
"Infelizmente, tal e qual aconteceu também na primeira sessão de audiência [em 11 de março], eu ainda não conheço os crimes de que sou acusado. Foi mais uma audiência [hoje] para explicar, esclarecer um ponto em particular, mas continua a minha dúvida: Qual é o crime de que sou acusado, porque o procurador até hoje ainda não disse um único crime de que sou acusado", disse Venâncio Mondlane aos jornalistas, à saída da PGR, onde dezenas de apoiantes o esperavam.
Nas mesmas declarações, o ex-candidato presidencial disse que não saber porque anda a ser "interrogado" e o que anda "a fazer na PGR": "A não ser que a procuradoria tenha tanta simpatia comigo que não resista a ficar uma semana sem estar ao meu lado. Mas não percebo em concreto qual o crime", disse, descrevendo que a PGR o questionou sobre um áudio -- cuja veracidade confirmou -- em que surge a assumir receio pela segurança da família e que a queria retirar do país.
"Conheço o áudio, sim. Áudio que eu falava que tinha insegurança da minha família, só isso", disse.
Duas horas antes, à entrada para a PGR, Venâncio Mondlane - que não reconhece os resultados eleitorais, disse que já era visado em mais de 30 processos judiciais envolvendo as manifestações, que provocaram cerca de 400 mortos e elevada destruição em todo o país.
À saída, insistiu que regressou a Moçambique em 09 de janeiro -- tinha saído do país após as eleições gerais de outubro alegando questões de segurança -- para "confrontar a Justiça".
"Portanto, não há problema absolutamente nenhum. Cheguei a Moçambique, estou inteiramente disponível. Os agentes da polícia, os agentes da Justiça, quando querem falar comigo, eles sabem onde me encontrar. Facilmente eles vão à minha casa, sabem como me encontrar", disse ainda.
Mondlane voltou hoje à PGR para ser ouvido, depois de em 11 de março ter estado no mesmo local a prestar declarações durante mais de 10 horas, saindo com Termo de Identidade e Residência, processo em que é visado por incitação à violência nas manifestações pós-eleitorais.
Várias avenidas e ruas do centro de Maputo, na envolvente da PGR estiveram esta manhã cortadas ao trânsito, com um forte reforço policial, várias horas antes da chegada esperada de Venâncio Mondlane para ser ouvido.
A circulação em várias artérias envolventes e que dão acesso à avenida Vladimir Lenine, sede da PGR, estiveram cortadas, com a presença de dezenas de elementos da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), da polícia, fortemente armados.
Ao sair da PGR, Venâncio Mondlane partiu em caravana, visível do tejadilho da viatura, pelo centro da cidade, com a polícia a disparar gás lacrimogéneo ao fim de cerca de 15 minutos, para tentar dispersar os apoiantes.
Após meses de agitação social e manifestações de contestação aos resultados eleitorais - vitória de Daniel Chapo e da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), o chefe de Estado e Venâncio Mondlane encontraram-se pela primeira vez em 23 de março, em Maputo, e acordaram pela pacificação do país, repetindo o encontro em 20 de maio.
PVJ // JMC
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