Calmas, desertas, escondidas ou secretas, estes locais (ainda) longe das multidões, convidam a banhos de tranquilidade e a alguns mergulhos secretos. Resguardados pelas arribas que marcam a paisagem protegida da Costa Vicentina, com acessos, por vezes, difíceis e ainda fora dos principais circuitos turísticos do Algarve, estes são praias para descobrir sem pressas, entre Odeceixe e Lagos, com a certeza de que outras mais ainda se escondem dos turistas.
Praia das Adegas (Aljezur)
A ribeira de Seixe separa o Alentejo do Algarve, dando origem à famosa praia de Odeceixe. É precisamente a sul deste popular areal que se encontra a discreta praia das Adegas. Tem como curiosidade o facto de ter sido a quarta praia legalizada para a prática de naturismo em Portugal. Encaixada entre falésias, a maré baixa permite o acesso a partir de Odeceixe. Está rodeada de rochas cujos veios brancos em relevo conferem uma beleza única ao local. Procure, no lado norte, a abertura na rocha que é como uma janela para o areal vizinho. Os conhecedores, como o blogue Alma Naturista, descrevem ainda que “a maré vazia possibilita o acesso a uma enseada com uma enorme caverna, cuja beleza permite fantásticas fotografias em conjunto com as poças de água junto às rochas”. Explica a autarquia de Aljezur que, na maré alta, o único acesso é por meio de caminho pedonal que desce a falésia.
Praia da Carriagem (Aljezur)
Localizada entre Vale dos Homens e Amoreira, a Carriagem é considerada uma das mais belas praias da Costa Vicentina, até mesmo do país. Qualquer altura do dia é boa para desfrutar desta praia, embora a baixa-mar se afigure ideal para a conhecer. Somente nesta fase o areal fica extenso o suficiente para permitir calcorrear a praia e simultaneamente contemplar as inusitadas formações rochosas do local, bem como a fauna marinha, que coabita nos buracos, entre as rochas, preenchidas pela água do mar. De costas para o oceano, as arribas sustentam a forma de um anfiteatro ao ar livre, com as linhas curvas cravejadas no xisto de rara beleza paisagística. O cenário idílico oferecido por esta praia selvagem inspira tranquilidade, ingrediente indispensável para quem não dispensa o silêncio, a leitura na praia ou passeios descontraídos. Para aceder à praia da Carriagem siga pela EN 120, a partir do Rogil, aldeia situada a sul de Odeceixe, – onde pode abastecer-se do famoso pão local e do que precisar para um dia bem-passado, já que o areal deserto não oferece estruturas de apoio – e parar para admirar os diversos moinhos. Siga a estrada da Carriagem até encontrar outra, em terra batida. Prossiga durante aproximadamente 2 km e, na bifurcação, escolha o caminho da direita, em direção à costa. Outro tanto depois, alcança o estacionamento, no cimo de uma arriba, um miradouro sobranceiro ao Atlântico, com a panorâmica da praia da Carriagem a seus pés. Em alternativa siga o percurso pedestre, com partida no Rogil.
Praia do Canal (Aljezur)
É a praia imediatamente a seguir (a sul) à popular Arrifana e oferece vista privilegiada para a famosa e emblemática Pedra da Agulha. É considerada uma das praias mais selvagens do Algarve. Integra-se no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. Com acesso mediante estrada de terra batida, logo com condições adversas para automóveis ligeiros, justifica a aventura. Antes de ir, avie-se em terra, que por aqui não existe nenhum apoio ao banhista, nem vigilância. E, quanto a areia, conte somente com a simpatia da maré baixa. A língua de areia liga as extremas: praias do Penedo e Vale Figueiras. Nas restantes horas, o Canal é uma agreste praia de calhau rolado e mar forte. Deu também nome ao recente Praia do Canal Nature Resort, recomendado no Guia Boa Cama Boa Mesa 2025, com 56 alojamentos, com destaque para as duas suítes Rooftop, ambas com tanque de mármore panorâmico de água aquecida, e para as duas suítes Familiares, com pequenas piscinas privadas. Siga os aromas que emanam do Parque Natural circundante e aventure-se num trilho pedestre até à Praia do Canal.
Praia da Ponta Ruiva (Vila do Bispo)
Passando o Cabo de São Vicente, a praia da Ponta Ruiva é a segunda a aparecer na costa oeste do Algarve. O acesso faz-se por caminhos secundários de terra-batida, devendo atender às condições do terreno. “Sente-se logo que é um sítio remoto a caminho da praia”, indica Alex Botelho, um assíduo desta praia com areal de cerca de 500 metros. “Continua a ser uma praia sem qualquer vestígio de presença humana permanente. Não se vê nada mais sem ser natureza, sente-se a imensidão e força. Desperta interesse por ser um sítio tão isolado e bonito. Devíamos ter cuidado para o manter assim”, comenta o surfista. Alex costuma ir a esta praia surfar e descontrair em família, desfrutando da beleza do local. O nome da praia deve-se à cor avermelhada do rochedo a poente da enseada. Segundo a autarquia de Vila do Bispo, é “o términus de uma formação geológica que se desenvolve ao longo da região algarvia e que tem continuidade, do outro lado do Atlântico, no Canadá, no atual Continente Americano”. E uma “prova física” do antigo supercontinente Pangeia. Entre pedras coloridas e “poças lindíssimas”, tenha, porém, “muita atenção e respeito pelo mar” já que não há nadador-salvador. “Não é a mais segura para tomar banho devido às ondulações e tem sempre um agueiro no lado sul”, adverte Alex.
Praia do Barranco (Vila do Bispo)
A costa algarvia é pródiga em locais de grande beleza natural, muitos deles cujo acesso se faz unicamente por mar. Nestes dias mais longos e quentes de verão, aventure-se e parta à descoberta destes sítios secretos, de forma original e divertida. Bela e selvagem, a praia de Barranco é ponto obrigatório de partida para esta aventura. A Câmara Municipal de Vila do Bispo descreve a praia do Barranco como “paradisíaca” explicando que se situa numa “baía flanqueada por duas imponentes arribas calcárias”. Esta “zona balnear não classificada” surge na desembocadura de um dos vales mais bonitos da região, com encostas revestidas por um matagal alto de zimbro, onde sobressaem imponentes afloramentos calcários. O areal é de pequena extensão, mas desenvolve-se na direção do interior do barranco, formando um pequeno campo dunar a poente da foz da pequena linha de água que aí desagua. Tal como em outras praias deste troço de costa, abunda o calhau rolado, os chamados rebolinhos, usados pelos banhistas na construção de pequenos abrigos semicirculares de pedra que funcionam como corta-vento. Esta maravilha da natureza, sem qualquer tipo de equipamento de apoio, conta com um pequeno parque estacionamento a que se acede por uma estrada de terra batida. Pode também ser conquistada numa prancha de stand up paddle, numa visita devidamente acompanhada por um guia da empresa Carrapateira Extreme (Tel. 963095990).
Praia das Furnas (Vila do Bispo)
Lugar ao sol? No areal da praia das Furnas encontra uma atmosfera tranquila e, sobretudo, pouco frequentada. O acesso, embora não seja difícil, exige algum esforço: faz-se “via um irregular caminho secundário de terra batida”, explica a autarquia de Vila do Bispo, a partir da povoação da Figueira (sinalizada na EN 125). Estacionada a viatura segue-se uma caminhada de 800 metros até este recanto calmo e resguardado entre “imponentes arribas calcárias que flanqueiam o encaixado vale fluvio-cársico que desemboca no mar". Cumpra com a tradição e construa o seu corta-vento em forma de meia-lua em calhau rolado. A praia das Furnas, na freguesia de Budens, integra o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina e tem a Salema como aldeia mais próxima. A praia deve o nome às diversas grutas costeiras, que parecem ter sido escavadas por mão humana nas arribas calcárias, que localmente são designadas “furnas”. Espreite as grutas e aproveite as águas calmas e cristalinas. Atenção que não existe vigilância ou qualquer equipamento de apoio.
Piscinas naturais da Ponta da Piedade
Todos os roteiros por Lagos conduzem, obrigatoriamente, à Ponta da Piedade, um conjunto de falésias esculpidas pelos elementos e pelo tempo, com grutas, baías desconhecidas e praias tranquilas e (quase) secretas, como Pinheiros, Barranco do Martinho e Canavial. Registe-se ainda a Praia Grande, com uma descida íngreme e apoiada por uma corda (não se esqueça que terá de subir!). Na Ponta da Piedade, o farol, imponente, assinala o local onde a natureza esculpiu uma obra de arte. Por aqui, garante-se que é um dos melhores spots do Algarve para assistir ao pôr do sol. Os passadiços ajudam a explorar esta área e o maior dos segredos é descer a longa escadaria que conduz até às piscinas naturais ali existentes. Uma dica: aproveite as horas da maré baixa. Este local também faz parte dos diversos passeios de barco pelas grutas, baías desconhecidas e praias tranquilas. “Chaminé”, “Catedral”, “Cozinha” e “Gruta dos Amores” são alguns dos nomes perpetuados pelos pescadores.