
Bem dizia o meu camarada Paulo Raimundo no outro dia na AR: este programa do Governo cheira a troika. E acrescento eu: na saúde então, o ar já se tornou irrespirável, e está cada vez pior.
Enquanto a situação de escândalo nacional atinge níveis inauditos (com o INEM a não garantir todos os helicópteros para evacuação de emergência e a pedir ajuda à Força Aérea!), ao mesmo tempo o quotidiano insuportável para utentes e profissionais do Serviço Nacional de Saúde vai-se tornando uma espécie de banalização da desgraça.
Custa a acreditar, mas o inadmissível já se torna rotina, com os encerramentos de urgências nos hospitais da região e com as pessoas (principalmente grávidas e crianças) a serem despachadas para Lisboa, com bebés a nascer em ambulâncias. Mandam a gente telefonar, falam em “afluência às urgências”, como se o problema estivesse nos utentes e não no autêntico boicote a que o SNS está a ser sujeito por parte do Governo.
Na teoria, prioridade aos cuidados de saúde primários, promoção da saúde e prevenção da doença. Na prática, mais de um em cada quatro utentes no Distrito de Setúbal sem médico de família: mais de 248 mil na Península, a juntar aos quase 28 mil nos concelhos do Litoral Alentejano.
Nenhuma resposta para valorizar, atrair e reter os profissionais no serviço público, nem para reforçar o investimento e inverter a degradação, nem para evitar este saque de milhões do orçamento para alimentar o negócio dos interesses privados. A opção do Governo é mais desmantelamento e mais negócio: nas PPP vale tudo, e até os centros de saúde entram no “pacote” das ULS. Entretanto, prossegue a “reorganização dos serviços”, como sempre baseada em encerramentos sistemáticos.
O que é preciso é valorizar carreiras, salários, condições de trabalho aos profissionais de saúde. Criar uma rede de atendimento de proximidade nos cuidados de saúde primários. Construir finalmente o Hospital no Seixal e modernizar os hospitais da região. Acabar com o abandono da saúde mental.
Também por isso saímos à rua e erguemos a voz. Enchemos as ruas na grande marcha do PCP “Cumprir a Constituição. Aumentar salários e pensões, para uma vida melhor” dia 26 em Lisboa. A mudança vai construir-se na luta – e a luta continua.
Bruno Dias,
Membro do Comité Central e da Direcção da Organização Regional de Setúbal do PCP