
Está constantemente a defender com a equipa na linha lateral. Usa um daqueles relógios que contam os passos para ter noção dos quilómetros que faz por jogo?
Não. Já me aconselharam a fazê-lo, mas nunca pus em prática. Deve ser por medo de constatar uma realidade que, se calhar, não me vai agradar. A envolvência leva-me a patamares de adrenalina altos. Ao mesmo tempo, tenho que controlar as emoções para passar o que tenho que passar para dentro do campo.
Sente que está a transmitir uma mensagem sem usar palavras?
Certo. Os treinadores fazem parte do jogo, não é só nos descontos de tempo ou no planeamento. Se estivermos felizes, confiantes, ativos, acabamos por fazer com que a equipa esteja mais próxima do que nós queremos.
Não. Já me aconselharam a fazê-lo, mas nunca pus em prática. Deve ser por medo de constatar uma realidade que, se calhar, não me vai agradar. A envolvência leva-me a patamares de adrenalina altos. Ao mesmo tempo, tenho que controlar as emoções para passar o que tenho que passar para dentro do campo.
Sente que está a transmitir uma mensagem sem usar palavras?
A defesa é o ponto de partida na sua filosofia?
A defesa é fundamental. Por vezes, o insucesso ofensivo leva a que mais rapidamente a frustração tome conta de nós e percamos o foco no que é importante fazer. Não podemos dramatizar quando um lançamento não entra ou quando perdemos alguma bola. É importante estarmos focados em termos defensivos, porque mantemos o jogo vivo e o resultado próximo.
Custa mais a um treinador o triplo aberto que não cai ou a desconcentração defensiva que permite um lançamento fácil ao adversário?
Claramente a desconcentração defensiva. O basquetebol é um jogo de precisão, as percentagens falam por si. Nem todas as bolas vão entrar. Em termos defensivos, se estivermos concentrados, podemos não falhar. Quando isso acontece, vamos vencer o jogo certamente.
Foi entregar a Taça de Portugal ao museu do FC Porto. Esta conquista é um checkpoint que valida o trabalho que tem vindo a ser feito?
De certa forma, sim. Depois de termos começado com a vitória na Supertaça e a continuidade do trabalho se ter refletido numa Taça de Portugal, significa que, pelo menos, alguma coisa está a ser bem feita. Sinto a equipa motivada, concentrada e confiante. Isso vem do trabalho diário, do treino. As coisas não acontecem naquele momento [em que se conquistam os títulos]. Acontecem, porque há muita coisa para trás. Estou satisfeito com o trabalho que a equipa tem vindo a desenvolver, abre expectativas relativamente ao futuro.
O presidente, André Villas-Boas, não o deixou esquecer-se do objetivo número um. O FC Porto está há nove anos sem ganhar o campeonato. É nisso que pensa todos os dias quando acorda?
É algo que está constantemente presente na minha cabeça e tento fazer com que esteja presente na equipa e em todas as pessoas com quem trabalho. Não podemos perder o foco nesse objetivo. Se dentro deste grupo houver uma pessoa que não acredite ou não esteja motivada para isso, as coisas tornam-se mais complicadas.
Enquanto jogador, deixou três campeonatos, cinco Taças de Portugal e duas Supertaças no museu. Enquanto treinador, quer deixar um espólio ainda maior?
Isso era fantástico. Tenho contrato até 2027. Se, no futuro, juntarmos mais Taças, Supertaças e campeonatos, ficaria muito satisfeito pela forma bastante saudável como o basquetebol vai estando dentro do clube, pela riqueza que há no museu relativamente à modalidade e, acima de tudo, é o reflexo da evolução dos treinadores e dos jogadores. Dá-nos perspetivas futuras mais otimistas. É um sonho que vamos lutar para concretizar.
Depois de 11 anos como jogador do FC Porto, está na terceira época como treinador. Estamos perante um caso flagrante de alguém que está na cadeira de sonho?
Estou onde quero e sonhei estar. Ver como as coisas estão a correr, a ligação com os adeptos e a forma saudável como o basquetebol vai estando dentro do clube deixa-me muito satisfeito.
O que é que sente todos os dias quando chega ao Dragão Arena para treinar?
Não preciso de me esforçar muito para que se sinta que é como se fosse o primeiro dia. A motivação tem que estar no máximo. Os jogadores merecem e a isso o obrigam, assim como o clube. Às vezes ganha-se, outras perde-se. Independentemente dos resultados das competições, a nossa responsabilidade para atingir os objetivos propostos tem que ser diária. Honestamente, entro no clube sempre com muita satisfação. Sou um dos poucos privilegiados de fazer aquilo que gosto e, ainda por cima, no sítio que gosto.
Como disse, às vezes ganha-se, outras perde-se. No entanto, qual é a marca identitária que sente que já deixou?
Temos vencido muito mais do que temos perdido. Apesar de não termos campeonatos, temos muitas coisas que me deixam satisfeito: as expectativas que estamos a criar relativamente ao futuro, os títulos e a ligação com os adeptos. Os adeptos veem a modalidade com alegria e boa-disposição, acho que são bons momentos que passam lá dentro [do pavilhão]. Os jogadores e toda a estrutura representam a forma como eu acho que se deve estar quando se representa o FC Porto. Isso cativa. Sei que não vamos ganhar sempre, mas espero que cada vez seja mais frequente.
Mais uma vez, o FC Porto voltou a ter um desempenho relevante na FIBA Europe Cup. Conseguiram ganhar ao PAOK, a uma equipa da ACB (Casademont Zaragoza) com um jogador que uns dias depois estava a assinar pelo Fenerbahçe (Jilson Bango) e ganhar na Turquia (em casa do Tofas). Custou-lhe não ter pelo menos igualado a prestação do ano anterior, em que chegaram aos quartos de final?
Custou fundamentalmente porque acho que se instalou na equipa, quando entrámos nesse grupo, o sentimento de que era impossível conseguirmos o apuramento. A vitória em casa contra o Casademont Zaragoza abriu-nos expectativas. Se tivéssemos acreditado desde o início... Tivemos vários momentos que foram fatais. No jogo em Zaragoza, a dois minutos do fim, estamos a perder por quatro pontos e acabamos por perder por 16. Se tivéssemos mantido a diferença pontual, tínhamos conseguido o apuramento. A derrota na Grécia não foi por falta de qualidade ou empenho, não víamos grandes expectativas relativamente ao futuro. Se tivéssemos mudado essa forma de pensar, podíamos ainda estar em competição.
É esse tipo de jogos que fazem um treinador sentir-se verdadeiramente treinador?
É uma pergunta complicada. Da mesma forma que os jogos da FIBA Europe Cup me podem fazer sentir treinador, também me quero sentir treinador nos jogos em que temos obrigação de ganhar com mais facilidade. Tento fazer o melhor nas duas extremidades para que me sinta melhor a cada dia. Evidentemente que as coisas não correm sempre como queremos. Não tenho dificuldade em motivar uma equipa para jogar contra o Benfica, contra o Sporting, contra o Tofas ou contra o Casademont Zaragoza, mas temos tido dificuldade em arranjar motivação contra equipas que temos obrigação de vencer. Isso preocupa-me. Do mesmo modo que um [caso] não faz de mim melhor treinador, o outro também não me faz pior. É um processo normal. Arranjar motivação para alguns jogos é um problema geral em todos os desportos. No campeonato, temos duas derrotas - uma com o Vitória SC e outra com a Ovarense, em casa - que foram o reflexo disso. Acabámos por achar que, mais tarde ou mais cedo, íamos vencer. As outras equipas têm qualidade e lutam com grande afinco quando jogam contra nós. Mesmo assim, devíamos ter tido capacidade de vencer e não conseguimos.
Referia-me mais ao scouting, à deteção de vantagens. É um treinador obcecado com esse aspeto?
É fundamental. Não se pode estar a este nível se não estivermos bem preparados. No basquetebol, as vantagens são fugazes. Ou aproveitamos naquele momento ou ela vai desaparecer. Quando nos preparamos, tentamos minimizar os mismatches das equipas adversárias e explorar os nossos. Aquilo que nos parece um mismatch desfavorável num jogo contra o Tofas, pela nossa concentração e motivação para aquele jogo, ele não acontece. Nesse encontro, tivemos um jogador de 1,80m a defender outro de 2,10m e a não o deixar marcar dois pontos. Quando vimos para outras realidades, parece que o mismatch se verifica com mais facilidade. Para além do scouting, que é importantíssimo, a questão mental faz toda a diferença a este nível.
Onde é que guarda o playbook, o sítio onde compila as jogadas para recorrer nos momentos de maior pressão?
Tenho tudo informatizado. No dia do jogo, levamos o plano de jogo para o banco com soluções ofensivas e defensivas para pormos em prática em determinado momento. Podem ser reposições de bola, jogadas para um lançamento rápido ou jogadas com mais tempo de ataque. Isso tem que estar sempre pronto. O nível da minha equipa obriga a que estejamos sempre prontos, porque os jogadores questionam tudo e mais alguma coisa. Isso é muito importante para mim, leva-me a estar preparado para as situações de jogo e para as situações de treino.
Esse documento é algo que nasce no início da época, durante a preparação?
Sim, mas eu não sou daqueles treinadores que prepara as semanas de treino, os mesociclos e microciclos. Em tempos, já o fiz. Neste momento, são coisas que vão para o lixo na maioria das vezes. As exigências que o treino me dá e as alternativas que os jogadores me propõem levam a que a preparação seja quase diária. Obviamente, há uma linha de pensamento coerente, mas sempre com foco naquilo em que podemos avançar. Na maior parte das vezes, quando preparava os treinos com antecedência, achava que estava a atrasar o meu trabalho. Quando a equipa está pronta para avançar, temos que ter capacidade para, de um dia para o outro, dar um passo em frente. Caso contrário, a motivação dos jogadores baixa e o nível de treino também.
Como disse há pouco, o basquetebol é uma modalidade de precisão e uma parte do treino é muito individual. Nos outros aspetos, aqueles em que intervém, em que é que se foca mais?
Nesta fase da época, para que nos jogos as coisas pareçam o mais normal possível, estamos a trabalhar muito finalização dentro de situações ofensivas. No entanto, as rotinas defensivas, individuais e coletivas, não saem do nosso pensamento. Em termos ofensivos, estamos muito mais focados na concretização: lançamentos com saídas bloqueadas, após drible, spot ups, lances livres. Passa muito por aí.
É um treinador que gosta de desenhar os ataques de uma ponta à outra ou gosta de dar várias soluções ao portador da bola para que ele possa decidir?
Gosto de dar liberdade aos meus jogadores e acho que esta equipa tem isso. O jogo de basquetebol é muito rápido. Gosto de ter soluções ofensivas rápidas, seja em contra-ataque ou set plays. Não gosto de ter um set play em que a solução só aparece aos 20 segundos. Até aí, têm que aparecer mais duas ou três soluções. Depois, é a criatividade dos jogadores e as leituras. Toda a gente tem que saber o que está a acontecer e agir em conformidade. Dando liberdade aos jogadores, podemos ter muito mais soluções e criar mais dificuldades ao adversário.
Mora na qualidade dos jogadores a diferença entre treinar o Vitória SC, como fez durante 13 anos, e treinar o FC Porto?
Ter um Toney Douglas, ter um Wesley Washpun, ter um Miguel Maria Cardoso, dá-me algum conforto. Às vezes, gosto até de jogar com três bases ao mesmo tempo. Além destes, o Max Landis faz isso na perfeição, o Devyn Marble faz isso muito bem. Temos vários jogadores que podem exercer a função e, através da criatividade individual ou situações coletivas, de dois contra dois ou três contra três, arranjar as soluções que são mais convenientes para a equipa. Como diz o Guardiola, o que faz de nós melhores ou piores treinadores é ter melhores ou piores jogadores. Há muitos treinadores na nossa liga que trabalham muito bem, mas não têm o mesmo talento nas equipas que eu felizmente tenho oportunidade de ter. Esses treinadores acabam por fazer um trabalho tão bom como eu ou melhor.
Na final da Taça de Portugal do ano passado, o Toney Douglas teve nas mãos o último lançamento do encontro e podia ter tirado esse troféu ao FC Porto. Como surgiu a oportunidade de recrutá-lo ao Benfica?
Foi muito simples. Recebi um telefonema. Muito diretamente, ele disse que queria jogar no FC Porto e criaram-se condições para que pudesse vir. A contratação dele foi a mais simples de todas. Pressionei ou pedi à direção para contratarmos o Toney Douglas, porque, nos meus dois primeiros anos no FC Porto, tive excelentes equipas e excelentes jogadores, mas com algum receio de vencer. Esta equipa precisa de jogadores que estão habituados a ganhar, que não entram para o campo com medo de perder. Falando em específico do Toney Douglas, aí ele tem tido uma influência muito grande. O hábito que ele tem de vencer, o nível a que ele já jogou, juntando a isso a qualidade de todos os jogadores, veio-nos colocar numa situação mais próxima de vencer. Esta Taça de Portugal foi reflexo disso. Vínhamos de uma derrota com a Ovarense em casa [para o campeonato]. Na cabeça de toda a gente, nós estávamos a passar por um mau bocado. A forma como a equipa reagiu na meia-final contra o Benfica e na final contra o Sporting foi como se viesse de uma enorme série de vitórias consecutivas. A confiança estava em níveis altíssimos. O Toney Douglas tem uma influência grande na motivação dos colegas.
Por exemplo, na vitória em casa contra o PAOK, o FC Porto lançou mais vezes de três pontos do que de dois pontos. É um treinador livre de dogmas em relação ao lançamento exterior?
O basquetebol caminha muito para isso. Uma equipa tem que ter excelentes lançadores. Isso dá-nos um espaço muito diferente e maior relativamente a outras soluções. Sendo mais prático. Na Taça de Portugal, toda a gente falou nos dois grandes jogos que o Toney Douglas e o Tanner Omlid fizeram, do Miguel Queiroz ter sido MVP. Principalmente na final, tivemos um jogador que foi uma peça fundamental para a nossa vitória: o Max Landis. Ele teve um comportamento extremamente altruísta. Quando o Sporting passa para box and one [um jogador defende individualmente e os outros quatro à zona]. Foi o Max Landis que disse "deixem-me estar aqui", porque o defensor dele não estava a dar ajudas nenhumas.
O que torna o jogo num quatro contra quatro.
Certo. O roll dos nossos postes estava completamente liberto. O Queiroz fez um grande jogo, o Phil Phayne também. Os nossos bases tiveram um enorme número de assistências e criaram excelentes situações de lançamento. Isso foi fundamental. Indo ao encontro da questão, o facto de termos excelentes lançadores abre-nos muito espaço para outro tipo de jogo. Apesar de não sermos uma equipa que jogue muito de costas para o cesto, somos uma equipa que faz muitos cestos em bloqueio direto de variadíssimas formas: a partir do portador da bola, usando o lado forte e o lado fraco ou através do roll dos postes. Isso tem sido a nossa mais-valia. Independentemente da defesa do adversário, conseguimos ir buscar soluções ofensivas.
A quantidade de triplos é mais uma questão de leitura? Na NBA, há treinadores que dizem aos jogadores o número mínimo de triplos que eles têm que lançar por jogo.
Eu não digo isso. São circunstâncias que aparecem no jogo e temos que nos adaptar. Percebo que na NBA, quando há jogadores a lançarem nos 60%, acho que forçaria um bocadinho isso. Depois, obrigam os defensores a uma grande pressão e, como são extremamente desenvolvidos tecnicamente, rapidamente criam vantagens após o drible. Num nível diferente, temos um bocadinho isso no FC Porto. Temos excelentes lançadores, mas todos eles são capazes de penetrar, jogar bloqueio direto e jogar de costas para o cesto. Isso dá-nos uma variabilidade ofensiva muito grande.
Há algum treinador do qual beba mais na criação das suas ideias?
O Tuomas Iisalo que estava no Paris Basketball no ano passado. Foi para a NBA como adjunto dos Memphis Grizzlies e agora é o treinador principal. Estive com ele em Belgrado num clinic em que ele participou. Pelas conversas que tive com ele, por aquilo a que assisti e pelo que já vinha a acompanhar nos últimos dois anos, há aspetos que gosto de seguir e no qual acredito bastante. Em termos de transição defensiva, as equipas dele sofrem poucos pontos devido à metodologia que ele usa, à variedade e ao atleticismo que ele gosta de ter em todas as equipas. Pela forma como ele consegue que a equipa dele seja a mais agressiva, a que mais transições e contra-ataques faz. É fantástico. Não é fácil convencer jogadores com talento e ego a fazer isso. Tem muito sucesso pelo rigor e por colocar em prática aquilo em que acredita. Era ligeiramente mais fácil fazer isso no Paris Basketball, porque levou um conjunto de jogadores com ele do Bonn. Era uma transferência de metodologia, mas com jogadores já preparados para isso. Na NBA, não. Levou com um grupo de jogadores novo e está a conseguir fazer a mesma coisa. Para mim, isso é fantástico.
O Max Landis já anunciou que não vai continuar no FC Porto na próxima época. Chegou ao clube em 2019, mas teve muitos problemas com lesões e passou épocas inteiras indisponível. Visto de fora, pareceu sempre muito envolvido. É assim mesmo?
O Max Landis é um jogador de guerra e resiliência. Ultrapassou grandes dificuldades. Toda a gente pensava que ele já tinha acabado. Estamos a falar de alguém que já teve ruturas dos ligamentos cruzados do joelho esquerdo e direito. No ano passado, rompeu o tendão de Aquiles. Teve um sem-número de problemas musculares. Mesmo assim, trabalha de uma forma extraordinária. Um jogador com o talento dele, que já passou pelo que passou, continua a trabalhar de uma forma muito focada no sucesso da equipa e acaba por contagiar os restantes. Mas acho que temos variadíssimos jogadores de sacrifício. O Tanner Omlid é extraordinário dentro e fora do campo pela forma como contribui com tudo. Não se nota que o Phil Phayne tem tido algumas lesões no joelho. O Toney Douglas é um jogador com uma idade avançada, mas que treina todos os dias de uma forma exemplar. O Wes Washpun, o Xeyrius Williams e os meus portugueses exatamente a mesma coisa. A qualidade do treino é excelente. Essas pecinhas todas juntas fazem com que não haja espaço para quem queira estar mais relaxado ou acomodado. O nível competitivo do nosso treino é elevadíssimo. A intensidade é muito alta.
Parece estar a caminho uma competição na Europa, associada à NBA. Espera que os padrões de jogo se globalizem ainda mais e o basquetebol europeu acabe por perder aquilo que é a essência tática que lhe é característica?
Se me perguntasse isso há cinco ou seis anos, concordaria. Neste momento, não acho. Aos olhos de um espetador normal da NBA, acredito que possa parecer que não tem muita tática. No entanto, o jogo europeu está a ir atrás, e bem, do que se faz na NBA, ou seja, soluções ofensivas extremamente rápidas. Isso não quer dizer que a tática seja inferior. Se a tática for um bloqueio direto e o bloqueio direto der vantagens, porquê perder tempo em mais três ou quatro ações? Isso tem muito a ver com o QI dos jogadores. Se conhecermos os conceitos do basquetebol, os set plays acabam por ser uma ajuda muito frágil, porque as soluções ofensivas vão aparecer de uma forma instantânea. A facilidade com que os jogadores fazem cesto na NBA é muito grande por causa do talento e das ações ofensivas. Esse é o caminho do basquetebol europeu e só vejo coisas positivas. Se aparecer uma liga europeia com os conceitos da NBA, acho que temos é que aproveitar.
As seleções masculina e feminina estão apuradas para os respetivos Europeus. É algo que lhe agrada enquanto ator da modalidade?
É fantástico. Estávamos a precisar muito de um momento destes, de afirmação europeia. Temos que aproveitar para nos juntar, falar muito sobre basquetebol e reestruturar muitas coisas, como o tempo e as condições de treino. Hoje em dia, os clubes estão focados em ter muitos praticantes para sobreviverem aos custos financeiros que a modalidade vai tendo. Estamos a formar jogadores com pouco tempo de treino em equipas com um número elevado de atletas, com equipas B's e C's de 20 ou 30 jogadores com duas ou três bolas. Esse caminho dá zero resultado. Os clubes têm que fazer scouting e ter equipas competitivas para que mais jogadores se motivem para estar a este nível. Temos que recrutar jogadores com aspetos físicos que temos dificuldade em ter. Temos que os encontrar de forma prematura e começar a apresentar Portugal com uma aposta positiva para esses jogadores. Espanha está lotada de jogadores africanos que vão para lá em idade prematura. As grandes competições europeias estão a tentar recrutar esse tipo de atletas o mais cedo possível para poderem formar. Nós temos que seguir esse caminho e ser credíveis no trabalho que estamos a realizar.
Imagina a vida sem basquetebol?
Imagino, mas não é a mesma coisa. Sou um privilegiado da sociedade. Faço aquilo que gosto e que sempre quis fazer na vida, ainda por cima, estando no clube onde estou. Não me posso queixar de rigorosamente nada. Sentir-me-ia envergonhado relativamente às dificuldades que muita gente passa e que se levanta diariamente para fazer uma coisa que não é do seu agrado devido às necessidades económicas. Sou um felizardo e agradeço a oportunidade. As coisas têm corrido bem.