A dependência energética da União Europeia é um tema recorrente e de grande relevância no quadro internacional. A Reuters destaca que países como Espanha, França, Bélgica e Países Baixos continuam a importar grandes quantidades de Gás Natural Liquefeito da Rússia, o que explica a dificuldade da União Europeia em eliminar os últimos 20% das suas importações de energia russa, de acordo com dados da Bloomberg. Esta realidade coloca a União Europeia numa encruzilhada, em que a segurança energética é uma prioridade crucial. A cada vez maior disparidade entre o desempenho económico de Estados Unidos e Europa, destacada pela revista Business Insider, realça ainda mais a urgência em abordar esta questão.
A independência energética dos EUA, que é um exportador líquido de energia, impulsiona a sua economia. Ao mesmo tempo, a Europa permanece altamente deficitária e dependente de fontes externas.
A situação é ainda agravada pelo facto de a Índia se ter tornado o maior fornecedor de combustível refinado da Europa desde maio de 2023. A Índia importa 85% das necessidades internas de petróleo, sendo a Rússia o seu principal fornecedor. Isto levanta a questão de saber se o diesel indiano que chega à Europa é refinado a partir do petróleo russo. A intuição é suficiente para reconhecer que, direta ou indiretamente, o petróleo russo continua a abastecer o mercado europeu.
A União Europeia continuará a enfrentar desafios significativos, no seguimento do embargo aos produtos petrolíferos russos, especialmente ao gasóleo, uma vez que nunca foi autossuficiente nesta matéria. Até 2022, a UE dependia da Rússia para 50% do seu diesel.
A Associação Europeia para Armazenamento de Energia sublinhou recentemente aos líderes europeus que o reforço do armazenamento de energia pode ser determinante para a segurança energética do bloco europeu.
A este propósito, o quadro também não é auspicioso. A necessidade crescente de lítio para a fabricação de baterias de veículos elétricos e para o armazenamento de energia renovável coloca a Europa numa posição vulnerável, dependendo quase totalmente da China para 97% do seu fornecimento, de acordo com a Comissão Europeia.
É aqui que Portugal pode desempenhar um dos papéis centrais. A transição energética é vital para que a UE deixe de estar à mercê de blocos como BRICS ou OPEP+, e ainda dos jogos políticos dos EUA, como a recente decisão de Joe Biden de suspender a aprovação de novas licenças de exportação de GNL. Recorda-se que cerca de 50% do GNL que chega atualmente à UE é proveniente dos Estados Unidos. A concentração da tecnologia de produção solar fotovoltaica na China também é um problema. Já os recentes desafios enfrentados pela energia eólica, relacionados com dúvidas de rentabilidade face ao investimento, também apontam para a necessidade de diversificação das fontes de energia.
A Associação Europeia para Armazenamento de Energia sublinhou recentemente aos líderes europeus que o reforço do armazenamento de energia pode ser determinante para a segurança energética da UE.
Portugal, com os seus vastos recursos naturais – mar, vento e sol – tem o potencial para se especializar na produção e exportação de energia verde. No entanto, para alcançar este objetivo, é fundamental a interligação da rede elétrica ibérica com a rede elétrica europeia, prevista para o sudoeste francês, no Golfo da Biscaia. A resistência da França, motivada pelo lóbi da energia nuclear, tem sido um obstáculo intransponível. Os interesses nucleares franceses ambicionam abastecer a Europa com eletricidade produzida a partir das suas centrais nucleares. Por esta razão, vão evitando a todo o custo a concorrência da energia verde ibérica.
A superação deste desafio é crucial para o desenvolvimento de Portugal como exportador de energia elétrica produzida a partir de fontes renováveis.
A diplomacia e o apoio internacional podem ser determinantes. Portugal deve aproveitar os interesses externos instalados em Portugal. A Dinamarca e a Coreia do Sul são dois bons exemplos de apoios externos que podem ser uma vantagem em matéria de “pressão” diplomática. O país tem já garantido um investimento dinamarquês ao largo da Figueira da Foz, que resultará no maior parque eólico offshore em território nacional. Portugal também conta a presença da maior produtora de torres eólicas do mundo, a sul-coreana CS Wind, que opera em Aveiro e em Sever do Vouga.
Não sendo possível ultrapassar a barreira nuclear francesa, resta uma solução mais disruptiva, mas já apontada pelo Comissão Europeia: materializar as interligações energéticas da Península Ibérica com o resto da Europa através de Itália.
Portugal tem a oportunidade de se tornar um pilar estratégico na mitigação da vulnerabilidade energética da União Europeia. A aposta na energia verde e a integração plena na rede elétrica europeia são fundamentais para garantir a segurança energética do bloco e para alcançar uma economia de baixo carbono. O crescimento económico de Portugal também depende fortemente deste processo.