
Há no ciclismo uma categoria de corredores que detêm um domínio incontestável em certos contextos. Na mesma era em que temos o privilégio de os apreciar, também somos forçados a enfrentar um período de previsibilidade. Por isso, calha sempre bem ter céu limpo para apreciar desempenhos de semelhante escala que por vezes são escondidos pela atenção dada aos extraterrestres.
Campeão do mundo em 2019, Mads Pedersen está mesmo muito longe de ser um desconhecido. Corresse o dinamarquês noutro tempo e os louros para a pujança da sua pedalada seriam maiores, ainda que lhe falte o monumento que tanto persegue. Neste edição do Giro, em que a classificação geral procura ainda um candidato óbvio, são os modos hercúleos com que vence etapas que vão fazendo parangonas.
A etapa 13 do Giro era composta por um percurso democrático. Trate-se de uma daquelas corridas que chama candidatos de todos os tipos para fazerem as suas apostas. Os metros finais eram feitos numa subida explosiva. Onde há hipótese de mudar de velocidade num ápice, Mads Pedersen tem uma palavra a dizer mesmo que seja custoso carregar o arcaboiço por estradas empinadas.
Não desiludindo, o ciclista da Lidl-Trek ganhou a quarta corrida no Giro, fazendo desta a grande volta onde mais etapas venceu numa só edição (e mais oportunidades estão para vir). Ao sprint, bateu Wout van Aert, ciclista que não impediu Pedersen de chegar às dez vitórias no combinado de Giro, Tour e Vuelta.
“É um monstro”, descreveu Mathias Vacek, checo que era o plano inicial da Lidl-Trek para vencer a corrida com final em Vicenza. Mads Pedersen não tem condições para ganhar a classificação geral do Giro, mas na luta pela maglia ciclamino leva uma vantagem de 115 pontos para quem vem a seguir. Independentemente disso, cruzou a meta em primeiro lugar numa etapa que retirou Adam Yates e Thymen Arensman do top-10. A camisola rosa continua no corpo de Isaac Del Toro, que ganhou mais alguns segundos à concorrência na meta.