O que se viu de novo
O double-header sportinguista desta terça-feira viu a equipa de Rúben Amorim a jogar de manhã com o Farense, à porta fechada, pelo que ninguém, para lá dos colegas e staff, conseguiu ver o regresso de Viktor Gyokeres e os três golos que marcou aos algarvios. À noite, frente ao Sevilla, o Sporting apresentou-se com um onze totalmente diferente, mas talvez muito próximo da equipa base para a nova época: faltariam apenas Hjulmand e Gyokeres.
Ousmane Diomande, que até acabou expulso na 2.ª parte, parece ser o homem escolhido por Amorim para substituir Coates como patrão da linha defensiva, ou pelo menos o jogador que estará no eixo da defesa que era o habitat natural do uruguaio. Até à expulsão, não se deu mal e até é dele que sai o passe original para o segundo golo do Sporting, lá bem de longe, direitinho para o pé de Rodrigo Ribeiro. Ainda na defesa, Geny Catamo, principalmente na 1.ª parte, foi aparecendo em zonas mais centrais, uma tendência do futebol destes dias, com o Sporting, de resto, a apresentar já bem afinados alguns dos seus pontos fortes de épocas anteriores: paciência na construção, na procura de espaços, a atrair a pressão do adversário.
As combinações parecem também não se terem perdido nas férias: o primeiro golo do Sporting nasce de um entendimento de olhos fechados, cheio de rapidez na execução, entre Pote e Nuno Santos. O ala galgou pela esquerda e com a linha defensiva do Sevilla bem subida cruzou para a excelente movimentação de Rodrigo Ribeiro, a destruir linhas - e o jovem avançado do Sporting brilhou também no tempo de remate.
A capacidade de quebrar linhas foi também bem notória no segundo golo, no tal passe profundo de Diomande ao qual Ribeiro deu o melhor seguimento, recebendo e oferecendo o golo a Trincão, mal a 2.ª parte tinha arrancado. Tal como em outros jogos da pré-época, houve sofrimento no final, mas por questões físicas do que por desorganização: Nuno Santos saiu lesionado ainda na 1.ª parte, depois caíram St. Juste e por fim Eduardo Quaresma. Preocupações para Rúben Amorim, a pouco mais de uma semana da Supertaça.
Os reforços
Desta vez Kovacevic não comprometeu, até porque o Sevilla pouco apareceu no último terço, mesmo quando equilibrou o jogo, nomeadamente nos últimos minutos da 1.ª parte. O Sporting fechou quase sempre bem os caminhos para a baliza e nas poucas vezes em que o guarda-redes bósnio foi chamado a intervir fê-lo com segurança, em lances ainda assim simples. Não tem culpa no golo do Sevilla, num remate que ainda bate em Quaresma, mas não ficou nada satisfeito.
Os sinais dados nos primeiros 45 minutos são de que será pedido ao guardião que participe na primeira fase de construção do Sporting e aí Kovacevic arriscou, às vezes à queima, mas, de novo, sem comprometer.
Dificilmente podemos contar Rodrigo Ribeiro como reforço, mas em contando, está aqui um jogo para Rúben Amorim ver: um golo, uma assistência, decisivo no resultado. Diogo Travassos entrou para a lateral-esquerda, fechado bem a sua ala sempre que foi chamado e ainda dando trabalho ao seu opositor direto, Ramon Martínez, no ataque. De Miguel Alves e Samuel Justo muito pouco se viu, entraram já com o Sporting em desvantagem numérica e a tentar segurar a vitória.
Como começou
Kovacevic, Geny Catamo, Eduardo Quaresma, Diomande, St. Juste, Nuno Santos, Morita, Daniel Bragança, Pedro Gonçalves, Trincão e Rodrigo Ribeiro
Como acabou
Kovacevic, Morita, Miguel Alves, Esgaio, Diogo Travassos, Samuel Justo, Daniel Bragança, Pedro Gonçalves, Trincão e Rodrigo Ribeiro
O melhor
Numa exibição em que o Sporting já mostrou bons fundamentos coletivos, que se mantêm na equipa, e alguns jogadores já com níveis elevados de desempenho, não se pode olhar de lado para a exibição de Rodrigo Ribeiro, aposta de Rúben Amorim para a posição de avançado. O jovem de 19 anos, que no último ano foi emprestado ao Nottingham Forest, parece andar sempre num limbo apesar das esperanças nele depositadas e esta terça-feira mostrou grande capacidade de ligação com os colegas, faro na desmarcação, pormenores técnicos interessantes e algo que deve ter agradado e muito o seu treinador: a humildade de baixar para ajudar na organização defensiva.
Boas exibições também de Morita e Trincão, este mais na 2.ª parte depois de uns primeiros 45 minutos algo apagados. Pote parece já estar pronto para a nova época: fez jogar e podia ter marcado duas vezes na 2.ª parte.
A banda sonora
O Sporting bateu o Sevilla por 2-1, foi quase sempre superior aos espanhóis mas ainda assim Rúben Amorim não dormirá bem esta noite. Os problemas físicos de St. Juste, Eduardo Quaresma e, principalmente, Nuno Santos, que saiu com queixas no joelho direito, são a nota negativa do jogo, para lá da expulsão de Diomande e possível imbróglio que ela significa.
Ainda assim, perante as adversidades, o Sporting prevaleceu, e isso, pelo menos, poderá descansar o treinador do campeão nacional. Diz a maior estrela pop da atualidade numa recente canção que consegue ser produtiva mesmo quando as lágrimas lhe correm pela cara, “é uma arte”, e que alguém sabe que é bom quando consegue fazê-lo mesmo com o coração partido. Haverá outras coisas partidas ou doridas nos corpos dos jogadores do Sporting que não o coração, mas a equipa parece preparada para a defesa do título.