O ano de 2008 ficou marcado pelo nascimento da Bitcoin, a primeira criptomoeda de sempre. Nessa altura, ainda ninguém sabia o que viria a ser este setor – se iria vingar ou não – muito menos o seu valor. Contudo, surgiram muitos entusiastas por esta nova tecnologia, que decidiram apostar nela, confiando que, um dia, daria frutos. E não estavam errados.

Desde então, o setor das criptomoedas tem crescido a olhos vistos. E eis que 2024 chegou cheio de surpresas. Se por um lado foi um dos anos mais positivos da história das criptomoedas sob o ponto de vista de evolução de mercado, também foi um ano com vários episódios de burlas. Em resposta a isto, foi aprovada legislação, em particular para o mercado europeu de criptomoedas, que deverá permitir robustecer o mesmo, conferindo maior proteção aos investidores.

O ano passado foi marcado pelo lançamento dos primeiros Exchange-Traded Funds (ETFs) de criptomoedas nos Estados Unidos da América (EUA), com os ETFs de Bitcoin a ultrapassarem, por si só, os 100 mil milhões de dólares em total de ativos sob gestão em menos de um ano. Este ano, espera-se naturalmente a expansão contínua dos produtos ETF, não só para a Bitcoin e a Ethereum, mas também, possivelmente, para outras criptomoedas, tais como Solana ou Ripple XRP. Isto continuará a remodelar o mercado, oferecendo veículos de investimento regulados e acessíveis aos investidores institucionais e retalhistas tradicionais.

Espera-se também um aumento significativo da adoção institucional, nomeadamente por parte das grandes empresas, que atribuem uma pequena percentagem das suas tesourarias a ativos digitais, em particular à Bitcoin, como parte da sua estratégia financeira. Este poderá ser também o caso de alguns países, especialmente após a promessa do novo presidente eleito dos EUA, Donald Trump, de criar uma “reserva estratégica nacional de Bitcoin” nos EUA. Essa tendência é impulsionada pela perceção das criptomoedas como uma proteção contra a inflação e a desvalorização da moeda fiduciária.

Progressos previstos

Nas finanças descentralizadas (DeFi), apesar dos desafios enfrentados nos anos anteriores, há um ressurgimento previsto com infraestrutura, segurança e estruturas regulatórias aprimoradas, levando a um aumento do valor total aplicado (TVL) nos protocolos DeFi, também impulsionado pela recente tendência “Bitcoin Renaissance” com vários novos projetos que serão lançados este ano e que alavancam a segurança do Bitcoin para melhorar outras redes de blockchain na sua escalabilidade, segurança e promovendo maior utilidade on-chain do Bitcoin.

Também no campo de Inteligência Artificial (IA) se esperam amplos progressos. Todos nós sabemos que a IA irá revolucionar o mundo, mas muitos ainda não captaram o benefício mútuo e o impacto potencial em particular da IA nas criptomoedas. As blockchains oferecem uma plataforma descentralizada, não permissionada e segura para a IA prosperar, fornecendo recursos computacionais, integridade de dados e novos modelos económicos para o desenvolvimento da IA, e a IA por sua vez poderá melhorar a usabilidade, a eficiência e a segurança das redes de blockchain e consequentemente das cripomoedas. Este ano, existe uma grande expetativa positiva em torno dos projetos de IA, especialmente os que envolvem agentes de IA autónomos on-chain, que aumentarão significativamente o número de transações, aumentando a procura do mercado, mas testando também a capacidade das blockchains públicas existentes.

Do lado da regulamentação, na Europa, o regulamento dos Mercados de Criptoativos da UE (MiCA) entrou em vigor em janeiro de 2025, no entanto, os participantes do mercado têm um período para se adaptarem às novas regras (os períodos variam entre 6 e 18 meses, dependendo do país). Em Portugal, a proposta legislativa que implementa as responsabilidades decorrentes do Regulamento Europeu MiCA, bem como a atribuição de competências entre a CMVM e o Banco Central Português, é da competência do Governo Português e encontra-se atualmente em apreciação pelo Governo. É espectável em toda a Europa a atribuição de centenas de licenças MiCA aos diversos prestadores de serviços nesta área ao longo do ano.

Quanto à regulamentação nos EUA, face às promessas claras eleitorais, existe uma enorme espectativa que a administração de Donald Trump forneça orientações claras sobre o setor, a começar pela revogação do Staff Accounting Bulletin No. 121 (SAB 121). Este boletim, introduzido pela SEC, determina que os bancos que detêm criptomoedas para clientes devem registar estes ativos como passivos nos seus balanços, o que tem sido criticado por constringir a adoção institucional no país. Além disso, espera-se que os EUA aprovem legislação sobre stablecoin até o final de 2025, com diretrizes sobre como as stablecoins devem ser emitidas, geridas e auditadas para garantir que mantenham a sua ligação com ativos do mundo real. Também há expetativa nos EUA de regulamentações mais abrangentes para prestadores de serviços de criptomoedas, incluindo exchanges, custodiantes e outros intermediários, mas parece improvável que essa estrutura seja finalizada em 2025.

Neste contexto, espera-se um acentuar da tokenização de ativos do mundo real, nomeadamente stablecoins, deverão continuar a prosperar e tornar-se mais integradas este ano em soluções empresariais para pagamentos, liquidação, registos e outros serviços, oferecendo estabilidade e eficiência a diversos casos de utilização e cadeias de valor de diversas indústrias. Espera-se que o número de emissores de stablecoins, assim como a capitalização total do mercado de stablecoins aumentem significativamente este ano.

Correlação entre criptomoedas e os mercados tradicionais

O sentimento geral é muito positivo, contudo, é também importante de salientar que a correlação entre as criptomoedas e os mercados tradicionais, incluindo ações, taxas de juro e inflação, tornou-se mais pronunciada à medida que a indústria amadureceu. O Bitcoin, em particular, mostra uma tendência para se mover em conjunto com índices de alta tecnologia como o Nasdaq, especialmente durante períodos de stress do mercado, incerteza geopolítica mundial ou mudanças de política económica envolvendo taxas de juro e inflação. Se as taxas de juro se mantiverem elevadas e se verificar um abrandamento económico global, os investidores tenderão a privilegiar investimentos mais seguros e menos especulativos em detrimento de ativos mais arriscados, como as criptomoedas.

A verdade é que, no mundo dos ativos digitais tudo muda a um ritmo alucinante e 2025 não será diferente certamente, e as previsões são sempre complexas. Durante os últimos dois anos, os primeiros da Bison Digital Assets (BDA), mostraram-nos que a educação e agilidade é fundamental. Apostar na requalificação profissional e na atualização de competências, visto que o panorama financeiro evolui com a integração da tecnologia blockchain e das criptomoedas. Para se destacarem, os profissionais do setor financeiro precisam de entender realmente o funcionamento da blockchain, smartcontracts e as regras para ativos digitais. Além da técnica, é crucial que se adaptem às rápidas mudanças. As empresas devem incentivar a inovação, a agilidade e a aprendizagem contínuas, focando também no desenvolvimento do pensamento crítico e na resolução de problemas.

Prepare-se para mais um ano de inovações, desafios, e muitas oportunidades de desenvolvimento de pontes de integração para esta indústria de ativos digitais!