
Qual a prevalência da síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS)?
A apneia de sono traduz-se por episódios repetidos de obstrução total ou parcial da via aérea durante o sono (apneias ou hipopneias), com consequente fragmentação do sono e dessaturação intermitente durante o sono. A prevalência da SAOS varia de acordo com a população estudada e com os critérios de diagnósticos usados, mas é um dos distúrbios de sono mais comuns e cuja prevalência tem vindo a aumentar. Estudos mais recentes indicam valores de prevalência entre 9-38% na SAOS ligeira e entre 6-17% na SAOS moderada a grave. A prevalência aumenta com a idade, no sexo masculino, e na presença de obesidade.
Quem é mais afetado?
A SAOS afeta mais homens do que mulheres, com a razão de 2:1. No entanto, as mulheres podem apresentar a doença mais tarde na vida, muitas vezes após a menopausa, quando o risco de apneia aumenta devido às alterações hormonais. São vários os fatores de risco associados à doença como álcool, tabaco, alterações anatómicas craniofaciais, idade e uso de hipnóticos. A obesidade é o grande fator de risco da apneia de sono e, por isso, a maior causa do aumento da prevalência da doença.
Quais as principais consequências da doença no dia a dia?
A SAOS pode ter um impacto significativo na qualidade de vida e saúde do doente, nomeadamente:
- Sonolência diurna excessiva, com redução da concentração, e aumento do risco de acidentes laborais ou de viação.
- Problemas cognitivos e memória.
- Alterações de humor e irritabilidade: Há uma relação entre SAOS e distúrbios psiquiátricos como depressão e ansiedade.
- Aumento do risco de doenças cardiovasculares. A SAOS não tratada está associada a hipertensão arterial, doença coronária, acidentes vasculares cerebrais e arritmias. Estas condições afetam significativamente a qualidade de vida com aumento dos recursos aos cuidados de saúde.
A SAOS tem um impacto económico importante com aumentos de custos na saúde, aumento do uso de medicação, aumento do risco de desemprego ou absentismo laboral.
Muitos doentes pedem ajuda demasiado tarde. A que sinais/sintomas se deve estar atento?
Os sinais e os sintomas mais comuns podem ser divididos em sintomas noturnos e diurnos. Sintomas noturnos incluem: roncopatia, sensação de sufocação noturna, apneias presenciadas pelo companheiro/a, fragmentação do sono ou nictúria. Sintomas diurnos: sonolência excessiva durante o dia (dificuldade para se manter acordado, especialmente durante atividades monótonas), dificuldade na concentração, irritabilidade, cefaleias matinais e sensação de sono não reparador. Os doentes devem estar alerta para estes sintomas para procurar ajuda e permitir referenciação precoce para uma consulta de medicina do sono. É importante, por isso, a consciencialização para este distúrbio de sono, quer na população geral mas também de todas as especialidades médicas, para um diagnóstico atempado e seu tratamento e, desse modo, melhorarmos a qualidade de vida do doente.
Quais os tratamentos mais adequados para que o doente possa ter qualidade de vida?
Os tratamentos envolvem várias modalidades conforme a gravidade e as características individuais do paciente, cujo objetivo é manter a patência da via aérea durante o sono. Mas as opções incluem:
- Perda de peso, em pacientes com excesso peso e obesidade, deve ser encorajado. Intervenções dirigidas à redução ponderal ajudam na redução dos eventos respiratórios e controle sintomático.
- Tratamento com Pressão Positiva na Via Aérea (CPAP) é o tratamento recomendado de primeira linha para o SAOS moderado-grave. É um tratamento eficaz no controlo sintomático, nomeadamente na sonolência diurna excessiva. Estudos mostram também o benefício do controlo da hipertensão arterial. A adesão ao tratamento é fundamental.
- Dispositivos de avanço mandibular podem ser recomendados em casos selecionados de doentes com SAOS ligeiro, ou SAOS moderado ou grave que não se adaptem ao tratamento CPAP.
- Intervenções cirúrgicas, como cirurgia de avanço maxilomandibular, podem ser propostos em casos selecionados de alterações craniofaciais passíveis de correção.
- Medidas gerais: evitar o consumo de álcool e sedativos, evicção tabágica e promover sono adequado são medidas complementares recomendadas.
O tratamento adequado depende do diagnóstico e da gravidade da SAOS. O tratamento deve ser individualizado de acordo com a necessidade e preferência do doente. O acompanhamento médico regular também é essencial para avaliar a eficácia e adesão ao tratamento e ajustar, se necessário.
MJG
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