Ivo Oliveira não tinha um alvo na testa. Tinha-o sim nas costas. Estar na frente de uma corrida é ser a luz ao fundo do túnel para quem vem atrás, o objetivo visível dos perseguidores. É, com poucos recursos, combater a maioria de interessados em tomar a dianteira.

Neste exercício de sobrevivência, as pernas de Ivo Oliveira nunca cederam à adrenalina de terem que ser mais desenvoltas do que as do pelotão. O mesmo não aconteceu com os restantes seis elementos do grupo com quem o português se pôs a monte por volta dos 120 quilómetros. O ciclista da UAE Emirates e Sjoerd Bax mantiveram o desempenho hirto até final, eliminando camaradas de fuga para se tornarem cabecilhas do grupo.

Ivo Oliveira e o neerlandês da Q36.5 ainda sentiram o pelotão rasar-lhes a crença de que era nessa dupla que estaria o vencedor da quarta e última etapa do Giro d'Abruzzo, mas nada de mal aconteceu. Entreolharam-se. Uma. E. Outra. Vez. O algoritmo de atribuição de logros guiou-se pela métrica da velocidade ao sprint e escolheu Ivo Oliveira como vencedor na chegada a Isola del Gran Sasso d'Italia.

Foi a segunda vez que o corredor de Gaia ganhou uma corrida nesta edição da prova italiana. Desacreditado pelos mais de 14 minutos de desvantagem na classificação geral, a concorrência deixou-o ir. Na retaguarda, discutia-se essa mesma classificação geral que Georg Zimmermann arrecadou.

“Há dois dias estava nas nuvens, não sei dizer onde estou agora”, suspirou Oliveira que agradeceu à equipa pela “oportunidade”. Numa altura em que “é muito difícil ganhar uma corrida”, o ciclista considera “fantástico” tê-lo feito duas vezes em quatro dias.

No Giro d'Abruzzo, uma prova que conta apenas com duas equipas do World Tour, a UAE Emirates ganhou três das quatro etapas. O bis de Ivo Oliveira fez com que o número de vitórias dos ciclistas nacionais que correm por conjuntos do escalão máximo da modalidade tenha chegado às nove.