“A psicose é um problema muito importante, uma vez que muitas destas doenças surgem em idades precoces, na transição da adolescência para a vida adulta. Se não se realizar uma boa intervenção, estas patologias podem comprometer o futuro de muitos jovens e dificultar a sua reabilitação e recuperação”, começa por afirmar Joaquim Gago.
Foi devido ao grande impacto que as doenças psicóticas podem ter na vida dos doentes que a comissão organizadora do encontro decidiu destacar o tema da intervenção precoce na psicose. De acordo com o especialista, o objetivo do evento passa precisamente por tentar “melhorar ao máximo a intervenção junto de jovens com psicose, o mais cedo possível, com o intuito de proporcionar um melhor tratamento para que a doença tenha uma evolução mais favorável”.
No que diz respeito aos programas nacionais de intervenção precoce na psicose, Joaquim Gago afirma que “existem vários serviços locais de saúde mental com programas para os primeiros episódios psicóticos”. Outros, ainda que não tenham propriamente programas, têm consultas.
Aquando desta intervenção, o psiquiatra explica que a abordagem é feita “não só com fármacos mas também em termos psicológicos e familiares”. “Tentamos consciencializar para o problema e capacitá-los para lidarem com a doença”, com o propósito final de “melhorar a qualidade da intervenção”.
Além disso, “procura-se que haja uma articulação entre a Psiquiatria de Adultos e a Psiquiatria da Infância e da Adolescência para intervir junto de casos com primeiros episódios psicóticos”. Joaquim Gago salienta que, em Portugal, muitos destes programas para os primeiros episódios psicóticos estão mais centrados nos adultos. Ainda assim, a comunidade médica tem feito um esforço por haver uma articulação com a área da Psiquiatria da Infância e da Adolescência, “mas haveria vantagens em integrar, na própria equipa, os colegas ligados à infância e à adolescência”.
Outro tema que não tem sido muito abordado e que será alvo de atenção durante o encontro é a questão dos traumas prévios ligados a doenças psicóticas. O médico refere que algumas investigações permitiram saber que “uma percentagem bastante significativa de pessoas que apresentam alucinações auditivo-verbais, cerca de 20 a 25% dos casos, tinham passado por situações traumáticas. Estas podem ser provenientes da perda de familiares, acidentes, situações de bullying, entre outras. “No fundo, descobriu-se que os antecedentes traumáticos são relativamente frequentes em pessoas que, mais tarde, desenvolvem psicoses”, indica.
O tema da sexualidade nas pessoas com psicoses iniciais é outro tópico que terá destaque e, de acordo com o médico, “será abordado sob várias perspetivas”. “Primeiro, no sentido de normalizar, evidenciando que, apesar de as pessoas terem estes problemas, também têm a sua própria sexualidade”.
Além, disso, por exemplo no que diz respeito a doenças dentro do espetro da esquizofrenia, “que veem o mundo como uma ameaça e com um grande sentimento de desconfiança”, surgem “problemas no sentido de identidade da pessoa, relacionados com intimidade, com o sentirem-se confortáveis junto de outras pessoas”. “É necessário ajudá-las a melhorar as suas aptidões sociais, relacionais e comunicacionais, para poderem ter relacionamentos como qualquer outra pessoa”, conclui Joaquim Gago.
Cláudia Gomes
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