João Pereira, técnico do Casa Pia, revelou que tem continuidade assegurada, mas deixou em aberto o futuro, não garantindo que se mantenha à frente dos gansos na próxima época. O treinador de 33 anos voltou a insurgir-se com as limitações impostas aos treinadores portugueses na evolução da carreira e obtenção dos níveis necessários para a conseguir. O tema foi abordado quando, no decorrer da conferência de imprensa de antevisão à visita dos gansos ao Famalicão, às 19 horas desta sexta-feira, foi desafiado a revelar se vai continuar à frente do emblema de Pina Manique.

"Tenho renovação automática, acredito muito no projeto, estou feliz aqui, mas não sabemos o que vai acontecer. O mais natural é continuar, mas tenho cláusula que pode ser batida. O que mais me tira o sono é o curso de treinadores. O que é preciso fazer mais para merecer uma oportunidade, nem que seja a título excecional? Todos os anos há exceções. Será que não chega ganhar ao Benfica? Ganhar duas vezes ao Sp. Braga? Bater os recordes que batemos? Abdiquei de tirar o curso na Escócia para o tirar em Portugal. Aproveito para sensibilizar as pessoas competentes que têm aqui um treinador jovem. Posso dizer que o telefone tocou a meio da época. Para uma 2ª Liga inglesa. Perguntaram se tinha o curso UEFA Pro e eu tive de dizer que não. 'Então, nada feito', foi a resposta. Portugal tinha a oportunidade de valorizar um treinador jovem, o Casa Pia sairia altamente valorizado, porque foi esta direção que apostou num treinador da 3ª Divisão, demos provas de trabalho. O que é preciso fazer mais?", insistiu.

Quanto ao jogo propriamente dito e à abordagem reservada para a visita a Famalicão, João Pereira defendeu: "Ninguém se irá lembrar da vitória em Braga e sobre o Sp. Braga, em Rio Maior, se não conseguirmos novamente uma vitória. Até porque sabemos perfeitamente o historial fora de portas [4 vitória, 5 empates, 7 derrotas], que nós queremos inverter. Mesmo antes do recorde de pontos e de vitórias, o registo do Casa Pia está a ser positivo, desde o recorde de vendas, ao recorde do jogador mais jovem a estrear-se e como titular [Renato Nhaga, com 18 anos]."

"Férias? Não pode. Isso depende do caráter das pessoas. São os últimos 90 minutos da época, são os mais marcantes, temos de os encarar como uma final", sustentou o treinador do Casa Pia, que procura dar minutos aos jogadores menos utilizados: "É sempre difícil chegar ao fim e agradar a todos. Falta-nos um jogador para poder dar essa oportunidade, que é o Khaly, mas todos a merecem e vamos ver o que se consegue fazer."

Quanto à avaliação de ser "ridículo" feita por Ian Cathro, treinador do Estoril, de ser atribuída a mesma recompensa ao 7.º ou 8.º classificado, João Pereira expôs a sua visão. "É sempre mais fácil falarmos daquilo que são os extremos, de quem vai ser campeão e quem está na luta pela permanência. Mas temos de olhar para os projetos e os argumentos que cada um tem. Neste caso concreto, no nosso jogo, a pressão não está do nosso lado, está do lado do Famalicão. Sabemos perfeitamente há quanto tempo o Famalicão procura chegar aos lugares europeus, qual é os seu orçamento e não podemos comparar com o nosso. Podemos e devemos olhar para projetos como o Estoril, o Casa Pia, o Santa Clara que, com menos, conseguem bater-se com quem tem mais e deviam ser valorizados com mais critério", sustentou, particularizando: "Só dessa forma iremos crescer na tabela da FIFA. A Holanda, por exemplo, vai ter nove equipas nas competições europeias. O Fortuna Sittard está no 9.º lugar e pode ir ao Playoff da Liga Conferência. Não há só Ajax, nem só PSV, há uma série de equipas que são valorizadas. É sempre difícil chegar ao fim e agradar a todos. Falta-nos um jogador para poder dar essa oportunidade, que é o Khaly, mas todos a merecem e vamos ver o que se consegue fazer."

Continuidade à parte, o técnico garantiu que o futuro do Casa Pia já está a ser planificado. "Já estamos a preparar a próxima época, mas o Casa Pia é um clube vendedor, o nosso objetivo é valorizar jogadores, o mercado vai ditar quem vai ficar e quem sai", vaticinou. Face à despedida de Lelo, que termina contrato e já se comprometeu com o Sp. Braga, João Pereira perspetivou a próxima época: "Benaissa já é um reforço de janeiro, mas precisa de mais oportunidades do que as que teve, e aí a culpa é do treinador e do Lelo, que fez uma excelente época. Acreditamos muito nele e tenho a certeza que vai estar no radar de muitos clubes. Contamos com ele para a próxima temporada."