
O músico britânico Roger Waters, co-fundador da banda Pink Floyd e opositor da política ocidental na Ucrânia, discursou esta segunda-feira no Conselho de Segurança da ONU, a convite da Rússia, que acabou acusada de "distorcer a verdade" sobre o conflito.
Waters, que se apresentou como um "velho músico" disposto a "falar sobre guerra, paz e amor", começou a sua declaração afirmando que o povo da Ucrânia está dividido entre os cidadãos "pró-Rússia ou anti-Rússia", para depois insinuar que os aliados ocidentais da Ucrânia, como o Reino Unido e os Estados Unidos, influenciaram o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a dar continuidade à guerra.
"Esta guerra convém aos americanos. Eles acham que enfraquecerá a Rússia. Então foi decidido continuar pelo tempo que for preciso. (...) Quanto mais tempo demorar, melhor. Eles continuarão a enviar munições, é claro, e gostariam que você [Zelensky] apenas continuasse a lutar'", disse Waters, simulando uma conversa entre o ex-primeiro-ministro britânico Boris Johnson e Zelensky.
“Talvez haja um vislumbre de luz”
O músico, que já em 2023 havia discursado numa reunião do Conselho de Segurança a convite da Rússia, abordou agora o recente telefonema entre o Presidente norte-americano, Donald Trump, e o líder russo, Vladimir Putin, avaliando tratar-se de um movimento "na direção certa".
"Talvez haja um vislumbre de luz no fim deste túnel escuro de guerra. Chegou três anos e centenas de milhares de vidas inestimáveis tarde demais. Mas talvez, apenas talvez, seja um começo", concluiu Waters, que participou no encontro por videochamada.
A Rússia convocou a reunião para assinalar o décimo aniversário da adoção pelo Conselho de Segurança da resolução 2202, que apoiou o "Pacote de Medidas para a Implementação dos Acordos de Minsk", também conhecido como acordo Minsk II, assinado em fevereiro de 2015.
Rússia acusada de “desinformação”
Contudo, a Rússia acabou acusada de, "mais uma vez", usar o Conselho de Segurança da ONU "para tentar distorcer a verdade por trás da sua guerra ilegal", segundo a embaixadora britânica, Barbara Woodward.
"Os eventos da última década na Ucrânia tiveram origem a partir de uma realidade simples e triste: a ambição imperialista da Rússia e o fracasso em respeitar a soberania da Ucrânia", afirmou a diplomata, acrescentando que a Rússia continua a violar a Carta da ONU e o direito internacional de "diversas maneiras".
"Não toleraremos as tentativas da Rússia de espalhar desinformação e desviar a atenção deste Conselho das suas atrocidades ou esforços para subjugar um Estado soberano. A Rússia é a única arquiteta da guerra na Ucrânia e poderia encerrá-la agora se quisesse, retirando as suas forças", frisou Barbara Woodward.
A representante do Reino Unido na ONU aproveitou ainda para apelar à comunidade internacional para que permaneça firme no apoio à paz e à segurança, criticando as chamadas pré-condições da Rússia para as negociações de paz, segundo as quais a "Ucrânia se retiraria do seu próprio território e abandonaria o seu direito soberano de escolher a suas alianças".
"Nenhum país poderia ou deveria aceitar isso. (...) Podemos e devemos criar as condições para uma paz justa e duradoura, que proteja a segurança, a soberania e a independência da Ucrânia. (...) O Reino Unido continuará a desempenhar o seu papel. Continuaremos a fornecer apoio concreto à autodefesa e segurança da Ucrânia enquanto for necessário. E temos certeza de que a voz da Ucrânia deve estar no centro de qualquer negociação", reforçou.
Trump e Putin falaram ao telefone
Na semana passada, Donald Trump manteve um telefonema com Vladimir Putin, durante o qual os dois líderes concordaram em iniciar negociações para encerrar o conflito na Ucrânia.
Após essa conversa, Trump também falou com Volodymyr Zelensky para informá-lo sobre as negociações planeadas. Em resposta, vários países europeus emitiram uma declaração conjunta enfatizando que tanto a Ucrânia quanto a Europa devem ser incluídas em quaisquer negociações de paz.
Posteriormente, Trump procurou esclarecer a sua posição, afirmando que a Ucrânia, junto com "outras pessoas envolvidas", fariam parte das negociações.
Na reunião de hoje, o embaixador russo, Vasily Nebenzya, declarou que "a diplomacia foi finalmente levada para jogo" com o regresso de Trump ao poder, afirmando ainda que se for confiada à diplomacia da União Europeia "qualquer aspeto do acordo ucraniano, então certamente nada restará da Ucrânia".
"Instamos as partes a comprometerem-se com um processo político e diplomático sério para acabar com o conflito", apelou Nebenzya, salientando que uma paz duradoura na Ucrânia depende da "erradicação das causas raízes do conflito ucraniano".