As acusações da ARD "são falsas" e a continuação da divulgação de uma "reportagem inadmissível, baseada em suspeitas" ficou proibida, dando provimento à providência cautelar pedida pelo alvo das acusações, Alisher Usmanov. Nesta semana, o Tribunal de Hamburgo pronunciou-se num caso que apontava um suposto esquema de suborno de árbitros de esgrima, com ligações ao magnata russo, arrasando o trabalho feito pelo ARD. E para garantir o cumprimento da sentença, o juiz estabeleceu ainda que, caso a ordem judicial seja violada, "o canal arguido será obrigado a pagar uma coima de até 250.000 euros ou ser condenado a uma pena de prisão por cada infração".
Em agosto de 2024, a ARD publicou dois artigos e uma reportagem-vídeo sobre a esgrima nos Jogos Olímpicos de Paris, em que o jornalista Hans-Joachim “Hajo” Seppelt acusava Alisher Usmanov de criar um "sistema de suborno de árbitros", difundindo-a por todo o país, revela o comunicado emitido em nome do empresário, explicando-se que a história se baseava no caso do atleta georgiano Sandro Bazadze, que alegou ter perdido nos oitavos de final devido a uma arbitragem injusta.
As alegações feitas na reportagem e as queixas de Bazadze foram negadas quer pela Federação Internacional de Esgrima (FIE) – com o presidente da organização, Emmanuel Katsiadakis, a apontar "um antigo árbitro que não se qualificou em 2023" como principal fonte da notícia, defendendo que a alegada manipulação da nomeação de árbitros seria impossível, dado que os juízes são determinados por computador, apenas meia hora antes do combate que lhes é atribuído – quer pelo próprio pai do atleta, Merab Bazadze, que lidera a federação georgiana da modalidade e fez mesmo um pedido de desculpas público à FIE.
Perante a recusa do canal alemão em "corrigir voluntariamente as informações falsas", Usmanov, que é ex-esgrimista e foi presidente da Federação Internacional até decidir suspender funções, em 2022, na sequência das sanções europeias a oligarcas russos, avançou para a justiça. E venceu. "O tribunal afirmou que as acusações da ARD são falsas e a decisão demonstra que a reportagem da ARD e dos seus principais jornalistas desportivos foi uma lamentável falha ética e jornalística. O relatório não contém provas, mas sim rumores, espalhados por testemunhas obscuras, insinuações fictícias, especulações e boatos", reagiu Joachim Steinhöfel, o advogado de Usmanov, na sequência da sentença.
Citado pelos media internacionais, Steinhöfel reforçou ainda o lado da "infração penal" decretada pelo Tribunal de Hamburgo, defendendo que a história relatada pelo canal alemão se "enquadra na omnipresente campanha de difamação contra um proeminente filantropo, gestor desportivo de sucesso e antigo empresário, baseada na premissa de que 'um russo rico é culpado por definição'". O advogado realçou mesmo que, entre 2022-2024, "vários meios de comunicação social europeus, principalmente alemães, acompanhados de várias figuras públicas, admitiram que não podiam provar as suas próprias alegações relativamente a Alisher Usmanov e assinaram compromissos escritos para pôr termo à divulgação ilegal dessas alegações", num total de 30 declarações já emitidas a favor de Usmanov.
Também nos tribunais esta não é a primeira vitória do empresário russo, incluindo-se na lista uma decisão judicial de janeiro a proibir as notícias da Forbes que foram "um dos principais elementos para justificar a inclusão de Usmanov na lista de sanções da União Europeia".
Já neste verão, o milionário uzbeque-russo avançou para os tribunais contra o banco suíço UBS, que acusa de ter apresentado relatórios "absurdos e infundados, se não conscientemente falsos" à agência contra a corrupção da Alemanha e de violar a confidencialidade dos dados dos clientes, "espalhar alegações enganosas sobre o cliente e violar grosseiramente o direito geral de personalidade" e provocando uma investigação das autoridades alemãs ao magnata. Aos 70 anos, Usmanov é uma das pessoas mais ricas do mundo, com uma fortuna estimada em quase 19 mil milhões de dólares, dono de um império que começou ao leme da Gazprom e se consolidou com a presença em algumas das maiores empresas de mineração, indústria e de telecomunicações da Rússia.