O que se viu de novo
Um Benfica que parece trazer de novo algumas dinâmicas do primeiro ano de Schimidt. Pressão alta eficaz, grande reação à perda, novas ligações criadas. Na 1.ª parte, os encarnados vulgarizaram o Feyenoord, marcaram quatro golos e poderiam ter sido mais, com destaque para a exibição de Prestianni (é mesmo verdade que não contava para Schmidt?) e para a facilidade de Pavlidis se mover na área. Os reforços (isto se ainda pudermos considerar o argentino um reforço), aliás, tiveram ligação umbilical à vitória, aos golos, ao melhor que o Benfica fez neste jogo da Eusébio Cup.
Aos 16 minutos, o Benfica já vencia por 4-0, graças a uma pressão sufocante que se juntou a um descalabro defensivo de uma equipa agora órfã de Arne Slot, treinador que seguiu para Liverpool. Mas mesmo com um adversário muito frágil no processo defensivo, o Benfica teve mérito na forma como construiu cedo a vantagem, com o último golo a aparecer já no final, por Arthur Cabral. No 1-0, Pavlidis mostrou presença na área, capacidade de guardar a bola, com Prestianni a responder com um remate cruzado esplendoroso. Aos 13’, de novo o jovem argentino na jogada, no lado direito, a lançar João Mário (bom jogo também), que deu atrasado para Pavlidis encostar, como encostaria no 3.º, onde mais duas novas caras foram decisivas: Leandro Barreiro na forma como recuperou a bola e avançou no terreno e Jan-Niklas Beste no cruzamento a partir das esquerda. Beste que ainda marcaria de livre.
Na 2.ª parte, o Feyenoord equilibrou o jogo, também perante a diferença de ritmo do Benfica, que baixou de uma quinta mudança para uma, quanto muito, segunda. Ainda assim, pouco foi permitido no ataque aos neerlandeses, cujas poucas oportunidades chegaram de momentâneas faltas de atenção encarnadas. Tiago Gouveia voltou a entrar para ala direito - parece aposta de Schmidt para essa posição, onde ainda há carências no plantel encarnado.
Fica então um bom teste para o Benfica, mais um, com a ideia que, este ano, houve acerto nas contratações.
Os reforços
De onde saiu este Gianluca Prestianni, que parecia prontinho para entrar no carrossel de empréstimos do Benfica? A ser verdade que não contaria para Schmidt, a resposta do jovem argentino é notável. Sem medo de arriscar no remate, marcou aos 9’, esteve no segundo golo e ainda rematou à barra aos 38’. Com liberdade no corredor central, deu soluções, com processos simples e a olhar de frente para o jogo. Não sendo reforço, é reforço. Saiu ao intervalo, para alívio, seguramente, dos jogadores do Feyenoord.
Já Jan-Niklas Beste trouxe de novo agressividade e a capacidade de atacar a linha e cruzar que tinha ido embora no mesmo avião que Grimaldo. O alemão é uma excelente mais-valia a atacar, resta perceber como se sairá em jogos mais exigentes do ponto de vista defensivo. Marcou de livre direto, ainda que com a ajuda da barreira, e ainda ofereceu uma assistência. Carreras, na 2.ª parte, também fez um bom jogo. A concorrência será benéfica para Schmidt.
Vangelis Pavlidis continua a marcar que se farta, este domingo foram mais dois golos e ainda esteve no primeiro golo do Benfica. Não sendo o avançado mais elegante, fareja o golo e tem grande facilidade de remate. O avançado efetivo que pareceu faltar ao Benfica na última época. Boa exibição também de Leandro Barreiro, agressivo na pressão, na recuperação de bolas e na hora de levar o jogo para a frente. Único jogador de campo a fazer os 90 minutos.
Roger Schmidt lançou ainda Bajrami, João Rego e Martim Neto, gente do Seixal, sem grande tempo ou oportunidades no jogo para anunciarem a sua chegada.
Como começou
Anatoliy Trubin; Alexander Bah, Morato, Tomás Araújo, Jan-Niklas Beste; Florentino, Leandro Barreiro, João Mário, Frederik Aursnes, Gianluca Prestianni, Pavlidis
Como acabou
Anatoliy Trubin; Tiago Gouveia, António Silva, Adrian Bajrami, Alvaro Carreras; Martim Neto, Leandro Barreiro, David Neres, João Rego, Marcos Leonardo, Arthur Cabral
O melhor
Pela influência que teve no resultado e pelo que foi oferecendo à manobra ofensiva do Benfica, Gianluca Prestianni merece a distinção. Excelentes 45 minutos do argentino de apenas 18 anos, já de grande personalidade, a distribuir soluções em qualquer um dos corredores. Seguramente o Benfica já não irá abrir mão da sua continuidade.
A banda sonora
Prestianni vem de Ciudadela, a uma rua de distância de Buenos Aires, a mesma cidade de Thiago Almada, Fernando Gago ou Carlitos Tevez. Ainda que este domingo o jovem do Benfica tenha sido todo ele alegria, na beleza dos remates, na facilidade em mover a bola, até na pureza dos dentes ainda desalinhados, por aquelas terras dançam-se tangos demorados e cantam-se tristezas, como Tomi Lebrero, também ele daquelas paragens.