Preservada pelas gentes de Lousa, freguesia de Castelo Branco, esta tradição tem a sua génese, de acordo com os registos mais antigos (Santa Maria: 1711), na praga de gafanhotos que assolou a localidade, por volta de 1640, ameaçando searas e colheitas. Segundo a lenda, a praga foi travada pela intervenção Nossa Senhora dos Altos Céus [...]

Preservada pelas gentes de Lousa, freguesia de Castelo Branco, esta tradição tem a sua génese, de acordo com os registos mais antigos (Santa Maria: 1711), na praga de gafanhotos que assolou a localidade, por volta de 1640, ameaçando searas e colheitas.
Segundo a lenda, a praga foi travada pela intervenção Nossa Senhora dos Altos Céus que, atendendo às muitas preces, intercedeu pelos seus devotos locais: “Todos os habitantes acorreram para verificar o fim da praga, exceto um casal, Timóteo e Micaela, e as suas oito filhas que ficaram a dançar de alegria no adro da igreja, como forma de agradecimento a Nossa Senhora” (Isabel Leal da Costa; Carla Queirós: 2014). Comprovado o fenómeno, todos se juntaram à dança.
A relação entre dança inebriante e as pragas e pandemias está largamente documentada no folclore europeu, desde a Idade Média, mas, sobretudo, de 1518 em diante, com a difusão dos relatos da “epidemia de dança de Estrasburgo”.
Esta imagética é tão poderosa e enraizada, que, ao longo dos tempos, muitos têm sido os artistas (Hans Holbein, Pieter Brueghel, Francisco de Goya, Jacques Callot, Nicolas Poussin, Edgar Degas, Henri Matisse, Paula Rego) a dar-lhe expressão e a reinterpretá-la, não dispensando, entre outras referências da cultura alegórica e visual, as danças macabras ou as danças da morte, bem como das danças da fertilidade, pagãs e da mitologia clássica.
As Danças de Lousa estão inscritas no Inventário Nacional do Património Imaterial, desde 2014 (N.º de inventário: INPCI_2014_001), constituindo a fonte das imagens apresentadas.
Outro aspeto curioso, fixado pela história oral e pela documentação, reside na data “redonda” de 1640. Terá o fim da praga de gafanhotos, alegoricamente, alguma relação com a restauração da independência?