegar aqui à nossa atividade. Se nós tivéssemos um jogo do campeonato distrital, em condições normais o nosso jogador iria jogar 25, 30 minutos durante toda a manhã. O que no nosso entender era manifestamente pouco para aquilo que estava a ser um investimento até da própria família.