
Uma das coisas mais irritantes surgidas nos últimos tempos é esta obrigação de que as tampas venham agarradas às garrafas. O simples ato de matar a sede tornou-se num exercício de ginástica facial, tentando evitar que a tampa bata no nariz ou na bochecha ou que faça cócegas no queixo com as suas arestas irregulares.
Desde junho do ano passado está em vigor uma diretiva europeia que obriga a este casamento forçado entre a tampa e a garrafa. Acabou-se o prazer de sentir o gargalo inteiro na boca a deixar passar sem barreiras o líquido. A tampinha ali permanece, sempre numa estranha posição, a maior parte das vezes incómoda. E se a ideia for fechar a garrafa no final, então é preciso um exercício de contorcionismo para o qual terá de se chamar um malabarista, enquanto que em muitas marcas de bebida é necessário um torniquete para abrir as novas rolhas.
O argumento dos burocratas de Bruxelas é que esta união garrafa-tampa visa reduzir a poluição produzida pelos plásticos. Alguém deve ter tomado substâncias alucinogénias enquanto imaginou esta obrigação, que é uma das piores ideias de que me lembro, uma prova exemplar do ponto a que pode chegar o disparate regulatório de uma Europa cada vez mais distante da realidade e das pessoas.
No meio de uma guerra, de uma crise mundial que anda mais depressa do que se poderia imaginar, eis que em Bruxelas houve quem passasse os dias a imaginar esta coisa. Seria cómico se não fosse uma prova dramática daquilo que é a União Europeia — uma estrutura centralizada, burocratizada, com prioridades trocadas que gasta mais tempo a levantar problemas do que a encontrar soluções.
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