Por muito que se tente dissociar Bronny James do nome que carrega, essa tarefa será sempre incompleta. Ser o filho de LeBron James é como nascer com um holofote apontado ao berço — há uma aura que o precede, expectativas que o seguem e comparações que nunca cessarão. No entanto, se a primeira época na NBA serviu para Bronny descobrir o seu lugar num palco que não perdoa promessas mal sustentadas, a segunda época será, por fim, a oportunidade para mostrar quem ele é para lá do sobrenome.

A estreia de Bronny na liga — marcada por poucas aparições, algum nervosismo inicial e uma integração cuidadosa — foi menos um palco de afirmação e mais um laboratório de aprendizagem. E isso, por muito que frustre os que esperavam fogos-de-artifício, é perfeitamente natural. A entrada de rookies na NBA raramente é linear, mesmo para os mais cotados. Basta olhar para jogadores como Jalen Suggs, Josh Giddey ou Tyrese Haliburton, cujas segundas épocas mostraram um salto qualitativo sustentado pela experiência, minutos de jogo e confiança. Bronny, apesar de não ter entrado na liga com o mesmo hype técnico, tem agora o mesmo desafio: provar que é um jogador de NBA por mérito próprio, e não por afinidade genética.

Bronny nunca foi — e provavelmente nunca será — um jogador “highlight reel”. Ao contrário do pai, não é explosivo, nem fisicamente avassalador, nem vocal no jogo. Mas há mérito no detalhe: Bronny é um base com inteligência tática acima da média para a idade, capacidade defensiva sólida no ponto de ataque e uma leitura coletiva do jogo que muitos rookies só adquirem depois de duas ou três épocas. O seu perfil lembra, a espaços, jogadores como Davion Mitchell ou Delon Wright: discretos, mas fundamentais no equilíbrio das rotações.

Na NBA contemporânea, marcada pela velocidade, versatilidade e tiro exterior, jogadores com a capacidade de defender múltiplas posições no perímetro, tomar boas decisões em transição e saber quando abrandar o ritmo são cada vez mais valiosos. Bronny poderá nunca ser um franchise player — e provavelmente nem um titular indiscutível — mas pode vir a ser um “glue guy”, o tipo de jogador que faz pequenas coisas que não aparecem na folha estatística mas que os treinadores valorizam profundamente.

A sombra do legado e o risco da sobre-exposição

O maior obstáculo de Bronny James pode não estar nas suas limitações técnicas, mas sim na narrativa que o rodeia. A decisão de LeBron em continuar nos Lakers para jogar ao lado do filho criou um cenário inédito na história da liga, mas também carregado de simbolismo e armadilhas emocionais. A presença simultânea de pai e filho pode parecer, à primeira vista, um conto de fadas moderno — mas será também uma distração mediática constante, um campo minado para a imprensa e uma pressão silenciosa dentro do balneário.

Quantos minutos Bronny joga porque os merece, e quantos joga porque é filho de LeBron? É uma pergunta injusta, mas inevitável. A sua segunda época será crítica nesse sentido: ou começa a construir a sua própria narrativa desportiva — com base no desempenho, consistência e fiabilidade — ou continuará a ser visto como o apêndice de uma lenda viva.

Historicamente, a segunda época na NBA costuma ser o ponto de inflexão para muitos jogadores em busca de identidade. É quando o estatuto de rookie desaparece e o espaço para desculpas encolhe. Jogadores como Derrick White, Bruce Brown ou Austin Reaves transformaram-se de desconhecidos em peças fundamentais entre o segundo e o terceiro ano. O salto não é apenas físico — é mental. Com o Summer League como ponto de partida e uma pré-época sem as dores de adaptação iniciais, Bronny terá mais tempo de jogo, mais liberdade ofensiva e, com isso, mais espaço para errar. E é precisamente nos erros — nos turnovers, nos maus lançamentos, nas falhas de leitura — que surgem as aprendizagens que moldam jogadores sólidos.

A questão será perceber se a equipa técnica dos Lakers (ou de qualquer outro contexto futuro, caso seja emprestado ou trocado) está disposta a oferecer-lhe esses minutos de desenvolvimento real, ou se a pressão dos resultados continuará a encurtar as rotações, como é habitual em equipas com ambições de título.

O nome não joga, mas pesa

A analogia com outros “filhos de” na NBA pode ajudar a equilibrar as expectativas. Gary Payton II, por exemplo, precisou de quase seis anos e várias passagens por G-League para encontrar um lugar estável na liga — e só depois disso pôde construir uma identidade distinta da do pai. Tim Hardaway Jr. demorou, mas tornou-se um jogador fiável. Nem todos brilham ao nível da linhagem que carregam, mas isso não impede que se tornem jogadores valiosos.

Bronny está num momento em que precisa de ser tratado — e analisado — como um jovem jogador em desenvolvimento, e não como “o filho do Rei”. A grande ironia é que, para se afirmar como profissional, terá de fazer esquecer precisamente aquilo que o tornou conhecido.

A segunda época de Bronny James será, em muitos sentidos, o seu verdadeiro início na NBA. Com o turbilhão da estreia ultrapassado e uma pré-temporada focada no crescimento individual, chega a fase em que o potencial tem de se transformar em produção. Não se trata de provar que é um futuro All-Star — trata-se de provar que pertence a este nível, e que tem valor para além do apelido.