Vivemos tempos marcados por uma transformação tecnológica acelerada, onde a disrupção deixou de ser exceção para se tornou uma regra. Inteligência artificial, realidade virtual, assistentes inteligentes ou interfaces interativas representam atualmente a realidade de muitas organizações. Contudo, é importante sublinhar que o sucesso na adoção destas tecnologias não depende apenas da sua implementação técnica, mas sobretudo da forma como são integradas nas organizações. Isto é, com visão, estrutura e, acima de tudo, com o foco nas pessoas.
A inovação é frequentemente comparada com uma onda, onde o mar está agitado e é preciso antecipar os riscos, estar preparado e adotar uma postura firme e estratégica. Apanhar a onda, permite avançar à frente da concorrência e abrir novos horizontes. Mas, como em qualquer desporto, é necessário mais do que um bom equipamento para alcançar o sucesso. É necessária preparação, leitura do ambiente e capacidade de adaptação.
Muitos dos projetos de inovação falham não por terem pouca tecnologia, mas por barreiras humanas e organizacionais mal resolvidas. A resistência à mudança é alimentada pelo receio de perder competências ou pela crença de que “sempre fizemos assim”. A solução para este bloqueio é ouvir os colaboradores, envolvê-los desde o início e apresentar a inovação como uma ferramenta de apoio prática e relevante para o seu dia a dia, não como uma ameaça.
Outro fenómeno comum é o “piloto eterno”. Projetos promissores que ficam presos em testes intermináveis, burocracia, incertezas legais ou falta de prioridade. Nestes casos, é essencial adotar uma estratégia de experimentação ágil, com testes de pequena escala e com utilizadores reais. O feedback recolhido de forma contínua, permite ajustar rapidamente e avançar com maior segurança para a implementação e para tomar decisões com maior confiança para o futuro.
Também a ausência de objetivos claros compromete muitas iniciativas. Sem um objetivo central definido, as equipas perdem o rumo e os recursos começam a dispersar-se. Portanto, é necessário estabelecer métricas claras, mensuráveis, tangíveis, como por exemplo “reduzir incidentes no onboarding em 30% em seis meses”. O mais importante é garantir o foco e sustentabilidade.
Existem, felizmente, oportunidades claras para aproveitar. O uso de realidade virtual para formação que reduz acidentes, assistentes virtuais baseados em IA que aliviam as equipas de recursos humanos em tarefas repetitivas, painéis interativos que reforçam a experiência do utilizador em eventos são exemplos de como a tecnologia, quando é bem aplicada, gera valor mensurável. Soluções como estas partilham uma característica comum: foram desenvolvidas com base em necessidades reais do utilizador, que reforça o valor da abordagem design thinking.
Adotar metodologias como o design thinking é fundamental para uma inovação eficaz. A empatia com os utilizadores permite compreender os verdadeiros desafios. A definição clara de objetivos garante o foco. A cocriação promove diversidade de ideias e o compromisso das equipas. A prototipagem rápida permite testar com agilidade e ajustar antes de grandes investimentos. E os testes interativos garantem que o que é contruído evolui com base em dados concretos. Estes elementos não são apenas etapas técnicas, são pilares para que a inovação seja verdadeiramente transformadora.
No entanto, nada disto será possível sem o desenvolvimento de competências internas. É fundamental investir na formação contínua dos colaboradores, incentivar e valorizar a criatividade, o pensamento crítico e criar uma cultura de aprendizagem contínua.
Conseguir surfar na onda da disrupção tecnológica é atualmente uma exigência competitiva. Mas só será bem-sucedida se for conduzida com responsabilidade, foco no impacto e com uma visão centrada no ser humano. Porque, na verdade, são as pessoas que transformam a tecnologia em valor.
Gabriele Rachello,
Chief Technology Officer