O ator Adérito Lopes foi agredido com violência esta terça-feira, em Lisboa, à porta do Teatro Cinearte — A Barraca, obrigando ao cancelamento da sessão da peça “Amor é um fogo que arde sem se ver…”. O ataque, segundo testemunhas, terá sido protagonizado por um grupo vindo de uma manifestação no Martim Moniz, com alegadas ligações ao militante de extrema-direita Mário Machado.

Segundo confirmou a atriz e encenadora Maria do Céu Guerra, o ataque ocorreu cerca de uma hora antes do início do espetáculo. “Era um grupo de cerca de 30 pessoas. Começaram por provocar uma atriz que vinha com uma camisola com uma estrela e fones nos ouvidos. Depois tentaram atacar outro ator e, quando o Adérito chegou, foi violentamente agredido”, relatou a encenadora em declarações à RTP3.

O ator encontra-se hospitalizado no Hospital de São José, onde é sujeito a exames médicos. “Ele não está bem”, sublinhou Maria do Céu Guerra, visivelmente abalada.

Ainda segundo a responsável da companhia A Barraca, os agressores deixaram no local um papel onde se lia a frase “Portugal aos portugueses”, tendo gritado ainda expressões como “defende o teu sangue”, o que indicia motivações de cariz político e xenófobo.

Após o ataque, os suspeitos colocaram-se em fuga, tendo a Polícia de Segurança Pública detido, até ao momento, pelo menos uma pessoa. A força policial escusou-se a prestar mais esclarecimentos sobre a ocorrência quando contactada.

O espetáculo agora cancelado fazia parte de uma iniciativa de entrada livre que assinalava os 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões, e contava com encenação de Hélder Mateus da Costa e Maria do Céu Guerra.

A sessão desta terça-feira era a última apresentação prevista, reunindo em palco um elenco composto por Adérito Lopes, Beatriz Dinis e Silva, Érica Galiza, Gil Filipe, Luís Ilunga, Maria do Céu Guerra, Manuel Petiz, Rita Mendes Nunes, Samuel Moura, Sérgio Moras, Teresa Mello Sampayo, Vasco Lello e Maria Baltazar.

A interrupção abrupta do evento e a gravidade do ataque levantam sérias preocupações sobre a segurança dos agentes culturais e o ambiente de intolerância que alastra em determinados sectores da sociedade portuguesa.

A Direcção d’A Barraca ainda não confirmou se irá reagendar a sessão, mas já fez saber que presta apoio ao ator agredido e promete não ceder ao medo ou à intimidação.