A crescente sofisticação e frequência de ciberataques dirigidos a organismos públicos está a expor fragilidades críticas nas defesas digitais nacionais — e a gerar repercussões que extravasam os limites do setor público. De acordo com a Commvault, fornecedora global de soluções de ciberresiliência e recuperação de dados, as empresas enfrentam hoje riscos significativos não apenas como alvos diretos, mas também enquanto danos colaterais em ataques a infraestruturas e parceiros institucionais.

O alerta surge numa altura em que os Países Baixos se preparam para acolher, a Cimeira da NATO em Haia. A expectativa de que o evento possa ser alvo de ataques informáticos levou o Centro Nacional de Cibersegurança (NCSC) e o Digital Trust Centre (DTC) a emitir alertas de segurança digital. A proximidade do evento a ativos estratégicos como o porto de Roterdão e o aeroporto de Schiphol apenas reforça os receios.

“Não é possível evitar todos os ataques, mas é possível garantir uma recuperação rápida. Isso requer preparação, redundância e colaboração”, defende Darren Thomson, Field CTO da Commvault para a região EMEAI. A empresa considera que a rapidez na recuperação operacional após um incidente é hoje o verdadeiro diferenciador competitivo e uma exigência estratégica para qualquer organização.

Infraestruturas críticas sob pressão

O alerta da Commvault adquire maior relevância num contexto em que os impactos dos ciberataques podem estender-se rapidamente a setores como a saúde, energia, transportes e telecomunicações. O recente apagão elétrico na Península Ibérica, embora posteriormente desmentido como incidente de cibersegurança, expôs a vulnerabilidade das redes de infraestruturas críticas a ataques coordenados ou falhas sistémicas.

Entre as potenciais consequências estão interrupções em serviços hospitalares, falhas em sistemas de tratamento de água, colapsos no tráfego aéreo e ferroviário, e falhas nas comunicações de emergência. Para o setor empresarial, os riscos incluem a paralisação da produção, perda de dados estratégicos e rutura nas cadeias de abastecimento — com impacto económico direto.

Estudos da indústria apontam para um tempo médio de recuperação de 24 dias após um ataque cibernético bem-sucedido. “Durante uma crise, esse intervalo é excessivo. A capacidade de resposta deve ser quase imediata”, sublinha Thomson.

A resposta começa na preparação

A Commvault defende uma abordagem proativa à ciberresiliência, ancorada em princípios de redundância operacional, segmentação de sistemas e validação contínua de cópias de segurança. Entre as recomendações avançadas pela empresa incluem-se:

  • Planos de recuperação testados e acionáveis em cenários de falha total;
  • Monitorização contínua de backups para deteção precoce de sabotagem ou encriptação maliciosa;
  • Soluções de backup à prova de ransomware, incluindo versões em ar comprimido e armazenadas em salas limpas;
  • Segmentação de redes e sistemas, para conter o impacto de possíveis intrusões;
  • Formação contínua de colaboradores sobre vetores de ataque emergentes;
  • Simulações regulares de incidentes para testar a eficácia dos protocolos de resposta.

A ameaça crescente de ciberataques durante eventos de alto perfil como cimeiras internacionais ou eleições realça a dimensão geopolítica do ciberespaço. Nas palavras de Darren Thomson, “os cibercriminosos estão cada vez mais organizados, bem financiados e tecnologicamente evoluídos. Tratar a ciberresiliência como um problema técnico é um erro estratégico”.

A presença de múltiplos Estados-membros da NATO em Haia, num momento de elevada tensão internacional, acentua a necessidade de cooperação pública e privada no reforço das defesas digitais europeias. Para a Commvault, essa cooperação deverá assentar numa visão partilhada de risco — e num compromisso coletivo com a continuidade operacional, mesmo em cenários de ataque.