Lisboa tem 200 mil euros para valorizar os media e a cultura. O Programa Lisboa, Cultura e Media foi lançado no início de setembro, pretendendo ajudar a dinamizar um total de 20 projetos, metade focados em conteúdos jornalísticos e o resto destinado a projetos de conteúdos digitais, com os vencedores a receber 10 mil euros cada. Com as candidaturas a decorrer até ao final do dia 31 de outubro, Gonçalo Reis, administrador não executivo da Lisboa Cultura, que dá a cara pela iniciativa autárquica, conta ao SAPO como estão a correr e garante que o projeto terá continuidade, com melhorias.
"Não queremos subsidiar, não queremos escolher órgãos de comunicação social, não queremos ter meios preferidos, não queremos intervir em conteúdos editoriais, não queremos promover reportagens simpáticas ou fofinhas", vincou, na apresentação do programa, o gestor, adiantando que a ideia é encontrar novas vias de apoiar a produção jornalística e de conteúdos digitais, sendo as propostas por isso mesmo analisadas por um júri independente, composto por "personalidades de reconhecido mérito nas áreas dos Media, Jornalismo, Comunicação, Cultura, Indústrias Criativas", sem que haja envolvimento de representantes da Câmara Municipal de Lisboa.
Para já, com os vencedores a ser anunciados em janeiro e os prémios entregues em março, a maior curiosidade está em aventar da "amplitude e qualidade dos projetos de conteúdos no digital", confessa ao SAPO Gonçalo Reis.
Quando falta uma semana para o fim do prazo, como tem sido a receção ao Programa Lisboa, Cultura e Media? Que tipo de candidaturas têm chegado?
O programa tem gerado significativo interesse de jornalistas no ativo, jornalistas independentes, comunicadores digitais, produtores de conteúdos e académicos. Os indicadores que nos chegam é que há uma reação positiva do setor, na medida em que profissionais e pessoas ligadas aos media e aos conteúdos têm aqui uma oportunidade para apresentarem projetos que lhes façam sentido e em total liberdade, sem restrições ou orientações editoriais. Este é um espaço para projetos individuais e até experimentais.
O programa tem uma componente para jornalismo e outra para conteúdos digitais. Porquê separar se hoje tudo é digital?
Optámos por possibilitar candidaturas de projetos jornalísticos mas também na área de conteúdos digitais porque quisemos sinalizar a crescente importância do digital. Desta forma, podemos acolher peças em suportes não tradicionais e de forte impacto, como sejam podcasts, redes sociais, vídeo, novas plataformas... Há todo um mundo vibrante e heterogéneo nestas áreas e agentes inovadores que consideramos fundamental estimular. Estamos, naturalmente, muito curiosos com a amplitude e qualidade dos projetos de conteúdos no digital.
Essa diversificação também contou para a escolha dos membros do júri? Que critérios estiveram em causa?
Os membros do júri — Miguel Esteves Cardoso, Paula Moura Pinheiro, Pedro Boucherie Mendes e Rosália Amorim — são pessoas de cultura, que conhecem bem os media e o universo da comunicação. E sobretudo são pessoas visceralmente livres, que atuam com total autonomia, logo são a melhor garantia de isenção. Os projetos serão seguramente selecionados pelas qualidades específicas de cada um. Esse é um ponto base deste programa.
E sendo os objetivos do programa cumpridos, poderá ser reforçado e repetido?
Quando lançámos o programa, em setembro, assumimos o compromisso de realizar edições anuais. Acreditamos mesmo que só iniciativas recorrentes, estruturadas e consistentes terão impacto duradouro na área dos media. E é exatamente desse empenho contínuo que a indústria dos conteúdos necessita. Mas também temos claro que vamos retirar lições e sugestões desta primeira edição. A próxima edição vai acontecer já em 2025 e poderá incorporar evoluções e melhorias. Estamos abertos a escutar e a afinar o modelo para ter um impacto cada vez mais construtivo.
E como é que este programa se liga aos apoios anunciados pelo governo para o setor dos media? Não faria mais sentido ser apresentado um movimento integrado e único?
Acreditamos no papel central dos media para uma sociedade aberta e para uma cidade criativa como Lisboa. Por isso lançámos este programa a nível municipal. Como temos dito, esta é a nossa forma de apoiar a indústria dos conteúdos, entre outras. E acho positivo que o governo, a nível nacional, assim como fazem também fundações privadas e outras entidades da sociedade civil, lance as suas próprias iniciativas. As várias abordagens são válidas e creio que complementares. É bom que haja esta sensibilidade para estimular os media e é natural que cada instituição dê o seu contributo, cada um no seu registo. Vejo aspetos interessantes no somatório destas iniciativas.