João Noronha Lopes vai apresentar a sua candidatura à presidência do Benfica esta quinta-feira, dia 5 de junho. Recorde-se que Noronha Lopes já foi candidato à presidência do Benfica em 2020, onde saiu derrotado por Luís Filipe Vieira. Com novas eleições em 2021, o próprio afirmou que não se iria recandidatar por motivos pessoais e profissionais e descartou a possibilidade de uma futura candidatura.

Depois das eleições, as suas presenças em eventos de foro benfiquista foram mínimas e voltou a dar o ar da sua graça numa assembleia-geral extraordinária do clube, em 2024. A partir daí, a presença de Noronha Lopes em tais eventos voltou a ser recorrente, bem como as suas intervenções nas mesmas, apesar de posições controversas durante a votação relativamente à aprovação dos mais recentes estatutos do clube. Desde então, escreveu artigos de opinião diversos sobre temas pertinentes, mas soltos, sem correlação e que não respondem às perguntas dos seus consócios.

Aquando da sua candidatura, João Noronha Lopes apresentou-se como uma alternativa credível e necessária a Luís Filipe Vieira, visando a profissionalização de uma estrutura, com a criação de cargos como diretor-desportivo e diretor de formação e crendo em equipas compostas por prata da casa, bem como a sua retenção no clube.

Noronha defendeu mais transparência e ética na gestão do Benfica através de propostas como a limitação dos mandatos dos presidentes dos órgãos sociais e a criação de um código conduta, a fim de evitar conflitos de interesses, entregas de declarações de rendimentos pelos dirigentes do clube e a realização de auditorias externas ao clube e à SAD.

Noronha Lopes defendeu uma segunda volta nas eleições do Benfica quando não existisse maioria absoluta na primeira volta e propôs a aposta em parcerias com canais de streaming digitais, modernizando o clube.

No fatídico dia de 28 de outubro de 2020, havia a forte crença de que Noronha iria mesmo ganhar as eleições, tal era a forte massa adepta que estava do seu lado, a força que tinha nas redes sociais e nos núcleos benfiquistas.

No entanto, após as urnas com os votos terem sido levadas e contadas em lugar desconhecido por veículos e indivíduos não associados ao clube, a vitória de Luís Filipe Vieira foi anunciada e o povo exigia a recontagem dos votos, bradando gritos de fraude eleitoral.

Noronha Lopes, no entanto, aceitou a derrota, mesmo que todos clamassem para que não o fizesse e não voltou a candidatar-se nas seguintes eleições, em 2021. O seu silêncio desde então ecoou pelo universo benfiquista e ainda hoje se fala de João Noronha Lopes como os antigos falavam de D. Sebastião.

Noronha está no seu perfeito direito em envolver-se com o Benfica quando quer e conforme a sua agenda pessoal e profissional o dita. João Noronha Lopes não deve nada ao Benfica e respeito a sua decisão de não ir à luta em 2020, de não se candidatar em 2021 e desaparecer durante anos. Assim como respeito Francisco Benitez e ao movimento “Servir o Benfica”, derrotado em 2021, mas que desde então se afirmou como oposição à atual direção e dá voz a muitos sócios encarnados.

No entanto, o seu aparecimento também o coloca à mercê do parecer da opinião pública e creio que deve começar a sua candidatura com respostas a perguntas que se fazem desde 2020: por que não reclamar a recontagem dos votos? Por que não se candidatar em 2021, quando tinha o povo nas mãos? Porquê a ausência durante estes anos? Porquê voltar agora? O que mudou? Mais do que isso e talvez mais importante, o que defende João Noronha Lopes para o Benfica e para o futebol português?

Decerto que as suas propostas são diferentes agora do que eram há cinco anos, mudou-se o contexto, acabou-se a pandemia e a posição do clube em termos desportivos e financeiros também é diferente. As suas ideias sobre o Benfica e o campeonato português continuam as mesmas ou foram moldadas pelo tempo?

Além do mais, sendo por propostas desta direção ou através dos estatutos que foram recentemente aprovados, algumas ideias do empresário foram implementadas no clube: o Benfica tem um diretor-desportivo e um diretor de formação. Os mandatos dos órgãos sociais são limitados e foi realizada uma auditoria, ainda que infame, ao clube. Há segunda volta nas eleições, caso não exista maioria absoluta na primeira volta e já há parceria com canais de streaming.

Curioso será não só perceber quais são as ideias que Noronha Lopes traz para cima da mesa, mas também perceber de que forma constitui alternativa não só ao atual presidente do Benfica, mas como a João Diogo Manteigas.

João Diogo Manteigas, o advogado que prontamente apresentou a sua candidatura no início da época e tem mostrado ideias concretas e fiáveis, tem ido com o clube para todo o lado e tem mostrado comprometimento e presença. No fundo, João Diogo Manteigas está a percorrer o caminho que João Noronha Lopes percorreu em 2020. Neste cenário, o que tem o gestor para apresentar de diferente? 

Um período de eleições num clube grande português tem impacto e influência no resto do cenário desportivo em Portugal. Já nem falando do contexto do Benfica, num panorama em que se vive um impasse quanto à questão da centralização de direitos televisivos e a divisão é a ordem do dia, o futebol português precisa de tudo, menos de Sebastiões e paladinos.

O futebol português, e o Benfica também, precisa de competência, comprometimento e transparência. Acredito eu que João Diogo Manteigas e João Noronha Lopes sejam pessoas que se enquadrem nesses adjetivos, mas os benfiquistas precisam de saber o que os distingue.

Então, siga em frente, Noronha Lopes, que outrora acreditou-se que era um dos bons. Fale, explique-se e diga ao que vem.

O país está a ouvir.