Fernando Madureira, antigo líder dos Super Dragões, foi condenado a três anos e nove meses de prisão efetiva, no âmbito do processo Operação Pretoriano. O Tribunal Criminal de São João Novo, no Porto, concluiu que existiu um «plano criminoso» destinado a «criar um clima de intimidação e medo» durante a AG de novembro de 2023, no Dragão Caixa, onde se verificaram confrontos e agressões a sócios. O objetivo, defendeu o coletivo de juízes, era assegurar a aprovação da proposta de alteração dos estatutos do clube, alinhada com os interesses da direção liderada por Jorge Nuno Pinto da Costa na época.

Devido ao papel de liderança desempenhado por Fernando Madureira, a sua sentença foi mais severa em comparação com os restantes arguidos. Além da pena de prisão efetiva, foi-lhe imposta a proibição de entrada em recintos desportivos durante dois anos.

Por seu turno, Sandra Madureira, esposa de Fernando Madureira, também foi julgada no âmbito do processo e condenada a dois anos e oito meses de prisão, com pena suspensa. Está ainda proibida de frequentar recintos desportivos por um período de seis meses.

Tem carisma e reconheço-lhe capacidade de liderança para gerir pessoas, mas as pessoas têm direito a ter opinião. Foram muitos anos de Pinto da Costa e sei que a mudança custa, mas o que aconteceu não pode acontecer. As pessoas têm de ter o direito a estar e a falar em liberdade. Já chocam as desavenças entre Benfica e FC Porto, mas aqui estamos a falar de pessoas da mesma camisola. Isto não pode acontecer

Juíza: «Foram muitos anos de Pinto da Costa...»

No final da leitura do acórdão, a juíza dirigiu-se a Fernando Madureira: «Dirijo-me a si porque foi a pessoa em torno da qual este processo se desencadeou. Sinceramente não sou nada do desporto, não quero saber de futebol e de claques. Reconheço-lhe características de líder. Foi uma pena e um tirar de tapete como acabou a sua liderança nos Super Dragões. Aquilo foi uma imposição de uma ditadura e o tempo de Salazar já foi há muito. É uma pena porque o desporto não pode ser isto. Tem carisma e reconheço-lhe capacidade de liderança para gerir pessoas, mas as pessoas têm direito a ter opinião. Foram muitos anos de Pinto da Costa e sei que a mudança custa, mas o que aconteceu não pode acontecer. As pessoas têm de ter o direito a estar e a falar em liberdade. Já chocam as desavenças entre Benfica e FC Porto, mas aqui estamos a falar de pessoas da mesma camisola. Isto não pode acontecer.»

Penas suspensas e duas absolvições

Dos arguidos neste processo, só Fernando Saúl, antigo speaker do Estádio do Dragão e ex-Oficial de Ligação aos Adeptos (OLA), e José Dias foram absolvidos de todos os crimes. Os restantes foram condenadas a penas suspensas. Vítor Catão, que estava em prisão domiciliária, viu ser-lhe retirada a pulseira eletrónica, mas a sanção também foi pesada: três anos e seis meses de prisão e a um ano e meio de interdição de entrada em recintos desportivos. Hugo Carneiro (conhecido por Polaco) foi condenado a dois anos e nove meses de prisão, com pena acessória de inibição de frequentar recintos por dois anos e meio. Vítor Aleixo recebeu uma pena de dois anos e dez meses de prisão, acompanhada de interdição de frequentar recintos por um ano e seis meses e o seu filho, Vítor Bruno foi sentenciado a três anos e três meses de prisão, com interdição de um ano e seis meses. Hugo Loureiro foi condenado a quatro anos e um mês de prisão, além de interdição de um ano e seis meses. José Pedro Pereira recebeu uma pena de dois anos e dez meses de prisão, com interdição de um ano e seis meses. Fábio Sousa foi sentenciado a dois anos e sete meses de prisão, acompanhado de interdição por um ano e seis meses. Carlos Nunes foi condenado a dois anos e dez meses de prisão, com interdição de frequentar recintos por um ano e meio.

Cristiana Carvalho, advogada de Fernando Saúl, congratulou-se com o desfecho do processo, apesar da surpresa de ver Fernando Madureira condenado: «Surpreendeu-me a não suspensão da pena de Fernando Madureira. Acho que não faz grande sentido, até porque houve arguidos com penas mais altas e foram suspensas. Não consigo compreender. Mas o que me interessa é o meu cliente. Estou muito feliz, acabou esta etapa», não antevendo recurso da decisão: «Espero que não, é tão óbvia a falta de prova em relação a ele… É a chamada chapada de luva branca para quem tanto apregoou que Saúl era o mentor de tudo isto.»

Fernando Saúl lamentou o «julgamento em praça pública», mas manifestou-se aliviado e satisfeito com a absolvição: «Foi devassada a minha vida toda durante dois anos e sempre disse, desde o primeiro dia, que não tinha nada a ver com isto. Acreditei sempre na justiça, também tenho de dar uma palavra à minha advogada que acreditou sempre em mim. É um alívio sair disto porque estive metido num circo que não existiu.»

As sentenças:

Fernando Madureira: três anos e nove meses de prisão efetiva e interdição de recintos desportivos por dois anos e seis meses

Vítor Catão: três anos e meio de prisão e um e meio de interdição de entrada em recintos desportivos. Proibido de entrar em recintos desportivos durante dois anos. Libertado após estar em prisão domiciliária

Sandra Madureira: dois anos e oito meses de prisão com pena suspensa e proibição de frequentar recintos desportivos, por um período de seis meses.

Hugo Carneiro: dois anos e nove meses de prisão e dois anos e meio de afastamento de recintos desportivos

Vítor Aleixo: dois anos e 10 meses de prisão e interdição em estádios durante 1 ano e 6 meses de entrar em recintos

Vítor Bruno: três anos e três meses de prisão e interdição de um ano e seis meses de entrar em recintos

Hugo Loureiro: quatro anos e um mês de prisão e interdição de um ano e seis meses de entrar em recintos

José Pedro Pereira: dois anos e 10 meses de prisão e interdição durante um ano e meio de entrar em recintos

Fábio Sousa: dois anos e sete meses de prisão e interdição por um ano e meio de entrar em recintos

Carlos Nunes: dois anos e 10 meses de prisão e um ano e meio de interdição de entrar em recintos

Fernando Saúl: absolvido de todos os crimes

José Dias: absolvido de todos os crimes