O Mu não impressiona pelo tamanho — aliás, é precisamente o contrário. Trata-se de um modelo pequeno (com 330 milhões de parâmetros, o que é modesto no mundo da IA), mas surpreendentemente eficaz. A sua função é simples e, ao mesmo tempo, profundamente transformadora: permite controlar o computador com linguagem natural, sem ter de procurar menus ou configurações. Basta escrever ou dizer algo como “liga o modo escuro” ou “aumenta o tamanho do texto”, e o sistema responde.

Mas o verdadeiro ponto de viragem está nos bastidores. O Mu corre localmente, dentro do próprio computador — sem precisar da cloud, sem depender de ligações à internet, e com total respeito pela privacidade dos dados. Isto só é possível graças a uma nova geração de computadores, os chamados Copilot+ PCs, que incluem NPUs (unidades de processamento neural) capazes de lidar com este tipo de tarefas com rapidez e eficiência.

Do ponto de vista empresarial, esta mudança abre um leque de possibilidades. Equipas de IT poderão reduzir pedidos de suporte para tarefas básicas. Colaboradores terão uma experiência mais intuitiva. E os tempos de adaptação a novos sistemas poderão encurtar-se drasticamente. Em vez de manuais, temos linguagem. Em vez de cliques, temos comandos naturais.

Ao contrário dos grandes modelos de IA — treinados para escrever romances, criar código ou responder a questões filosóficas — o Mu foca-se em tarefas muito específicas e práticas. Foi treinado com milhões de exemplos relacionados com o sistema operativo Windows e responde de forma rápida e certeira, com latências abaixo de meio segundo. A IA deixa de ser uma “caixa mágica” e transforma-se numa ferramenta de produtividade concreta, silenciosa e útil.

E o melhor? Funciona mesmo quando o computador está offline.

Este avanço pode parecer técnico, mas tem implicações muito reais para as organizações. Desde logo, uma nova abordagem à arquitetura tecnológica. Com mais capacidade a correr no dispositivo, as empresas podem reduzir dependências da cloud, poupar largura de banda e melhorar a proteção de dados sensíveis.

Mas há também um lado mais humano nesta mudança. Ao trazer a inteligência artificial para mais perto do utilizador — de forma natural, sem fricção — estamos a falar de inclusão tecnológica real. Pessoas menos habituadas à linguagem digital tradicional passam a interagir com a máquina de forma mais acessível. A tecnologia deixa de ser um obstáculo e volta a ser um facilitador.

Por enquanto, o Mu está focado em controlar definições do sistema. Mas é fácil imaginar um futuro muito próximo onde esta abordagem se estenda a outras áreas — gerir reuniões, consultar relatórios, interagir com aplicações de negócio. Tudo com frases simples e diretas.

Para os líderes empresariais, o desafio agora é de antecipação:

  • Estamos preparados para este novo modelo de uso do computador?
  • Os nossos equipamentos são compatíveis?
  • Estamos a capacitar as equipas para interagir com IA de forma eficaz?

A verdade é que a próxima grande transformação digital pode não passar por novas aplicações ou plataformas complexas. Pode passar, isso sim, por dizer ao seu computador o que quer — e ver acontecer.