
Thom Yorke procurou esclarecer a sua posição em relação ao conflito em Gaza, com um longo comunicado partilhado através das redes sociais.
O músico dos Radiohead, recorde-se, tem sido bastante criticado por não se juntar ao boicote cultural promovido por nomes como Roger Waters e Brian Eno. No ano passado, durante um espetáculo a solo na Austrália, Yorke foi confrontado por um manifestante pró-Palestina, o que o levou a interromper o concerto, indignado.
Partindo precisamente desse incidente, Yorke lamentou que o seu “suposto silêncio” tenha sido confundido com “cumplicidade” no que diz respeito ao que se passa em Gaza. “Isto tem dado cabo da minha saúde mental”, acrescentou, alegando que a sua própria música prova que não é alguém que defende “qualquer forma de extremismo ou de desumanização”.
“Tenho tentado criar uma obra que encoraja o pensamento crítico, o pensamento fora da caixa, a uniformização do amor, a expressão criativa livre”, apontou.
“Deixem-me ser bem claro: acho que Netanyahu e o seu bando de extremistas têm que ser travados, e a comunidade internacional deve pressioná-los o mais que puder. A sua desculpa - a de que se trata de auto-defesa - esgotou-se, tendo sido substituída por um desejo de controlar Gaza e a Cisjordânia de forma permanente. Este governo ultra-nacionalista refugiou-se no medo e no luto de um povo, usando-os para rejeitar quaisquer críticas”.
Porém, Yorke deixou também críticas aos manifestantes pró-Palestina: “O refrão de ‘libertem a Palestina’ que nos rodeia a todos não responde a uma questão muito simples: porque é que os reféns ainda não foram libertados?”. “Também o Hamas escolhe refugiar-se no sofrimento do seu povo, de forma igualmente cínica”.
O músico lamentou ainda que as redes sociais promovam “caças às bruxas”, “pressionando os artistas a tecer comentários que pouco fazem para acalmar a tensão, o medo e a simplificação daquilo que são problemas complexos, que merecem um debate cara-a-cara, entre pessoas genuinamente preocupadas em terminar com a matança”.
“Esta polarização não nos serve, e perpetua uma mentalidade constante de ‘nós contra eles’. Destrói a esperança e mantém uma sensação de isolamento - coisas que os extremistas usam para manter as suas posições”.
Nos comentários à publicação de Yorke, vários fãs mostraram-se desapontados com o que dizem ser uma posição “demasiado centrista” do músico: “Isto não começou com [os ataques do Hamas de] 7 de outubro”, pode ler-se. “O pensamento crítico leva o seu tempo a formar-se”.
O comunicado de Thom Yorke sucede-se ao do seu colega de banda nos Radiohead e The Smile, Jonny Greenwood, que foi criticado por ter atuado no estado de Israel com o músico local Dudu Tassa e que viu concertos seus no Reino Unido cancelados por esse mesmo motivo. “Intimidar salas de espetáculos ao ponto de cancelarem os nossos concertos não ajudará a trazer a paz e a justiça que toda a gente no Médio Oriente merece”, disse o guitarrista.