"Queremos que daqui saia um plano de ação que nos leve a estar entre os melhores do mundo", afirmou Miguel Pauseiro, na conferência de imprensa de apresentação do Book 2.0.

O presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), promotora do evento, que este ano decorrerá entre 03 e 04 de setembro, na Fundação Champalimaud, em Lisboa, defendeu que "o livro tem que passar a estar no centro da nossa vida comunitária".

Para Miguel Pauseiro, é fundamental "trabalhar em soluções que permitam lutar para que o país esteja entre os melhores em índices de literacia".

Este ano, sob o lema "A Reinvenção das Espécies", o Book 2.0 é "um momento de reflexão, debate, discussão e desafio para gerar conteúdos que possam fazer parte de uma estratégia que junte cultura e juventude, mas também economia e assuntos sociais".

Admitindo que os números relativos aos últimos anos são entusiasmantes, o responsável reconhece que ainda há muito por fazer.

"Entre 2021 e 2024, o mercado livreiro cresceu um pouco mais de 30% em valor e um pouco menos de 30% em unidades. Os primeiros meses de 2025 apontam no mesmo sentido. Temos uma tração muito grande nas redes sociais, nos clubes de leitura, com muita atividade e muita partilha", assinalou.

O presidente da APEL lembrou também a adesão que a Feira do Livro de Lisboa tem tido, com uma média de 800 mil visitantes, e uma estimativa de 830 mil visitantes em 2025, só ultrapassada pela de 2023.

Para Miguel Pauseiro, "tudo isto é bom, mas ainda se lê pouco em Portugal, ler ainda não é um hábito diário, regular e transversal a toda a sociedade portuguesa", o que é demonstrado pelos indicadores de compra per capita, que "ainda são dos mais baixos da Europa".

"Estamos 30% abaixo de Espanha, estamos 40% abaixo de Itália, estamos 80% abaixo dos Países Baixos, no Reino Unido compra-se mais do dobro dos livros per capita e em França compra-se quase quatro vezes mais. O número de livrarias em Portugal é criticamente baixo quando comparado com estes países. É impressionante o quão longe estamos destes mercados", afirmou.

A próxima edição do Book 2.0 terá especialistas de diferentes áreas, para falar de "temáticas muito atuais", como a transição digital, o novo paradigma energético, a importância da língua portuguesa no mundo e as ameaças que enfrenta, ou a sustentabilidade ambiental.

Entre os temas em destaque estão ainda o impacto da inteligência artificial nas práticas editoriais e no cérebro humano, o uso das plataformas digitais e os direitos de autor, a valorização das livrarias e bibliotecas como espaços culturais, o papel da leitura na saúde mental, o desafio dos jovens e da leitura e as políticas públicas de literacia em contexto europeu.

O evento contará com as intervenções de Analita Alves dos Santos, Carlos Fiolhais, Dino D'Santiago, Mariana Nunes, Mário Daniel, Nuno Crato, entre outros oradores nacionais.

Quanto aos convidados internacionais, estão já confirmados Cassie Chadderton (Reino Unido), Daniel Benchimol (Espanha), Gvantsa Jobava (Geórgia), Johan Pehrson (Suécia), José Eduardo Agualusa (Angola), Meg Jay (EUA), Paula Pimenta (Brasil) e Pedro Pacífico (Brasil).

A próxima edição do Book 2.0 será também o palco da apresentação da nova edição do estudo "Hábitos de Compra e Leitura em Portugal", desenvolvido pela consultora GfK para a APEL.

No ano passado, o estudo revelou que 73% dos portugueses afirmam ter hábitos de leitura, com especial destaque para o crescimento entre os mais jovens, que foram também os que mais livros compraram.

A ministra da Cultura, Juventude e Desporto, que marcou presença na conferência de apresentação, afirmou que "a leitura não existe de forma isolada: é parte de algo maior, de um ecossistema onde a cultura, a literacia e a educação se entrelaçam e se reforçam mutuamente, e, no centro de tudo isso, está o livro".

"É, por isso, que um país que valoriza o livro é um país que compreende que educar não é apenas transmitir conhecimento, mas também formar espírito crítico, sensibilidade e imaginação. Uma sociedade que lê é uma sociedade mais preparada, mais livre e mais consciente das escolhas que faz", sublinhou.

Durante a cerimónia, o presidente da APEL reiterou ainda a intenção de "levar o Book 2.0 além de Portugal" e expandi-lo para a Europa, não especificando, contudo, quais os países que tem em vista.

Em março, em entrevista à Lusa, o responsável revelou estar a considerar expandir o Book 2.0 para fora de Portugal, com um crescente reconhecimento internacional, o que demonstra o impacto positivo do evento no cenário global.

"Estamos a ser desafiados por congéneres nossos e estamos a avaliar essa possibilidade", contou na altura, acrescentando: "Uma das coisas que mais me surpreendeu, quer na primeira edição, quer na segunda edição, tendo nós trazido convidados das mais variadíssimas partes do mundo, foi ter pessoas que convidámos dos Estados Unidos, da Holanda, da Noruega, dizer-nos 'é incrível o que vocês fazem aqui, isto não tem sido possível fazer nos nossos países, nós precisamos disto'".