O presidente de França, Emmanuel Macron, apelou esta quarta-feira, em Estrasburgo, França, a uma "nova ordem de segurança" com a NATO contra a Rússia e pediu um "diálogo franco" com o Kremlin. "É difícil sermos exigentes com a Rússia se não falarmos com a Rússia. Temos uma política de sanções, mas não é suficiente. Temos de construir uma ordem de segurança e soberania", defendeu.
"Nas próximas semanas, devemos tornar realidade uma proposta europeia que construa uma nova ordem de segurança e estabilidade. Devemos construí-la entre europeus, depois partilhá-la com os nossos aliados na NATO e propor uma negociação com a Rússia", disse hoje na sessão plenária do Parlamento Europeu.
Macron afirma que a segurança do continente "exige um rearmamento estratégico da nossa Europa como potência de paz e equilíbrio, particularmente no diálogo com a Rússia". Na sua visão, o diálogo com a Rússia "não é uma opção". "Pela segurança do nosso continente, precisamos desse diálogo. E nós, europeus, devemos apresentar as nossas próprias exigências e ter a capacidade de fazer com que sejam respeitadas", frisou.
Tensão na Ucrânia ameaça Europa
A tensão na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia é a principal ameaça à paz na Europa nas últimas décadas. França, Alemanha, Rússia e Ucrânia integram o "Quarteto de Normandia", que pretende acabar com as tensões entre os dois países e aplicar o Protocolo de Minsk de 2014. Nesse sentido, França pretende "uma saída política para o conflito da Ucrânia".
Para acabar com a tensão, por seu turno, a Rússia exige um acordo que feche as portas à expansão da NATO em direção à fronteira russa e um veto à eventual incorporação da Ucrânia nessa aliança militar, algo que os aliados da NATO consideram inaceitável.
Macron falou ainda da Rússia para dizer que é preciso criar uma União Europeia (UE) "independente". "Temos de ser mas independentes perante a Rússia. Quando vejo as importações de petróleo e gás, vemos que nós não somos independentes. Mas não poderemos sê-lo de um momento para o outro", advertiu.
Aborto como direito fundamental
No seu discurso, Macron prometeu ainda trabalhar para incluir na Carta dos Direitos Fundamentais a defesa do ambiente, bem como o direito ao aborto.
"20 anos após a promulgação da Carta dos Direitos Fundamentais, que consagrou a abolição da pena de morte para todos na UE, pretendemos atualizar esse documento", frisou.
Outra das prioridades do Presidente francês é garantir a reforma do espaço Schengen, para criar "um espaço de circulação livre", apesar dos desafios migratórios.
Macron considera também que a Europa tem de "reinventar" a parceria com África, algo que será discutido entre os líderes dos dois continentes na cimeira UE-África agendada para 17 e 18 de fevereiro.
"A Europa tem assim o dever de propor uma nova aliança para o continente africano. Os destinos das duas margens do Mediterrâneo estão ligados, e não podemos abordar de forma adequada o tema das migrações sem abordar as suas causas profundas e evocar o destino comum com o continente africano", disse.
"É em África que está a ter lugar parte da convulsão mundial e onde se joga parte do futuro deste continente e da sua juventude, mas também do nosso futuro", acrescentou.
"Nos próximos meses teremos de dar um novo passo e reinventar uma nova aliança com o continente africano, através de um ‘new deal’ económico e financeiro com África" e uma agenda para a educação, saúde e clima.
Princípio da solidariedade
Macron sublinhou que a Europa deve manter-se "solidária". "Foi a solidariedade que nos permitiu ter uma vacina para todos", referiu. "Foi a solidariedade que depois de dois anos nos permitiu salvar vidas e proteger empregos", complementou.
O Chefe de Estado francês quer uma Europa que dê respostas às necessidades das novas gerações e que trabalhe por "empregos de qualidade", "qualificados" e "com salários mínimos decentes". Promete ainda batalhar para "reduzir as desigualdades salariais entre homens e mulheres", introduzir "quotas de mulheres nos conselhos de administração das empresas", "criar direitos para os trabalhadores das plataformas digitais" e "lutar contra todas as formas de discriminação".
Macron frisou que o que une a Europa é a singularidade da sua promessa democrática, com uma cultura muito própria e diversificada, e, nesse sentido, disse que ser europeu “é sentir uma mesma emoção perante os nossos tesouros, fruto do património e da história" e "vibrar da mesma forma perante o espírito romântico das obras de Chopin ou dos textos de [Fernando] Pessoa"
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, e Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, não estiveram presentes na sessão plenária, porque ambos contactaram com pessoas que testaram positivo para a COVID-19.
O jornalista Nuno de Noronha está em Estrasburgo a acompanhar a sessão plenária.