O julgamento da Operação Marquês ainda só vai no terceiro dia e José Sócrates já foi repreendido pela juíza várias vezes. Desta vez, logo no início da terceira sessão, que acontece esta quarta-feira, o ex-primeiro-ministro pergunta à magistrada se pode dizer que a pergunta é "idiota".

O pedido da juíza foi simples: os trabalhos devem correr "com a maior serenidade possível" e as regras do tribunal devem "ser respeitadas".

"Tendo em consideração o que se passou nas últimas sessões, espero que possamos fazer o possível para que isto corra com a maior normalidade", começa por dizer a juíza.

Não ficando sem resposta, Sócrates atira:

"Eu não tenho o direito de contestar, nem classificar as perguntas?"

A magistrada esclarece que o arguido tem sempre a hipótese de recusar responder:

"Se não quiser responder, não responde."

O ex-primeiro-ministro, descontente com a resposta, ainda acrescenta:

"Não posso dizer a 'pergunta é idiota não respondo?' Digo apenas 'não respondo'?"

Perante a questão, a juíza deixa claro:

"Não. Se disser isso, está a desrespeitar o tribunal."

Por fim, José Sócrates "agradece o esclarecimento" e promete "tentar fazer o [seu] melhor".

Dia 2: "O senhor não vai continuar com esse tom"

Também no segundo dia do julgamento, a juíza foi confrontada com sucessivas ironias e questões retóricas de Sócrates.

Enquanto o ex-primeiro-ministro expunha a sua defesa, terminando as suas intervenções com um "está claro?" ou "pensei que já tinha compreendido", a magistrada não se conteve com "o desrespeito" de Sócrates para com o tribunal e lançou:

"Não vai falar assim. (...) Todos temos o mesmo nível de inteligência. Se eu estou a fazer a pergunta é porque tenho uma razão e muito menos vai fazer crer que tenho défice cognitivo. Não vai voltar a dizer que pensava que eu já tinha percebido. Isso é desrespeitoso para o tribunal. Não vai continuar com esse tom. O tribunal está a respeitar o arguido e o arguido tem de respeitar o tribunal e o Ministério Público”, sublinhou a juíza Susana Seca, anunciando, de seguida, uma curta pausa de 10 minutos.

Dia 1: "O senhor, agora, vai fazer o favor de se sentar"

Recorde-se que, logo no primeiro dia de julgamento, José Sócrates deu sinais do que viriam a ser os comportamentos de "desrespeito" que marcariam as sessões seguintes.

Num momento de troca de palavras entre a juíza e o advogado Pedro Delille, o antigo primeiro-ministro saiu da sala de audiência sem pedir autorização. Apercebendo-se de que José Sócrates saiu da sala, a juíza questionou:

"O seu cliente saiu da sala?".

Entretanto, José Sócrates regressa à sala e pediu para falar, mas leva uma 'nega' da juíza.

"O senhor agora vai fazer o favor de se sentar". Sócrates insistiu e a juíza repetiu: "Não é o momento, vai fazer o favor de se sentar".

O ex-primeiro-ministro, mais uma vez, tentou falar:

"O tribunal não me dá a palavra?", questionou.

Ao que a juíza respondeu:

"Neste momento, o senhor arguido vai manter-se sentado e aguardar o momento para, querendo, prestar declarações".

Perante a insistência de José Sócrates, a juíza rematou: "o tribunal não lhe dá a palavra".