Quando, há um mês, um fã partilhou com Azealia Banks a esperança de que a cantora adorasse o concerto que vinha dar a Portugal, a resposta não foi animadora. “O Brasil é melhor”, atirou a cantora, numa publicação na rede social X. Um momento que podia não cair bem entre a audiência portuguesa, mas que não surpreende o público de uma artista conhecida pelo histórico de polémicas.

É uma tarefa quase hercúlea enumerar todas as controvérsias em que Azealia Banks se envolveu. Fez comentários xenófobos sobre as populações irlandesa e sueca, após atuar naqueles países; assumiu-se como bissexual, mas atacou com vocabulário homofóbico a comunidade LGBTQ+; apoiou a candidatura presidencial de Donald Trump, para depois declarar que tinha sido um erro, e, a seguir, voltar a apoiá-lo na recandidatura à Casa Branca; afirmou “adorar” Putin após a invasão da Ucrânia; partilhou a mensagem “F*** Palestine nas redes sociais”. Chegou mesmo a anunciar publicamente que ia pôr fim à própria vida e que iria documentar tudo em filme. E a lista continua.

“A Azealia é um caso um bocado particular, porque é uma artista imensamente talentosa, mas a personalidade, todas as polémicas e também alguns valores dela fazem, de facto, as pessoas afastarem-se da música”, admite Fred, fã da rapper norte-americana.

Tem 23 anos e veio das Caldas da Rainha até ao Parque da Bela Vista para assistir ao concerto da artista no Meo Kalorama. “Não queria morrer sem ver essa maluca”, atira.

“E la é muito boa no que fa z, t em uma energia muito específica. Eu aprecio isso ”, declara.

Da astrologia às estratégias de marketing

Quanto à personalidade errática da artista, arranjam-se até explicações astrológicas para justificá-la: “É Gémeos”.

Já Camilo, outro fã, de 30 anosque veio de propósito ao festival para ouvir a cantora - tem outra teoria: a persona polémica é uma questão de marketing.

“Acho que é para ter presença nas redes sociais”, aponta . “Diz coisas para que todos falem dela.”

Nada que o faça afastar-se da cantora. “O que eu gosto é da música”, sublinha. “Ela tem muito flow.

“Às vezes, tem de se separar a arte do artista” , defende.

O mesmo pensa Margarida, que tem 18 anos e está a estrear-se em festivais de verão.

“Gosto da música, exclusivamente ”, frisa. “Discordo totalmente das posições que ela tem tomado .

Acompanhada pelas amigas, diz que vai abstrair-se das tiradas políticas de Azealia Banks e apenas desfrutar da atuação no Kalorama.

“Com ela tem de se fazer isso”, concorda Zé, festivaleiro de 25 anos, que também elege Azealia Banks como um dos principais motivos para ter vindo ao festival.

Para este fã, a persona polémica da rapper é até fator de atração.

“Gosto dela também pela parte da controvérsia”, a ssum e.

"Receio de que ela cancele ou cause algum drama"

Quando o ouvimos, momentos antes de Azealia Banks subir ao palco, Zé não escondia, contudo, o receio de que a imprevisibilidade da cantora levasse a um desfecho menos feliz para quem vinha vê-la.

T e n h o u m bocado de receio de que ela cancele ou cause algum drama assim do nada, porque é assim que as coisas acontecem com e l a , admitia.

Mas, desta vez, nada houve a temer. Azealia Banks subiu mesmo ao Palco Meo, no Parque da Bela Vista. E sem incidentes a registar.

Chegou bem-disposta, numa imagem quase angelical, vestida ao estilo bailarina, e a cantar em português... do Brasil - interpretando "Chega de Saudade", clássico da bossa nova de Vinicius de Moraes e Tom Jobim.

O público do Kalorama mostrou à artista, desde o início, que estava lá para dançar e cantar com ela. A cantora alimentou-se da energia da audiência e respondeu com um rap poderoso.

Lisboa ainda não é o Brasil, mas, no final da noite, Azealia parece ter gostado.