Muito se tem falado dos "grandes lucros" atingidos no semestre, mas a verdade é que os resultados das empresas cotadas no PSI 20, principal índice bolsista português, estão a anos-luz dos que atingiram os restantes índices europeus. "A variação homóloga do PSI foi de 9,5%, a qual não suporta o confronto com o benchmark europeu e fica muito aquém dos índices norte-americanos", diz mesmo a Maxyield, clube de pequenos acionistas, que nesta semana revelou um estudo comparativo do comportamento das cotadas a nível nacional e internacional. E mesmo no que respeita aos resultados semestrais anunciados, a associação clarifica que não houve pílulas douradas: "A rentabilidade comercial do universo empresarial PSI, medida pela relação EBITDA /Rendimentos , sofreu um aumento muito ligeiro, passando de 19,8% no primeiro semestre de 2023 para 20% em junho de 2024." Ainda assim, EDP, GALP, NOS, Altri e Semapa e Mota-Engil apresentaram taxas de crescimento dos lucros superiores a 20%, revela a Maxyield.
"Ao contrário da maioria dos índices europeus e norte-americanos, a forte quebra no mês de junho ainda não foi totalmente recuperada pelo PSI, que termina agosto ligeiramente acima do final do mês anterior, com um crescimento mensal de 0,7%", revela o clube de pequenos acionistas no mesmo documento, realçando que o índice português não acompanha o ritmo de crescimento anual dos europeus e norte-americanos, ficando-se por uma evolução anual de 5,7%.
Analisando os 12 meses até ao final de agosto, a Maxyield conclui que "as sociedades com maior crescimento homólogo envolvem o ranking BCP (61,6%), Galp (47,7%), Greenvolt (32,6%), CTT (31,9%), Navigator (9,4%) e a Altri (8,1%)". Em sentido contrário, as cinco sociedades com maior diminuição homóloga de valor são a Jerónimo Martins (-28,8%), a EDP Renováveis (-14,4%), a Corticeira Amorim (-11,3%), a EDP (-9,7%) e a REN (-6,2%), revela a instituição.
Evolução do PSI nos últimos 12 meses
"O BCP apresenta uma evolução robusta, sendo que o aumento do volume de transações provocou um crescimento significativo da sua importância relativa no PSI em torno de 14%, enquanto a Galp beneficia do nível de preço do crude e das condições de exploração na Namíbia, passando a representar 15% do PSI. Por outro lado, a Mota-Engil ocupa uma posição relevante a nível de crescimento homólogo das cotações do universo empresarial PSI, embora o seu desempenho bolsista em 2024 seja bastante modesto", interpreta o clube de pequenos acionistas. Quanto ao setor energético, realça que o universo EDP, EDP Renováveis, REN e Greenvolt, "que no seu conjunto representam 32,5% do PSI", está a perder importância na capitalização bolsista "e evidencia dificuldades resultantes da diminuição de preços à escala internacional, da manutenção das elevadas taxas de juro, graus elevados de endividamento e altos níveis de investimento".
Para a Maxyield, as papeleiras inverteram neste ano o comportamento depressivo de 2023, "influenciado por melhores condições de contexto empresarial", e os retalhistas J. Martins e Sonae, que juntas valem 16% do PSI, "apresentam agora um fraco desempenho bolsista, com comportamento diferenciado em prejuízo da primeira".
Observando em detalhe a evolução homóloga dos lucros do universo empresarial do PSI, no que respeita ao primeiro semestre deste ano, a Maxyield realça então os contributos de energéticas (EDP e Galp), papeleiras (Altri e Semapa) e da construtora Mota-Engil, todas a conseguir lucros acima de 20% dos resultados anteriores.
Também a NOS está nesse pacote, porém, alerta o clube, nesse lucro de 148,6 milhões inclui-se "uma forte componente não recorrente, de 52,8 milhões após impostos, envolvendo taxas de atividade resultantes de decisões judiciais contabilizadas no primeiro trimestre (22,2 M€) e mais-valias geradas pela venda de um portefólio de torres à Cellnex (30,6 milhões) no segundo. "Retirando o efeito dos lucros não recorrentes, a taxa de crescimento dos resultados líquidos passa de 84,6% para 19%."
Variação homóloga dos lucros de empresas do PSI
Quadro elaborado por Maxyield com base nos resultados trimestrais publicados na CMVM (em milhões de €)
Observando ainda como o universo EDP "contrariou a redução de preços no mercado internacional, com a recuperação do desempenho operacional potenciado por boas condições naturais para aumento da produção de energias renováveis" e ganhando com a rotação de ativos, bem como a "procura global mais favorável" que favoreceu a evolução das papeleiras, a Maxyield nota, em sentido contrário, que a JM sofreu os efeitos da "deflação alimentar e elevada inflação de custos na Polónia" e os CTT da "redução significativa da colocação de certificados de aforro, em consequência da forte quebra da sua atratividade com as alterações introduzidas em 2023 pelo governo".
"A evolução homóloga dos rendimentos obtidos no primeiro semestre de 2024 foi, assim, pequena e corresponde a um aumento de 4,8%, com o EBITDA a crescer 5,8% relativamente a igual período do ano anterior. Em consequência a rentabilidade comercial do universo empresarial PSI, medida pela relação EBITDA /Rendimentos , sofreu um aumento muito ligeiro, passando de 19,8% em junho de 2023 para 20% em junho de 2024."
Evolução homóloga da rentabilidade comercial do universo empresarial PSI
Quadro elaborado por Maxyield com base nos resultados trimestrais publicados na CMVM (em milhões de €)
A Maxyield nota ainda que três sociedades sofreram redução de rendimentos, BCP, EDP e Corticeira Amorim, devido à redução de preços nos mercados internacionais e níveis da procura, explicando a situação do BCP com o "efeito base associado a receitas não recorrentes, designadamente venda de 80% da Millennium Financial Services no 1ºT|2023".