O que se viu de novo
Montar um onze e dar-lhe indicações que nada têm a ver com o que o jogo pede. A pré-época concede esta benesse aos treinadores e eles abraçam-na para criarem rotinas na equipa. As ideias frescas de Vítor Bruno, como no caso de qualquer outro técnico recém-entrado numa equipa, suplicam por consolidação.
Apesar de tudo, o Áustria Viena tentou ser uma equipa hostil e Alan Varela não conseguiu extinguir tantas ocorrências. Pediu-se ao argentino que fosse a embalagem das varinhas mágicas de André Franco e Iván Jaime, o que nem sempre correu bem. O bloco médio do FC Porto organizava-se em 4x2x2x2. Iván Jaime e Fran Navarro montavam uma primeira linha de pressão. André Franco e Alan Varela vigiavam o miolo. Ao mesmo tempo, os extremos, Galeno e Gonçalo Borges, fechavam ligeiramente por dentro para evitar o jogo entre linhas do adversário ao mesmo tempo que também criavam superioridade para anular a construção a três do conjunto da Bundesliga Austríaca.
Por parte de Vítor Bruno, entendeu-se a inabalável vontade de sair a jogar nem que para isso os laterais, Martim Fernandes e Gabriel Brás, tivessem que baixar ao ponto de ambos estarem praticamente a conceder linhas de passe perto das bandeirolas de canto. Não beneficiou nenhum dos dois, mas ajudou a libertar Galeno e Gonçalo Borges metros mais à frente.
Ultrapassada a primeira fase de construção, os azuis e brancos optavam por uma saída a três, com Gabriel Brás a juntar-se a Otávio e Zé Pedro. Gonçalo Borges oferecia largura à direita e o mesmo tipo de opção dava Martim Fernandes à esquerda.
Depois de vencer o Al Arabi (4-0) no primeiro jogo da digressão pela Áustria, o FC Porto deu seguimento aos bons resultados obtidos na pré-época. André Franco marcou o primeiro golo do encontro. O Áustria Viena, que vinha a criar perigo desde o início, empatou por intermédio de Lucas Galvão. Na segunda parte, Gonçalo Borges e Nico González definiram o 3-1 num jogo em que a catadupa de trocas nos dragões só começou aos 60 minutos.
Os reforços
Como se sabe, novos jogadores propriamente ditos, não há. No entanto, houve alguém que tentou pelo menos reforçar o estatuto e não conseguiu. O exame para entrar na Ordem Profissional do Guarda-Redes deverá sempre contemplar um teste de paciência. Samuel Portugal está a iniciar a terceira época no FC Porto e custou 4 milhões de euros. Uma pesquisa enciclopédica que, para tentar ser o mais precisa possível, valeu uma viagem ao tempo em que as bases de dados nasciam em papiro concluiu o seguinte: o brasileiro tem um total de zero jogos oficiais ao serviço dos dragões. Vê-lo entre os postes é, isso sim, um feito quase histórico.
No jogo contra o Al Arabi, Vítor Bruno utilizou Cláudio Ramos e Diogo Fernandes, deixando Samuel Portugal aos apalpões em relação à posição que ocupa na hierarquia. Tudo sem contar com o titularíssimo Diogo Costa que ainda se encontra ausente após ter representado a seleção portuguesa no Euro 2024.
O guarda-redes de 30 anos (sim, também já não é menino nenhum) não aproveitou para encher o papo com recurso à velha máxima por todos odiada do “quem vai ao ar, perde o lugar”. Nem com Diogo Costa a dar forte nos mojitos Samuel Portugal foi arguto. Tentou ser suporte da primeira fase de construção, por vezes até mais adiantado do que os centrais, mas um par de varas não sustenta um projeto de caixa-forte. A vontade de jogar com os pés, mesmo com erros cavalares, permitiu à equipa imaginar o que quer Vítor Bruno daquele posto quando o verdadeiro dono da baliza regressar.
Como começou
Samuel Portugal, Gabriel Brás, Zé Pedro, Otávio Ataíde, Martim Fernandes, Alan Varela, André Franco, Gonçalo Borges, Wenderson Galeno Iván Jaime e Fran Navarro
Como acabou
Samuel Portugal, João Mário, Zé Pedro, David Carmo, Martim Fernandes, Marko Grujic, Nico González, Gonçalo Sousa, Wenderson Galeno, Vasco Sousa e Danny Namaso
O melhor
Nesta fase, a tentativa também é merecedora de elogios e, na primeira parte, Gonçalo Borges forçou jogadas individuais no corredor direito. Na teia montada por Vítor Bruno ficava patente a vontade de dar protagonismo ao extremo ou não tivesse Gabriel Brás sido colocado sobre a direita para funcionar como lateral retraído e dar todo o protagonismo do flanco ao camisola 70.
Na segunda parte, Gonçalo Borges, que era um dos poucos cujas pernas obedecia às ordens da cabeça, fez o que lhe estava destinado: golo de trivela e assistência perfeita para a cabeça de Nico González.
A banda sonora
Ver Fran Navarro a cruzar para André Franco marcar o primeiro golo do jogo seria impossível se Sérgio Conceição ainda fosse técnico do FC Porto. Iván Jaime igualmente ululou pela vegetação rasteira onde se defrontaram as equipas. Entretanto, David Carmo também fez a sua aparição. Todos estes nomes, com quem, para já, Vítor Bruno parece contar, foram rotulados por excedentários pelo técnico anterior e parecem estar a ganhar uma nova alma. Guess who’s back, canta Eminem em “Without Me”, um hino a adotar pelos ex-dissidentes.