
Diogo Jota, internacional português falecido esta quinta-feira num acidente de viação, em Espanha, que vitimou o irmão e também futebolista, André Silva, deixa um enorme vazio no futebol mundial, real e... virtual. O avançado do Liverpool, que tinha 28 anos, era craque com a bola nos pés e também com o comando nas mãos. Apaixonado desde muito cedo por desportos eletrónicos (eSports), além de praticar, decidiu mesmo fundar uma equipa, a Luna Galaxy.
A 6 de setembro de 2024, depois de o coletivo que fundou e um dos seus elementos (João Afonso, conhecido por JAfonso no mundo virtual) se terem sagrado campeões nacional e mundial, respetivamente, Diogo Jota foi homenageado na Cidade do Futebol, num dia de folga do estágio da Seleção Nacional, e falou sobre a paixão que tinha pelos eSports e dos planos futuros.
Está muitas vezes aqui na Cidade do Futebol, mas hoje com uma função diferente, como o presidente da equipa Luna Galaxy. O sentimento de orgulho é o mesmo quando representa a Seleção Nacional e estar aqui também como representante da Luna Galaxy?
Estar aqui no meu dia de folga poderia, à partida, parecer não tão positivo, mas é extremamente positivo. É algo que nós queremos muito. Obviamente, quando iniciei este projeto, ambicionava este tipo de conquistas. Conseguimos, tanto a nível coletivo como a nível individual, duas conquistas ímpares e espero que no futuro sejam mais. Mas muito, muito feliz, obviamente, e muito orgulhoso. E os momentos que eu acompanhei destas competições em casa foram, de facto, vibrantes. E já lhes agradeci por isso, porque, de facto, são sensações únicas.
De onde é que vem esta paixão e porquê desta aventura?
Esta paixão pelo jogo em si começou quando fui viver sozinho para Paços de Ferreira, ainda com 16 ano; quando saí de casa dos meus pais, a Playstation foi uma companheira. Comecei a desenvolver o meu apetite pelo jogo. Depois com a pandemia, passou de um jogo casual para um jogo competitivo, porque vivo de competição, adoro competição, adoro competir. E na pandemia, isso foi-me retirado. Lembro-me que a Premier League criou um torneio em que cada clube escolhia um jogador para o representar. Ganhei um torneio, batendo o Alexander Arnold na final, que representava o Liverpool. A partir desse momento, eu gostei muito e pensei, porque não criar uma equipa? Obviamente, aqui na Federação já existiam alguns torneios, dos quais eu não participava. E foi esse o clique. A partir daí, já tinha essa paixão pelo jogo e decidi, obviamente, eu não posso competir nessas competições todas, mas posso ter alguém que o faça por mim.
Ainda faltam alguns anos para o fim da carreira enquanto futebolista. Mas está aqui um plano para o pós-carreira?
Não, nessa altura acho que já não vou ter mão para coisa. Hoje em dia, as pessoas têm capacidades de reação e agilidade, parece que nascem para estes efeitos. Mas diria um projeto, sim, que me possa ocupar. Um projeto que, espero eu, nessa altura tenha já outras condições. Apesar destas conquistas, nós somos uma estrutura pequena e espero também continuar a evoluir nesse sentido.
Nos vossos discursos ouvimos falar da possibilidade dos eSports serem uma modalidade olímpica nos Jogos de 2028. Porque se deve apostar no futebol virtual?
A razão principal é pela quantidade de pessoas que se interessam pelo tema. Acho que é isso que é um fator determinante. Os eSports têm não só o futebol virtual, mas muitos outros títulos que geram muito interesse, tanto de jogadores como de marcas. E acho que isso é um fator preponderante. Obviamente, o interesse que existe pela área e a paixão que os jogadores que o praticam têm e que pode ser olhado como uma profissão como outra qualquer.
Sabemos que há outros jogadores profissionais de alto nível que também jogam como tu, mas acaba por ser aqui um caso muito raro, ao ser um jogador de alto nível com a bola nos pés, um jogador de Liga dos Campeões, de Seleção, e também na consola. É um exemplo para outros jogadores profissionais e acredita que pode haver mais exemplos como o seu?
Sim, existem alguns jogadores que também já têm algumas equipas. Estou-me a lembrar agora do Casemiro, do Manchester United. Existem já alguns jogadores profissionais com este tipo de ideias. Agora, de facto, com o comando na mão, aí já tenho mais dúvidas e costumo dizer que não costuma haver grandes rivais. Às vezes, consigo ganhar-lhes, talvez não ao JAfonso neste momento, mas pontualmente consigo também disputar esses mesmos jogos com os jogadores da minha equipa e também em torneios que existem e que eu, às vezes, gosto de participar se tiver a disponibilidade. É algo que eu gosto de fazer, de competir, e se não for para ganhar, mais vale não entrar.
Durante os estágios, já conseguiu tornar algum dos seus colegas de campo melhor na consola?
Hoje em dia já não consigo encontrar adversário. Acho que eles têm todos medo e, portanto, já ninguém joga comigo. Já servi de árbitro porque eles queriam jogar um contra o outro, mas não queriam jogar comigo. É o que acontece agora. Obviamente, com a chegada destes jogadores mais jovens, pode-se eventualmente ainda encontrar algum que não se importe de um desafio, mas quem já anda cá já sabe que, se calhar, não vale muito a pena.