O conceito “binário” é de origem remota. Surgiu no âmbito dos estudos de matemática e álgebra, tendo sido decisivo para a criação da linguagem computacional. De forma simplista, trata-se de uma ideia que procura reduzir a realidade a 2 alternativas: 0 ou 1. E descreve todo o real utilizando este código. Neste seguimento, estando o real construído sobre dois algarismos, eles excluem-se mutuamente, ou se é 0 ou se é 1. Esta ideia aplicada à vida real, apenas quer dizer que um “sujeito” binário tem um atributo exclusivo e um “sujeito” não-binário, o seu inverso. Um “não-binário” pode ter ou “ser” vários atributos diferentes em simultâneo.

Serve esta introdução para ilustrar o que pretende ser o Jornal PT50, como jornal digital dirigido a profissionais da banca e da área financeira. O que pretendemos, antes de mais, é ter uma abordagem não-binária do setor. Acreditamos que o sistema financeiro está a passar por uma revolução tão importante que é preciso ir mais longe para abarcar todo o seu potencial. A entrada de novos intervenientes no setor, com soluções que a evolução tecnológica permitiu e que a regulação comunitária tem vindo a admitir, tem tido um impacto determinante em todo o ecossistema bancário e financeiro. Queremos contribuir para compreender toda essa mudança e espelhá-la todos os dias aos nossos leitores. Para isso, temos de ultrapassar as ideias feitas e pensar de forma não-binária. E por essa razão teremos por vezes que arriscar e dar novos nomes às coisas.

Mas pensar de forma não-binária não quer dizer que não tenhamos a nossa integridade e os nossos valores bem cimentados. Por sermos curiosos, imaginativos e termos gosto em recodificar a realidade, não deixamos de ser rigorosos e responsáveis. Enquanto diretora deste jornal, avanço algumas ideias. A regra é não aceitar fontes anónimas, não escrever notícias não confirmadas pelos visados, respeitar integralmente o código deontológico do jornalista e contribuir para o desenvolvimento do ecossistema financeiro, através de mais conhecimento, mais interação e mais visibilidade.

A perceção que ainda subsiste de que o sistema bancário é um setor pouco atrativo e conservador vai ser alterada de forma dramática nos próximos anos. Os bancos tradicionais têm vindo a sofrer uma transformação enorme no sentido de os tornar em empresas de base tecnológica – como reafirma aliás Vitor Bento na primeira entrevista deste jornal. As novas tecnologias vão permitir avanços enormes na forma como armazenamos os valores, transacionamos, investimos, poupamos, usamos, enfim, como organizamos todos o setor financeiro. Acredito que estamos longe de imaginar as possibilidades que nos irão trazer a descentralização da certificação financeira, a tokenização dos valores monetários e não monetários, a digitalização total dos pagamentos. É de tal forma disruptivo que mesmo a verdadeira essência da atividade bancária se pode tornar redundante na medida em que deixa de haver diferença entre valores tangíveis e intangíveis. E a distinção de conceitos como bancos, neobancos, parabancos e fintechs vai deixar de fazer sentido.

O desafio é grande. Acredito, contudo, que é no confronto connosco próprios, na cooperação entre todos, e na constante colocação em causa de tudo o que sabemos que está a evolução. Por isso, tudo faremos para vivermos confortáveis neste desconforto. E para ajudar os profissionais do setor a percorrer com segurança este caminho.

Assim, resta-me agradecer imenso a todos os que me têm apoiado formalmente e informalmente, à equipa que tenho vindo a constituir e que está a trabalhar arduamente há 6 meses para afinar o projeto e, por fim, convidar-vos a acompanhar-nos diariamente neste desafio.