Qual a prevalência da epistaxis?
Estima-se que mais de 60% da população sofra em alguma altura desta patologia, sendo que 6% destes procuram/necessitam de intervenção médica. É o principal motivo para recorrer ao Serviço de Urgência de Otorrinolaringologia.
Quem é mais afetado? Existe um perfil de doente?
Tem em termos epidemiológicos uma distribuição bimodal, e por isso, é mais frequente em idades jovens – dos 2 aos 10 anos – e idades mais avançadas – entre os 50 e os 80 anos. Os homens são mais afetados, o que parece estar relacionado com um efeito hormonal protetor do estrogénio nas mulheres e é mais frequente nos meses de inverno e em ambientes secos. A presença de doença cardiovascular, assim como doença vascular periférica e antecedentes de epistaxis, parecem ser fatores de risco relevantes. O papel da hipertensão arterial, assim como dos agentes anticoagulantes e antiagregantes plaquetários, continua a ser muito discutido, enquanto fatores de risco associados à epistaxis.
“Sem dúvida que uma epistaxis unilateral recorrente deve merecer uma referenciação célere à ORL para despiste de doença neoplásica, sobretudo se associada a obstrução nasal progressiva, alterações do olfato, dor e/ou alterações da audição”
Quais as causas associadas?
Enquanto na epistaxis primária, o mais frequente são episódios de causa idiopática (cerca de 85%), na epistaxis secundária existem múltiplas causas como trauma ou história de cirurgia nasal prévia, rinossinusite crónica e rinossinusite alérgica, coagulopatias, como doença de von Willebrand, teleangiectasia hemorrágica hereditária, doenças inflamatórias e do tecido conjuntivo como a granulomatose com poliangeíte, ou múltiplas neoplasias, como na infância o rabdomiossarcoma ou o angiofibroma juvenil.
De que forma deve o médico de família lidar com este problema de saúde? Exige referenciação a ORL nalgumas situações mais complexas?
Sem dúvida que uma epistaxis unilateral recorrente deve merecer uma referenciação célere à ORL para despiste de doença neoplásica, sobretudo se associada a obstrução nasal progressiva, alterações do olfato, dor e/ou alterações da audição. Além disso, uma história de epistaxis recorrente com repercussões a nível analítico deve ser obviamente também referenciada. De resto, educar os doentes e atuar de forma preventiva são medidas que terão com certeza um impacto positivo no tratamento desta patologia – explicar que em caso de hemorragia se deve encerrar e fazer pressão sobre as asas do nariz por pelo menos 10 minutos, inclinando a cabeça para a frente e tentando não deglutir sangue; aplicar gelo sobre o pescoço para promover uma certa vasoconstrição dos vasos do pescoço; avaliar a tensão arterial e, em caso de necessidade, tomar medicação de SOS; aplicar um spray vasoconstritor, com neo-sinefrina ou oximetazolina; depois do episódio ou em ambientes muito secos promover a aplicação de uma pomada que estimule a hidratação da mucosa nasal. Evitar assoar o nariz e espirrar com a boca aberta para evitar um aumento da pressão na cavidade nasal por 1 a 2 semanas podem também contribuir para uma cicatrização e com isso o encerramento do ponto hemorrágico de forma mais célere.
Aquando da referenciação, é importante que o doente leve algum exame que pode ser logo prescrito pelo médico de família?
Sim, se houver uma suspeita forte de neoplasia, uma TAC dos seios perinasais com certeza que nos ajuda a ser mais rápidos no diagnóstico diferencial e na decisão terapêutica. Ou se houver suspeita de alterações ao nível da coagulação, uma primeira avaliação analítica e talvez também um encaminhamento para uma consulta de Hematologia.
MJG
Mais informações sobre Epistaxis:
- EPOS: https://epos.myesr.org/poster/esr/ecr2020/C-05136/Background#poster
- Amboss: https://next.amboss.com/de/article/Hj0KbT?q=epistaxis#Z9c17724d497ff9c4b9cf7d32d 9e18775
- Risk factors for the occurrence of epistaxis: Prospective study, Côrte, Filipa et ali, Auris Nasus Larynx, 2018-06-01, Volume 45, Issue 3, Pages 471-475
- Cummings Otolaryngology: Head and Neck surgery, 6th edition, chapter 42, 658 – 690